Repercussões dos Determinantes Sociais em Saúde em Mulheres Imigrantes

Autores

  • Priscila Pavan Detoni Universidade Federal da Fronteira Sul - Campus Passo Fundo
  • Aran Silva Meira Universidade Federal da Fronteira Sul - Campus Passo Fundo
  • Camila Lemos Oliveira Universidade Federal da Fronteira Sul - Campus Passo Fundo
  • Kyara Borgheti Universidade Federal da Fronteira Sul - Campus Passo Fundo
  • Stéfanni Vargas Silveira Universidade Federal da Fronteira Sul - Campus Passo Fundo

Palavras-chave:

migrações, determinantes sociais em saúde, mulheres

Resumo

Introdução: As vulnerabilidades presentes nas condições do processo migratório interferem diretamente no processo saúde-doença das mulheres imigrantes. Esse cenário é agravado por fatores sociais e estruturais, como etnia, gênero, barreira linguística, dificuldades econômicas e limitações no acesso a direitos fundamentais. Objetivo: Compreender os determinantes sociais em saúde de mulheres imigrantes atendidas pela Atenção Básica no município de Marau/RS, à luz do Modelo dos Determinantes Sociais em Saúde de Dahlgren e Whitehead, analisado nos seus 30 anos de pesquisas (2021). Método: Trata-se de um estudo qualitativo, de caráter descritivo, vinculado ao projeto guarda-chuva “Mulheres Imigrantes na Atenção Básica em Saúde: Perspectiva da Saúde da Mulher”. A pesquisa foi realizada no município de Marau/RS, junto às Estratégias de Saúde da Família (ESF) Santa Rita e São José Operário. Participaram 23 mulheres imigrantes, sendo 21 venezuelanas e 2 haitianas, com idades entre 18 e 55 anos, entre maio de 2024 e julho de 2025, por meio de questionário sociodemográfico e entrevistas semiestruturadas. A análise dos dados foi conduzida com base na Análise Temática de Minayo (2014). O estudo atendeu aos preceitos éticos, com aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS), parecer nº 6.776.642. 
Resultados e Discussão: Nos países de origem (Venezuela e Haiti), as participantes relataram instabilidade política e econômica, insegurança alimentar, falta de insumos para saúde e dificuldade de acesso a serviços públicos, fatores que motivaram a migração em busca de melhores condições de vida.As mulheres apresentaram níveis diversos de escolaridade, desde o ensino fundamental incompleto até o ensino superior completo, além de curso técnico. Contudo, nenhuma delas conseguiu realizar a validação dos diplomas universitários e a  inserção em  no mercado de trabalho tem ocupado postos que os locais não querem. Elas estão inseridas em atividades laborais precarizadas e de baixa remuneração, com predominância de ocupações como auxiliar de limpeza, operadora de caixa, trabalhadoras em frigorífico, costureira, serviços gerais e trabalhos braçais. A renda familiar média situa-se entre um e dois salários mínimos. Ainda, elas relataram sobrecarga de trabalho, tendo em vista a conciliação entre atividades laborais, cuidados domésticos e com os(as) filhos(as), além da dificuldade em realizar atividades de autocuidado, como prática de atividade física e consumo adequado de água. As mulheres relataram satisfação com o acesso aos serviços de saúde oferecidos pelo Sistema Único de Saúde (SUS), especialmente no interior do Rio Grande do Sul, destacando o acolhimento e a gratuidade dos serviços e medicamentos. No entanto, foram relatadas dificuldades pontuais, como a demora na realização de procedimentos específicos, a exemplo da retirada do Implanon, método contraceptivo colocado no país de origem delas, além da xenofobia racializada de moradores locais. As participantes residem majoritariamente em moradias alugadas, acolhendo outros imigrantes recém chegados, relataram dificuldades no acesso a políticas públicas de moradia, especialmente em virtude da condição migratória. As dificuldades de comunicação estiveram presentes em diversos contextos do cotidiano, inclusive nos serviços de saúde, sendo um desafio tanto para os profissionais quanto para as mulheres imigrantes haitianas, especialmente. Considerações finais: Os determinantes sociais em saúde das mulheres imigrantes atendidas pela Atenção Básica em Marau/RS evidenciam vulnerabilidades associadas às condições de vida, trabalho, moradia, colorismo, raça e diferentes acessos aos serviços de saúde. O SUS cumpre papel na promoção da equidade em saúde, destacando-se a necessidade de fortalecimento de práticas sensíveis às especificidades culturais e sociais dessa população. Como ponto forte, o estudo contribui para o desenvolvimento de práticas em saúde com enfoque intercultural. Como limitação, destaca-se a dificuldade e adesão das mulheres haitianas ao estudo, uma vez que na equipe de pesquisa e dos serviços não tinham um tradutor de idiomas ou cultural para o criolo, enquanto tínhamos para o espanhol.

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Publicado

20-07-2025

Edição

Seção

ET 7 - Saúde dos Imigrantes