O PARALELO ENTRE O ACESSO À INFORMAÇÃO E A DESINFORMAÇÃO: ANÁLISE DE UM ROMANCE DE IGNÁCIO DE LOYOLA BRANDÃO
Palavras-chave:
pós-modernidade, notícia, desinformaçãoResumo
O trabalho analisa o paralelo entre o acesso à informação e a disseminação de desinformação, usando como base o romance Desta terra nada vai sobrar, a não ser o vento que sopra sobre ela (2018) de Ignácio de Loyola Brandão. O estudo busca compreender como os personagens do romance acessam e consomem informações, quais são os veículos de disseminação e como isso molda a opinião pública, traçando um comparativo com a realidade contemporânea brasileira, marcada pela proliferação de fake news. A escolha do romance se deve tanto à relevância temática quanto à escassez de análises acadêmicas sobre a obra, além da sua pertinência para refletir sobre o atual cenário social e político do Brasil. A narrativa distópica de Brandão projeta um futuro no qual os problemas da sociedade contemporânea, como a desinformação, a impunidade e a alienação, são exacerbados. A história de Clara e Felipe, casal em processo de separação, se entrelaça com notícias catastróficas e sensacionalistas, refletindo um ambiente em que o verdadeiro e o falso se misturam, comprometendo a formação da opinião pública. A metodologia empregada foi a análise qualitativa de texto, com base em pesquisa bibliográfica sobre o romance, o gênero distópico, a temática das fake news e documentos oficiais, como o informe da ONU de 2023 sobre a propagação de desinformação e discurso de ódio. Foram selecionados capítulos da obra que exemplificam comportamentos sociais vinculados à disseminação de notícias falsas, analisando tanto a linguagem empregada quanto os efeitos provocados nas personagens e no ambiente retratado. O referencial teórico principal é Stuart Hall, cuja obra sobre identidade cultural na pós-modernidade permite compreender como os comportamentos sociais e a formação de identidade se relacionam com o consumo de informação. No romance, Brandão evidencia diversas formas de acesso à informação — redes sociais, televisores públicos, programas sensacionalistas —, sempre destacando a superficialidade e o impacto emocional das notícias, muitas vezes sem compromisso com a veracidade. O trabalho destaca que o autor não indica claramente a veracidade das notícias veiculadas no romance, o que gera um ambiente de dúvida semelhante ao vivido atualmente, onde a disseminação de fake news é facilitada pela ausência de verificação de fatos. A manipulação da opinião pública é ilustrada em exemplos como a descrição de obras públicas paralisadas, mascaradas por discursos oficiais otimistas, refletindo a capacidade das informações distorcidas de moldar percepções e decisões.