IMPLICAÇÕES DA COVID-19 NA DOENÇA DE PARKINSON

PERSPECTIVA DO SISTEMA PURINÉRGICO COMO ALVO TERAPÊUTICO NA NEURODEGENERAÇÃO

  • Julia Leao Batista Simoes Universidade Federal da Fronteira Sul
  • Geórgia de Carvalho Braga
  • Samantha Webler Eichler
  • Gilnei Bruno da Silva
  • Margarete Dulce Bagatini
Palavras-chave: COVID-19, Parkinson, Sistema purinérgico

Resumo

Introdução

 

A Doença de Parkinson (DP) é uma doença neurológica degenerativa com acometimento dos neurônios dopaminérgicos, embora sua fisiopatologia ainda seja uma incógnita. Seus sintomas são múltiplos e incluem alterações na coordenação não motora e motora, especialmente em idosos, e seu diagnóstico é clínico (BEITZ, 2014; CABREIRA; MASSANO, 2019). Dentre as poucas causas conhecidas para essa doença, sabe-se que o estresse oxidativo gerado pelo acúmulo de espécies reativas de oxigênio é capaz de desencadear essa condição (SUBRAMANIAM; CHESSELET, 2013). 

A partir da pandemia de COVID-19, os portadores da DP apresentaram piora em suas condições neurológicas, indicando uma influência desta infecção sobre a neurodegeneração instalada (ROSEN et al., 2021). Consoante a isso, o SARS-CoV-2 é capaz de induzir processos inflamatórios e estimular o estresse oxidativo, respostas prejudiciais às condições cerebrais dos pacientes com Parkinson (STEFANOU et al., 2022). Dessa forma, deve-se buscar modular as vias comuns entre a DP e a COVID-19, objetivando evitar o dano neurológico daqueles portadores da doença. 

Nesse sentido, o sistema purinérgico é visado na literatura pelo seu potencial terapêutico. A sinalização purinérgica, especialmente por meio da atividade do receptor P2X7, já foi vinculada a condições imunológicas e inflamatórias, como a resposta gerada pelo SARS-CoV-2, e a doenças neurodegenerativas, como a DP, representando uma conexão entre essas condições (BURNSTOCK, 2017; BEITZ, 2014; GLASER et al., 2020). Portanto, deve-se buscar compreender a relação entre a COVID-19 e a DP, bem como o efeito da modulação desse sistema, a fim de proteger o estado cerebral dos pacientes com Parkinson infectados pelo vírus.

 

Objetivos

 

Avaliar a relação do sistema purinérgico e sua modulação como possível terapia na fisiopatologia do Parkinson associada a infecção pelo SARS-CoV-2, indicando componentes desse sistema que podem interferir diretamente no prognóstico da doença

 

Metodologia

 

Foi realizada uma revisão integrativa da literatura por meio de buscas nas bases de dados PubMed e ScienceDirect utilizando, principalmente, os descritores “Parkinson” e “COVID-19” associados aos descritores “Purinergic signaling” e "ATP", utilizando o operador booleano “AND”.

 

Resultados e discussões

 

Há diversas descobertas importantes relacionadas às implicações da COVID-19 na DP, uma vez que a fisiopatologia da DP está intimamente associada à neuroinflamação, pois esta integra a cascata de eventos que levam à degeneração dos neurônios dopaminérgicos (HIRSCH; HUNOT, 2009). Diferentes distúrbios podem gerar esses fatores inflamatórios, os quais desencadeiam a morte neuronal, sendo válido explicitar: as disfunções de organelas celulares (WANG et al., 2022) e a formação de agregados insolúveis por mal dobramento proteico da alfa-sinucleína (α-syn) no terminal da célula pré-sináptica, formando os chamados “agregados de Lewis” (LIU; CHEN; CHANG, 2022). 

A COVID-19, por sua vez, é caracterizada pela liberação excessiva de marcadores pró-inflamatórios, chamados de tempestade de citocinas. Essa tempestade é capaz de desencadear condições neurodegenerativas ao afetar a barreira hematoencefálica (SWEENEY; SAGARE; ZLOKOVIC, 2018). Nesse contexto, em casos graves de infecção por SARS-CoV-2, o sistema imunológico pode ser comprometido, desencadeando uma hiperestimulação da resposta neuroimune, aumentando a inflamação neuronal, de modo a agravar a condição de um paciente acometido pela DP (ROSEN et al., 2021). 

Nessa conjuntura, a partir dos resultados obtidos, pode-se delimitar um possível alvo terapêutico para redução do processo inflamatório, o qual pode contribuir, positivamente, tanto para a COVID-19 quanto para a DP: a modulação purinérgica com foco no receptor P2X7. Esse receptor desempenha papel relevante no controle da entrada e da saída de moléculas das células, além de expressar proteínas envolvidas na morte celular. Discute-se, assim, que a modulação desse receptor possa ajudar a mitigar e lentificar a progressão dos efeitos da DP e melhorar a sintomatologia da COVID-19 (OLIVEIRA-GIACOMELLI et al., 2021; OLIVEIRA-GIACOMELLI et al., 2019)

 

Conclusão

 

Quadros severos da COVID-19 apresentam em sua fisiopatologia um estado hiperinflamatório e com estresse oxidativo associado, o qual acomete a malhar neural e pode agravar disfunções preexistentes, como na DP. Dessa forma, o presente trabalho analisou a modulação do sistema purinérgico visando seu potencial terapêutico para atenuação dos efeitos da infecção pelo SARS-CoV-2, bem como a neurodegeneração observada no Parkinson. Sendo assim, esse sistema é visado por apresentar um potencial anti-inflamatório e protetor contra os processos de degeneração neural, resultando em um modelo de terapia pautada na modulação do receptor P2X7 como uma terapia alternativa ou adjuvante.

Publicado
15-11-2023