A Construção do Ethos Feminino no Conto de Fadas Cinderela.
Resumo
A delimitação temática do estudo trata da construção do ethos feminino no conto de fadas Cinderela, segundo a versão de Charles Perrault (2019[1697]), em cotejo com a película cinematográfica homônima, com direção e roteiro de Kay Cannon (2021). A reflexão tem perspectiva linguística de base dialógica, com foco na heterogeneidade constitutiva e marcada, que permite perceber as representações de gênero e de sexualidade, revozeadas pela tradição até a contemporaneidade. A pergunta que norteia a investigação questiona: em que medida as representações da personagem Cinderela constroem a sua imagem nos discursos da tradição à contemporaneidade? Como hipótese, pode-se pressupor que o perfil construído da personagem, na literatura, corrobora com a perpetuação dos papéis de gêneros atribuídos socialmente às mulheres. Dessa forma, supõe-se que Cinderela, como performance de gênero, desempenha os ideais de feminilidade, beleza e padrões comportamentais pré-determinados à mulher. Entretanto, presume-se que, na adaptação fílmica, a personagem, em certa medida, rompe com alguns ideais atribuídos pela tradição.
Nessa perspectiva, o objetivo geral da pesquisa é analisar o construto teórico dos estudos dialógicos da linguagem e dos estudos de gênero e de sexualidade, a fim de, a partir de uma análise contrastiva entre a narrativa tradicional e a contemporânea, compreender a construção do ethos do discurso na personagem Gata Borralheira/Cinderela, com base na heterogeneidade constitutiva e mostrada (marcada e não marcada) nas diferentes tramas. Justifica-se esse recorte em função de que se acredita necessário direcionar-se à literatura, compreendendo-a como um meio, também, de cristalização de discursos que se naturalizam e, por isso, passam a ser senso comum, sem imprimir indagações.