Impactos das mudanças climáticas na saúde humana: uma análise documental

Autores

Palavras-chave:

Impactos; Mudanças Climáticas; Saúde Coletiva

Resumo

Introdução: As mudanças climáticas já não são apenas uma previsão futura, mas uma realidade com impactos diretos e amplamente documentados sobre os sistemas naturais e humanos. No campo da saúde pública, esses impactos têm se manifestado de maneira multicausal, afetando desde a segurança alimentar e hídrica até a saúde física e mental das populações. O Painel Intergovernamental sobre Alterações Climáticas (IPCC) destaca, em seus relatórios recentes, os efeitos substanciais já observados em escala global, com atenção especial à vulnerabilidade de certos grupos populacionais frente a estressores climáticos agudos e crônicos. A saúde humana aparece como uma das áreas mais afetadas, tanto por impactos adversos diretos quanto por consequências complexas e indiretas. A compreensão da tipologia desses efeitos — se adversos, ambivalentes ou sem avaliação da direção — e o grau de confiança atribuído à sua ligação com o clima são essenciais para nortear intervenções e políticas públicas eficazes. Objetivo: evidenciar os principais impactos das mudanças climáticas na saúde humana, com base nos relatórios do IPCC, considerando a categorização de risco a partir do tipo de impacto e o nível de confiança na atribuição à mudança do clima. Metodologia: este estudo consiste em uma análise documental interpretativa dos dados apresentados na seção “Impactos na saúde humana” dos relatórios do IPCC, com foco nos indicadores que sintetizam os efeitos observados em sistemas de saúde. Os dados foram categorizados em três grupos principais: impactos adversos; impactos adversos e positivos; e impactos sem avaliação definida da direção. Cada categoria foi associada a um nível de confiança (alta/muito alta, média ou baixa) atribuído pela literatura científica do IPCC. Os elementos analisados incluem saúde física, saúde mental, doenças infecciosas, segurança alimentar, deslocamento populacional e serviços de saúde. Resultados e Discussão: os resultados demonstram que os impactos adversos com alta ou muito alta confiança predominam na avaliação da saúde humana. Entre eles, destacam-se o aumento da incidência de doenças infecciosas, impulsionadas por mudanças na temperatura e nos ciclos de precipitação, e o agravamento das doenças respiratórias em decorrência da poluição e da fumaça de incêndios florestais. A desnutrição causada por perdas na produção agrícola e pecuária também é classificada como impacto adverso com alta confiança. A saúde mental aparece como área de preocupação crescente, com impactos reconhecidos como adversos e altamente confiáveis. O aumento de sintomas de ansiedade, estresse e depressão, associados a eventos extremos como enchentes e queimadas, afeta especialmente comunidades vulneráveis e populações deslocadas, o que reafirma a necessidade de integrar ações climáticas à saúde mental pública. Alguns impactos são classificados como adversos e positivos, com confiança média. É o caso da produtividade pesqueira, que pode ser beneficiada em determinadas regiões e prejudicada em outras. Esses efeitos ambivalentes ressaltam a necessidade de análises contextuais. Outro exemplo são os impactos na qualidade da água, cujos efeitos variam conforme o manejo hídrico local e a adaptação dos sistemas de abastecimento. Por fim, há impactos sem avaliação definida da direção, mas sua relação com o clima é reconhecida. Nessa categoria incluem-se efeitos sobre os ecossistemas terrestres, de água doce e oceânico. No entanto, isso não significa a ausência de impactos adversos, mas a situação incipiente de estudos científicos robustos que especifiquem estas informações. Considerações finais: os dados relatados pelo IPCC revelam que os impactos das mudanças climáticas na saúde humana são, em sua maioria, adversos e com alta confiança na atribuição à mudança do clima. Em menor grau, há também efeitos ambivalentes e outros ainda pouco compreendidos, cuja direção não foi avaliada globalmente. A predominância de impactos negativos com forte embasamento científico impõe a urgência de políticas públicas integradas que combinem ações de mitigação e adaptação com estratégias em saúde, saneamento, nutrição e bem-estar psicossocial.

