DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM DE LEITURA E ESCRITA:

A INCLUSÃO DE ALUNOS VENEZUELANOS EM UMA ESCOLA PÚBLICA ESTADUAL DE SANTA CATARINA

  • Stefani Weber de Lima UFFS
  • Franciele Kaufmann UFFS
  • Poliana Fatima de Oliveira Maciel UFFS
  • Alexandre Paulo Loro UFFS
Palavras-chave: aprendizagem, inclusão, imigração

Resumo

INTRODUÇÃO

Ao compartilhar histórias de êxitos e percalços, criamos conexões, inspiramos outros e promovemos um ambiente de aprendizado contínuo e recíproco, a partir da análise e reflexão sobre a experiência vivida. Nesta perspectiva, a importância dos relatos de experiências podem ser ferramentas valiosas em diversos aspectos da vida, pois desempenham um papel fundamental na jornada de aprendizado e desenvolvimento profissional docente. São narrativas que compartilhamos para transmitir lições e aprendizados que adquirimos ao longo do caminho formativo.

Ao considerar que os relatos de experiências apresentam subsídios para analisar a vivência ao fornecer oportunidades para observar e aprender com os outros, pretendemos por meio do presente trabalho relatar o conhecimento adquirido e produzido, enriquecendo não somente o nosso próprio entendimento, mas também o de nossos interlocutores - aqueles que nos ouvem e/ou leem.

Nossa escrita inicia a partir de diálogos desenvolvidos com professor coordenador e preceptoras, bem como pelas residentes do Programa Residência Pedagógica (RPR)[3], Curso de Pedagogia, da Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS) – Campus de Chapecó (SC). O núcleo em que estamos inseridas desenvolve atividades na Escola Estadual Professora Valesca Carmem Reschke Parizotto, localizada em Chapecó-SC. Durante as aulas, observamos que alguns alunos apresentavam dificuldades de aprendizagem –, 5 alunos ainda não alfabetizadas, sendo 4 deles venezuelanos. Frente a isto, analisamos os fatores causadores para que esses alunos ainda não estivessem alfabetizados. 

Após a pandemia de COVID-19 constatamos um considerável número de alunos analfabetos (alunos pandêmicos). Identificamos que alunos que deveriam ser alfabetizadas no 2º ano, com idades de 7 a 8 anos, estavam no final do 4º ano, com idades de 9 a 10 anos, sem saber ler e escrever (copistas). Parte deles, imigrantes venezuelanos com dificuldade na aprendizagem do novo idioma.

Ante ao exposto, questionamos como melhorar a aprendizagem de leitura e escrita desses alunos, bem como incluí-los nas atividades. A partir destas indagações temos como objetivo geral relatar uma experiência do PRP - Pedagogia - Chapecó desenvolvida na E.E.B. Profa. Valesca Carmem Reshck Parizotto, com ênfase nas dificuldades de aprendizagem (leitura e escrita), em uma turma do 4º Ano do Ensino Fundamental.

METODOLOGIA

 

        Desenvolvemos ao longo das nossas regências com a turma, uma metodologia ativa, com foco principal na participação, no envolvimento dos alunos no processo de aprendizagem na sala de aula. Segundo Cunha et al. (2022):

 

As metodologias ativas (MAs) tratam-se de um conjunto de alternativas pedagógicas que visam facilitar a aprendizagem dos estudantes e/ ou proporcionar uma educação crítica e problematizadora da realidade, a partir do redirecionamento do estudante para o centro do processo de construção de conhecimento (CUNHA et al., 2022, p. 02).

 

As metodologias ativas possibilitam novos “papéis” para professor e aluno. O professor, como mediador, valoriza e viabiliza ao aluno a apropriação de conhecimentos e experiências. Isto significa que o nosso trabalho priorizou a interação com os alunos a partir das atividades propostas, uma vez que “[...] as relações concretas de aprendizagem ocorrem quando se estabelecem relações de ensino significativas que devem ser compreendidas considerando as possibilidades de mediação, instaurada nas relações entre os sujeitos” (FREITAS, 2012, p. 12).

