FUTEBOL, TORCIDA E DESEMPENHO: QUAIS OS SENTIDOS QUE O JOGADOR DE FUTEBOL PROFISSIONAL ATRIBUI À TORCIDA ORGANIZADA.

Resumo

Introdução: O futebol é um fenômeno relevante social e culturalmente, principalmente no Brasil. Esse esporte é produto resultante das transformações decorrentes da Revolução Industrial entre os séculos XVII e XIX e foi trazido ao Brasil como prática da aristocracia inglesa, mas principalmente na segunda metade do século XX tornou-se popular e acessível às classes trabalhadoras e também ocorreu a profissionalização dessa prática. Paralela a essa grande paixão nacional, que é o futebol, por volta de 1940, surgiram os agrupamentos de torcedores organizados. Com isso, há dois fenômenos sociais correlacionados, por um lado a profissionalização do jogador de futebol e por outro o advento das torcidas organizadas, que a todo o momento ocorrem trocas simbólicas, um influenciando ao outro dialeticamente.  Objetivos: A pesquisa teve como ponto central compreender a interação entre o jogador de futebol profissional e a torcida organizada. Buscou-se conhecer a partir do construcionismo, práticas discursivas e produção de sentidos, quais os discursos/sentidos que o jogador de futebol profissional atribui ao agrupamento de torcedores organizados e se esses influenciam no rendimento do jogador. Metodologia: A pesquisa contou com a revisão bibliográfica sobre o processo de profissionalização do futebol e também da estruturação das torcidas organizadas no Brasil. Realizou-se uma entrevista semiestruturada com três jogadores profissionais de futebol do Estado de São Paulo. Para a análise de dados, utilizou-se a ferramenta dos mapas dialógicos, que é um instrumento desenvolvido dentro da metodologia das práticas discursivas, com o objetivo de sistematizar a análise de dados nas pesquisas com práticas discursivas e produções de sentidos. Esse mapa é um instrumento de visualização que fornece subsídios no processo de interpretação, bem como facilita a comunicação dos passos subjacentes ao processo interpretativo. Nos mapas dialógicos, três categorias foram exploradas: sentidos, desempenho e estratégias.  Resultados: Os resultados elucidados pelos mapas dialógicos indicaram três eixos temáticos: sentidos, desempenho e estratégias. Por sentido, esses jogadores entendem que a torcida organizada pode ser tanto positiva quanto negativa. Apareceram discursos que apontam as práticas das torcidas organizadas à marginalidade. Quanto ao desempenho, os jogadores apontaram as torcidas organizadas tanto como um fator que pode motivar e elevar o rendimento, quanto intimidar e inibir o desempenho do jogador, caso ele se sinta ameaçado. Para lidar com as torcidas organizadas, observou-se que os jogadores adotam diferentes recursos. Nesse sentido, o estudo indicou que o repertório de estratégias dos entrevistados é limitado em relação às habilidades para lidar com os efeitos e pressões que possam surgir por parte das torcidas organizadas. Assim, o fenômeno das torcidas organizadas e suas interações com os jogadores é marcadamente dinâmica e possui variações entre os atletas, e a forma como o jogador interpreta essa torcida organizada, pode trazer influências, não apenas em sua prática, mas também na vida particular. Conclusões:   A partir do processo de análise, foi possível classificar os sentidos atribuídos pelos jogadores a respeito da torcida organizada em “positivos, negativos e “dois lados”. Dessa forma, pôde-se observar que, para os jogadores, as torcidas organizadas podem influenciar positivamente o atleta, deixando-o mais aguerrido em uma partida, ou quando incentivam os torcedores comuns na hora do jogo. Isso mostra a multiplicidade de sentidos e o dinamismo das relações estabelecidas entre os jogadores e torcedores organizados. Os jogadores consideram o protesto verbal por parte dos torcedores um direito que não influencia negativamente seu rendimento, contudo quando há fatores que ameaçam a integridade física do atleta, produziram discursos negativos em relação à organizada, indicando essa violência como um fator de forte influência no rendimento. A significação de torcida, nesse caso, foi associada à marginalidade. Para os jogadores, em decorrência da violência nos estádios, há uma diminuição do público, de forma que a torcida organizada é a responsável por esse decréscimo. Aqueles torcedores nomeados de comuns optam por assistir aos jogos em suas casas para não correr risco de morte nos estádios. A torcida organizada também foi significada como um instrumento político dentro do futebol, ou seja, ela pode ser usada, “manipulada” para que um determinado grupo ou pessoa consiga seus objetivos dentro do futebol, como a manutenção ou saída de um jogador do clube. No que diz respeito às estratégias para lidar com as torcidas organizadas, notou-se um repertório limitado por parte dos jogadores, principalmente os mais jovens, fato que pode estar relacionado à formação do atleta. Por fim, conclui-se que o fenômeno das torcidas organizadas e suas interações com os jogadores é marcadamente dinâmica e possui variações entre os atletas, e a forma como o jogador interpreta essa torcida organizada, pode trazer grandes influências, não apenas em sua prática, de forma a deixá-lo inseguro ou desconcentrado durante uma partida, mas também em sua vida particular, pois o jogador deixa de realizar atividades voltadas para o lazer que normalmente fariam como ir ao shopping ou ao cinema, caso sinta-se ameaçado pela torcida organizada.