POTENCIAL TERAPÊUTICO DO CANABIDIOL NA ABORDAGEM DE GLIOMAS
EXPLORANDO O SISTEMA ENDOCANABINOIDE
Resumo
RESUMO
Introdução: A complexidade do tecido que constitui o Sistema Nervoso é profundamente marcada pela presença de dois tipos celulares, os neurônios e as células da glia. Neste último grupo, emerge uma preocupação particular relacionada às neoplasias denominadas Gliomas, os quais representam o tipo de tumor intracraniano mais prevalente e agressivo do Sistema Nervoso Central (SNC). Caracterizados por apresentar uma taxa de sobrevivência média de apenas 15 meses após o diagnóstico, além de representarem aproximadamente 81% dos tumores malignos que afetam a região cerebral, os Gliomas se destacam por sua rápida disseminação e alta resistência aos tratamentos convencionais, como cirurgia, radioterapia e quimioterapia. Diante desses desafios, a pesquisa tem se voltado para novas abordagens terapêuticas, incluindo a exploração do sistema endocanabinoide (SEC). O SEC é um sistema de sinalização presente no corpo humano e em outros animais, composto por endocanabinoides, enzimas e receptores canabinoides, que desempenha um papel crucial na regulação fisiológica e tem mostrado potencial na terapia de Gliomas. Paralelamente, a Cannabis sativa, uma planta conhecida por seus usos medicinais milenares, despertou considerável interesse devido às suas potenciais propriedades antitumorais e capacidade de ativar o sistema endocanabinoide devido à presença de compostos químicos conhecidos como canabinoides, que são estruturalmente semelhantes aos endocanabinoides produzidos naturalmente pelo corpo humano. Nos últimos 50 anos, houve uma expansão no escopo de pesquisas em torno dessa planta, com foco particular no Canabidiol (CBD), um de seus constituintes. Um corpo substancial de evidências sustenta a ação antineoplásica, antiproliferativa, anti-imigração e pró-apoptótica do CBD. Objetivo: Visto a relevância do tema, o objetivo é apresentar o potencial terapêutico do CBD na abordagem de Gliomas, explorando o sistema endocanabinoide. Método: Foi realizada busca de artigos científicos publicados no período de 2010 a 2023 na plataforma PubMed utilizando descritores: Canabidiol, Cannabis e Glioma. Resultados: O sistema endocanabinoide pode influenciar o desenvolvimento e a progressão de Gliomas. Os receptores canabinoides, especialmente o CB1 e o CB2, estão presentes em células de Glioma e em células do sistema nervoso central, e a ativação desses receptores por endocanabinoides ou canabinoides exógenos demonstrou, em geral, uma ampla gama de mecanismos com potencial antitumoral. Isso ocorre por meio de diversos mecanismos, que inclui a regulação de vias de sinalização cruciais, como a ativação da via das proteínas-cinases ativadas por mitógenos (MAPK), inibição da proteína quinase A (PKA), aumento dos níveis de espécies reativas de oxigênio (ROS), inibição da proteína quinase B (Akt) e mTOR, com isso gerando um processo de autofagia e apoptose nas células cancerígenas, diminuindo sua proliferação e migração a tecidos não atingidos e diversas outras vias associadas a eventos apoptóticos. Estudos pré-clínicos sugerem que o CBD pode inibir a formação de novos vasos sanguíneos (angiogênese) nos tumores, dificultando o suprimento de nutrientes aos Gliomas. Além disso, o CBD pode potencialmente melhorar a eficácia dos tratamentos convencionais, como radioterapia e quimioterapia, minimizando os efeitos colaterais. Conclusões: As evidências sugerem que o sistema endocanabinoide desempenha um papel significativo na modulação do crescimento e disseminação dos Gliomas, envolvendo uma série de mecanismos antitumorais. Em particular, o CBD, um dos componentes da Cannabis sativa, tem demonstrado um potente papel angiogênico e melhora na eficácia dos tratamentos convencionais, enquanto minimiza os efeitos colaterais. Embora mais pesquisas clínicas sejam necessárias para traduzir esses achados promissores em tratamentos efetivos, a exploração do sistema endocanabinoide e do CBD abre novas perspectivas na busca por terapias mais eficazes e menos invasivas para os Gliomas, oferecendo esperança aos pacientes afetados por essa devastadora condição.