Nesse trabalho, de abordagem qualitativa, trazemos a singularidade dos alunos imigrantes venezuelanos. Durante as observações de campo percebemos que eles geralmente interagiam entre eles, não havendo muita afinidade com os alunos brasileiros. A comunicação ocorria em língua espanhola, com dificuldades em aprender a língua portuguesa.

Ante o exposto, mudamos o planejamento, na perspectiva de incluir a todos.        A turma possui 25 alunos, sendo que seis apresentavam dificuldades de escrita e leitura. Fizemos anotações em diário de campo e levantamos algumas hipóteses em conjunto com a professora regente/preceptora: o processo de alfabetização da turma ocorreu durante a pandemia de forma remota, o que pode ser um indício dessa dificuldade. A presença de alunos imigrantes, pouco familiarizados com a Língua Portuguesa.

No primeiro momento, realizamos as observações e o diagnóstico, posteriormente, levantamos as demandas. No início da prática da docência, inserimos no planejamento uma metodologia com vistas a contribuir no processo de adaptação e inclusão.

 

2 BREVES REFERENCIAIS TEÓRICOS

 

            O professor, como mediador de possibilidades com os seus alunos, poderá potencializar a aprendizagem, como também fragilizá-la. Diante da diversidade pluriétnica brasileira, urge a desconstrução e a desnaturalização de estereótipos, os quais acabam por excluir sujeitos, grupos e populações devido a esfera econômica, étnica, social, cultural, política, de gênero e sexualidade.

No contexto da diversidade, a educação brasileira é tímida quando o assunto é a construção de processos inclusivos. Para Mantoan (2003), as escolas ainda têm dificuldades em atender as diferenças sem discriminar, sem trabalhar à parte com alguns alunos, sem estabelecer regras específicas para se planejar / aprender / avaliar.

 

          Enfatizamos a importância de a sociedade acolher o desafio da inclusão escolar, reconhecendo que não é apenas uma questão de justiça e igualdade, mas também uma maneira de enriquecer a sociedade ao valorizar a diversidade e garantir que todos tenham a oportunidade de contribuir de maneira significativa. Cada aluno tem o direito de ser incluído em um ambiente educacional que atenda às suas necessidades específicas. Ou seja, a inclusão não se trata apenas de ter acesso a uma sala de aula comum; trata-se de garantir que todas os alunos tenham igualdade de oportunidades para aprender, desenvolver suas habilidades e interagir com os colegas.

Segundo o autor Barbosa (2018) "A inclusão escolar não é um favor, mas um direito de todas as crianças, independentemente de suas diferenças”. Aqui, destaca-se o objetivo principal da inclusão escolar, que é assegurar que todos os alunos, independentemente de suas habilidades, origens, deficiências, identidades de gênero, etnias ou outras características, tenham igualdade de acesso a oportunidades educacionais. Todos devem ter a chance de desenvolver seu potencial, aprender e participar plenamente da sociedade, sem discriminação.

Superar preconceitos e mudar estruturas educacionais são alguns dos desafios que persistem na implementação da inclusão escolar, além da falta de acesso, preparação metodológica inadequada dos professores e a resistência das escolas à diversidade (apesar da legislação favorável). Sobre este assunto, as autoras Ferreira e Guimarães (2008) destacam a necessidade de superar esses obstáculos para garantir que a inclusão seja efetiva e que todos os alunos tenham igualdade de oportunidades na educação.

 

Apesar da legislação em vários países, inclusive no Brasil, ser a favor da prática da inclusão, as escolas e a própria sociedade em geral continuam evidenciando a impossibilidade desta prática quer por questões de acesso, quer por não se sentirem preparadas no campo metodológico, ou ainda por não dispor de apoio pedagógico necessário, o fato é que as escolas regulares resistem à inclusão, como se dentro de seu quadro discente já não houvesse alunos com várias necessidades, como se a uniformidade estivesse presente na escola atual. (FERREIRA; GUIMARÃES, 2008, p. 02).

