A extensão universitária como ferramenta formativa nos eixos transversais da formação médica: reflexões a partir da educação ambiental

Autores

  • Beatriz Moreira Martins UFFS
  • Ana Cristina Almeida Dias
  • Gildomar Leonel Wildner
  • Laísa Costa Ribeiro
  • Samara Gonçalves Pereira
  • Jane Kelly Oliveira Friestino
  • Rosane Paula Nierotka

Palavras-chave:

Formação Médica; Educação em Saúde Ambiental; Extensão Comunitária.

Resumo

Introdução: Nos últimos anos, a formação médica tem sido pauta recorrente em diversas discussões e políticas públicas no campo da saúde. Apesar dos avanços tecnológicos, curriculares e das transformações epidemiológicas e sociais que impactaram a educação médica nas últimas décadas, ainda persistem lacunas significativas para garantir uma formação integral e humanista. Transformar apenas metodologias de ensino e grades curriculares é insuficiente; é necessário inserir os estudantes em espaços de prática e reflexão que impactem diretamente seus mundos existenciais.  Nesse contexto, a extensão universitária surge como ferramenta potente, sendo compreendida como um processo interdisciplinar, educativo, cultural, científico e político, que favorece a interação transformadora entre universidade e sociedade (Rios; Caputo, 2019). A extensão universitária, segundo a Política Nacional de Extensão Universitária (2012) é “um processo interdisciplinar, educativo, cultural, científico e político que promove a interação transformadora entre Universidade e outros setores da sociedade’’. Possibilita a criação de cenários nos quais há interação entre diferentes sujeitos, de diversas origens e campos do saber. As Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN) de 2014 para o ensino médico preconizam,  inclusive, em seu artigo 26, a necessidade de desenvolver ações extensionistas, “O Curso de Graduação em Medicina terá projeto pedagógico [...] com vistas à formação integral e adequada do estudante, articulando ensino, pesquisa e extensão, esta última, especialmente por meio da assistência” (p. 12). Complementarmente, a Resolução nº 7, de 18 de dezembro de 2018, do Ministério da Educação, determina que no mínimo 10% da carga horária dos cursos de graduação seja composta por atividades de extensão, inseridas na matriz curricular dos cursos (Brasil, 2018).. A extensão universitária no curso de medicina também teve mudanças significativas por meio do Programa Mais Médicos para o Brasil (PMMB), lançado em 2013 pela Lei 12.871, em que aponta um escopo mais amplo em seus objetivos, dentre os quais se destacam o “III – aprimorar a formação médica no País e proporcionar maior experiência no campo de prática médica durante o processo de formação” e um olhar extensionista no objetivo  “IV – ampliar a inserção do médico em formação nas unidades de atendimento do SUS, desenvolvendo seu conhecimento sobre a realidade da saúde da população brasileira [...]” (Brasil, 2013). A extensão universitária médica ainda prevê a necessidade de o profissional médico se adaptar às realidades sociais, ambientais, sanitárias e culturais com que irá se deparar, saber utilizar o linguajar adequado à região, estar comprometido socialmente, adotar diferentes atitudes que consigam diminuir a  distância social em relação às famílias mais pobres, respeitar as vivências e conhecimentos populares, bem como, ações ambientais nas diferentes racionalidades de atenção à saúde (Rios; Caputo, 2019). Nesse cenário, este trabalho tem como objetivo refletir sobre como a extensão universitária pode fortalecer e operacionalizar os eixos transversais da formação médica, com ênfase na educação ambiental. Materiais e métodos: Trata-se de um estudo de abordagem qualitativa, do tipo ensaio reflexivo, fundamentado em análise crítica de documentos oficiais, como legislações, diretrizes curriculares e políticas públicas que regulamentam a formação médica e a extensão universitária no Brasil. Além disso, o trabalho dialoga com a literatura científica recente relacionada à formação médica, humanização do cuidado e práticas extensionistas. A análise foi desenvolvida a partir de uma perspectiva crítica e interpretativa, buscando evidenciar como a extensão universitária pode ser um instrumento pedagógico que fortalece os eixos transversais da formação médica, como a educação ambiental. Resultados e Discussão: As Diretrizes Curriculares Nacionais de 2014 indicam, entre os conteúdos fundamentais para o curso de Medicina, a abordagem de temas transversais que envolvam conhecimentos, vivências e reflexões sistematizadas como na educação ambiental (Brasil, 2014). No entanto, embora a presença desses temas esteja prevista, não há orientações claras sobre como sua abordagem deve ser efetivada nos currículos. A Lei nº 9.795/1999, que institui a Política Nacional de Educação Ambiental (PNEA), reconhece o direito universal à educação ambiental e estabelece que esta deve ser implementada em todos os níveis e modalidades de ensino, de forma articulada entre as esferas formal e não formal. Segunda a lei todos têm direito a educação ambiental e esta deve ser exercida de forma articulada em todos os níveis e modalidades de ensino (formal e não formal) (Usevicius et al., 2020). Segundo a PNEA, a educação ambiental deve promover a construção de valores, conhecimentos, habilidades e atitudes voltadas à conservação do meio ambiente e à melhoria da qualidade de vida. Ao correlacionar fatores como a qualidade da água, solo, ar, descarte inadequado de resíduos e poluição a impactos diretos na saúde humana, é possível estabelecer conexões entre os determinantes ambientais e o cuidado em saúde. Isso exige, portanto, uma formação médica atenta a esses aspectos e capacitada para intervir de maneira crítica e preventiva. A literatura destaca que ações como controle vetorial em áreas de risco, atividades educativas em saúde e educação ambiental e o acesso universal ao saneamento básico são fundamentais para a prevenção de doenças e promoção da saúde (Tondatto et al., 2020). Quando integradas à extensão universitária durante a formação médica, essas práticas contribuem para o desenvolvimento de uma atenção integral à saúde, voltada para além da clínica individual, sensível aos contextos socioambientais nos quais os indivíduos vivem. Ainda, desenvolver atividades de educação ambiental de forma preventiva é o modo mais assertivo para mudar a realidade de saúde das comunidades. Considerações finais: Diante dos desafios contemporâneos da formação médica, torna-se urgente reconhecer a extensão universitária como uma estratégia essencial para promover uma formação integral, crítica e comprometida com as realidades socioambientais do país. A inserção dos estudantes de medicina em cenários reais do SUS, por meio de ações extensionistas, possibilita não apenas o contato com a diversidade de contextos e determinantes sociais da saúde, mas também o desenvolvimento de uma consciência cidadã e ambiental, articulando teoria e prática de forma transformadora. Nesse sentido, reforça-se a necessidade de que os eixos transversais, como a educação ambiental, estejam presentes de forma mais estruturada e intencional nas Diretrizes Curriculares Nacionais, superando o caráter apenas prescritivo e oferecendo subsídios concretos para sua implementação nos currículos. Metodologias inovadoras no campo da extensão têm o potencial de ampliar o olhar dos futuros médicos para além da doença, promovendo o cuidado em saúde de forma integral, preventiva e sensível às condições de vida da população. Assim, é possível vislumbrar uma formação médica mais humana, comprometida com o bem-estar coletivo e com a sustentabilidade do ambiente em que se insere.

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Publicado

20-07-2025

Edição

Seção

ET 3 - Território, Ambiente e Saúde