 

         Garantir que todos os alunos tenham a oportunidade de participar ativamente na educação, independentemente das diferenças, significa promover valores de justiça e respeito à diversidade desde a infância. Esse aspecto não beneficia apenas os alunos, proporcionando-lhes a chance de desenvolver seu potencial, mas também contribui com toda a sociedade. Especificamente, o contexto escolar poderá moldar uma cultura de aceitação e tolerância, que se estende para além das salas de aula, criando as bases para uma comunidade mais inclusiva, em que as diferenças são celebradas, com oportunidade de participar ativamente na vida social, econômica e cultural.

 

3 RESULTADOS E DISCUSSÕES

 

Constatamos as necessidades e o desejo expresso dos alunos imigrantes venezuelanos em preservar as suas origens e valores culturais. Era muito presente a memória afetiva adquirida no país de origem. Planejamos atividades para a turma que articulassem a língua portuguesa com a língua espanhola, gerando curiosidade e oportunidades diferenciadas de aprendizagem. Portanto iremos descrever uma atividade significativa, em que todos se sentiram incluídos.

No Componente Curricular de Ensino Religioso trabalhamos o tema valores. Realizamos o planejamento com o subtema respeito. Foi explanado um texto sobre a capacidade do sujeito entender o outro. Durante o desenvolvimento das atividades fizemos as seguintes indagações: “Você já parou para pensar por que o respeito é tão importante nas nossas relações com os outros”? Será que é possível construir uma sociedade harmoniosa sem o respeito mútuo?

A partir destas indagações ouvimos os alunos e identificamos os seus conhecimentos prévios sobre o assunto. Durante a realização do presente trabalho os estudantes venezuelanos foram se apropriando da realidade vivenciada, procurando solucioná-las. Ficou nítido que eles enfrentam muitas dificuldades para se inserirem no meio escolar. Muitos não compreendem a língua portuguesa e tem inúmeras dificuldades em se socializar com os demais estudantes brasileiros, com isso viram alvos de “brincadeiras e exclusão”. Eles, por vezes, também se isolam, como forma de proteção.

Em seguida, foi feito uma reflexão e todos tiveram a oportunidade de falar. Desenhamos no quadro escolar um coração que ocupava quase todo o espaço, e dentro deste desenho todos escrevem as palavras que eles determinaram em suas reflexões o que seria o respeito. Com essa intervenção, os alunos venezuelanos escreveram as palavras em português ou em espanhol (dois dos quatro alunos escreveram em espanhol), leram em voz alta e explicaram. Assim, eles aprenderam e ensinaram sobre o país. Eles nos ofereceram uma nova cultura, uma verdadeira troca –, ensinamos a eles e aprendemos com eles.

Outra atividade consistia em fazer a chamada de maneira lúdica. Combinamos o que seria uma chamada com os nomes de comidas que eles mais gostavam. Quando era pronunciado o nome, o aluno respondia com seu prato favorito, assim eles participaram, dizendo em espanhol e nos explicando em Língua Portuguesa o significado.

Podemos também mencionar os jogos de correspondência, em que os alunos associavam letras a objetos ou imagens, os quais começavam com o mesmo som da letra. Assim, elaboramos perguntas abertas para estimular a expressão oral. Apresentamos as letras do alfabeto, uma de cada vez, e os sons associados a cada letra. Os alunos que ainda não estavam alfabetizado foram inseridos através do seu entendimento nas atividades. Estes tinham a oportunidade de realizar as atividades de produção de texto através de desenhos e manifestações orais. Os alunos venezuelanos eram abordados em português e eles faziam adaptações em espanhol, traduzindo para o português.

Com essas proposições eles se sentiram mais incluídos. Entretanto, encontramos desafios, como: falta de tempo dos professores para auxiliarem individualmente os alunos, falta de ajuda especializada, necessidade de laudos e lacunas na formação contínua, portanto é fundamental repensar e reformular as políticas e medidas públicas relacionadas ao processo inclusão. Isso inclui a melhoria das condições de acompanhamento desses alunos no ambiente escolar, garantindo que tenham acesso a uma educação de qualidade e que sejam acolhidos de forma adequada.

 

CONCLUSÃO

 

A inclusão escolar visa garantir que todos os alunos, independentemente de suas diferenças, habilidades ou necessidades, tenham a oportunidade de participar de uma educação de qualidade. Um dos principais princípios da inclusão é o respeito à diversidade e a promoção da igualdade de oportunidades na educação. Nesse sentido, nossas propostas visaram incluir os alunos nas atividades e percebemos a importância que isso teve para a turma, auxiliando na inclusão dos alunos com dificuldades de aprendizagem do idioma, leitura e escrita.

Logo, podemos concluir que a inclusão escolar é fundamental para garantir que todos os alunos tenham acesso a uma educação completa, independentemente de suas diferenças, habilidades ou necessidades. O respeito à diversidade e a promoção da igualdade de oportunidades são os princípios fundamentais dessa inclusão. Nesse sentido, as propostas apresentadas visaram promover a diversidade dentro da escola, buscando integrar alunos com dificuldades de leitura e escrita e proporcionar-lhes experiências e vivências enriquecedoras.

A experiência no PRP ofereceu a oportunidade de vivenciar experiências referentes às dificuldades de aprendizagem que se encontram presente em sala de aula. Deste modo, trazendo resultados significativos para a educação através de práticas inclusivas, desenvolvimento de competências socioemocionais, promoção da inclusão e valorização da diversidade. Foi possível alcançar avanços notáveis no enfrentamento desses desafios educacionais, reconhecer as dificuldades de aprendizagem como parte do processo educativo e oferecer suporte adequado aos alunos. Em síntese, concluímos que durante o planejamento e à docência o retorno dos objetivos lançados pelas acadêmicas do PRP foi positivo.

 

 

REFERÊNCIAS

 

BARBOSA, M. O. Transtorno do espectro Autista em tempos de inclusão escolar: o foco nos profissionais da educação. Revista Educação Especial. Santa Maria, v. 31, n. 61, p. 299-310, abri-jun. de 2018.

 

CUNHA, M. B. da; OMACHI, N. A.; RITTER, O. M. S.; NASCIMENTO, J. E. do; MARQUES, G. de Q.; LIMA, F. O.  Metodologias ativas: em busca de uma caracterização e definição. SciELO Preprints, 2022.

 

FERREIRA, Maria Elisa Caputo; GUIMARÃES, Marly. Educação Inclusiva. Rio de Janeiro: DP&A, 2008.

 

FREITAS, A. P. Um estudo sobre as relações de ensino na educação inclusiva: indícios das possibilidades de desenvolvimento e aprendizagem. Rev. bras. educ. espec., v. 18, n. 3, p. 411-430, set. 2012.

 

MANTOAN, Maria Tereza Égler. Inclusão Escolar: o que é? por quê? Como fazer? São Paulo: Moderna, 2003.

Biografia do Autor

Stefani Weber de Lima, UFFS

Acadêmica do Curso de Pedagogia - Campus Chapecó; Bolsista do PRP.

Franciele Kaufmann, UFFS

Acadêmica do Curso de Pedagogia - Campus Chapecó; Bolsista do PRP.

Poliana Fatima de Oliveira Maciel, UFFS

Acadêmica do Curso de Pedagogia - Campus Chapecó; Bolsista do PRP.

Alexandre Paulo Loro, UFFS

Doutor em Educação Física.

Professor Associado na UFFS

Publicado
13-02-2024