Biografia do Autor

  • Rosa Isabel de Araujo Bordignon, Unochapecó

    Mestranda em Ciências da Saúde pela Universidade Comunitária da Região de Chapecó (UNOCHAPECÓ), com ênfase em Formação Profissional e Trabalho em Saúde. Membro do grupo de pesquisa Saúde e Ambiente (UNOCHAPECÓ). Pós-graduada (especialização) em Psicopatologia pela Universidade do Oeste de Santa Catarina (UNOESC). Bacharel em Psicologia pela Universidade do Oeste de Santa Catarina UNOESC. Possui experiência na área de Psicologia, com ênfase em Psicologia Hospitalar e Clínica. Psicóloga Perita inscrita no Tribunal de Justiça de Santa Catarina (TJSC). 

  • Ubirata Alegransi Bones , Unochapecó

    Doutorando em Ciências da Saúde - Unochapecó, com foco em bioprospecção de compostos isolados de plantas (fitoquímicos) com efeito antidepressivo. Mestre em Ciência e Tecnologia Ambiental, ênfase em estudos sobre resistência antimicrobiana e potencial antimicrobiano de fitoquímicos - Universidade Federal de Santa Maria - UFSM. Especialista em Epidemiologia e Microbiologia, concentrado na análise do comportamento de patógenos causadores de doenças de transmissão hídrica e alimentar - Faculdade Iguaçu - FI. Engenheiro Sanitarista e Ambiental, com foco em análises de parâmetros químicos, físicos, microbiológicos e substâncias emergentes em água para consumo humano e águas residuais - Universidade Federal de Santa Maria - UFSM. Segunda Graduação em andamento no curso de Farmácia - Unoesc. Membro do grupo de pesquisa Ambiente e Saúde - Unochapecó. Membro do grupo de pesquisa GAMRH - UFSM. Pesquisador na área Saúde e Ambiente. Experiência laboratorial em bioprospecção de produtos naturais, biotecnologia, microbiologia e práticas em biologia molecular. Docente nas áreas de Fisiologia, Saúde Coletiva e Epidemiologia.

  • Marcelo Augusto Kessler Machado , Unochapecó

    Mestrando do Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Ciências da Saúde, na Universidade Comunitária da Região de Chapecó (Unochapecó). Pós-graduado em Nutrição Renal e Nefrologia pela FAECH - MG (2023). Graduado em Nutrição pela Universidade Comunitária da Região de Chapecó (Unochapecó) 2020. Integrante do grupo de pesquisa Saúde e Ambiente pela Universidade Comunitária da Região de Chapecó (Unochapecó). Atuou como nutricionista Responsável Técnico (RT) na UTI Covid 6 vinculada ao Hospital Regional do Oeste (HRO) - 2021. Atualmente é nutricionista Responsável Técnico (RT) na Clinica Renal do Oeste (CRO). Experiência na área de Nutrição, atuando principalmente nos seguintes temas: Doenças crônicas com ênfase em Doença Renal Crônica - DRC, alimentação, estilo de vida, saúde e bem-estar.

  • Vanessa da Silva Corralo, Unochapecó

    Possui graduação em Farmácia pela Universidade de Cruz Alta (2000), mestrado (2002) e doutorado (2007) em Bioquímica Toxicológica (Ciências Biológicas) pela Universidade Federal de Santa Maria. Especialista em Aprendizagem Ativa e Inovação Acadêmica. Além disso, concluiu o Pós-Doutorado na Universidade Federal de Santa Maria. Atua como revisor de artigos da revista Toxicology In Vitro, Revista Andaluza de Medicina Del Deporte, Chemico-Biological Interactions, Acta Ambiental Catarinense e FisiSenectus. Tutora do Programa de Educação pelo trabalho para a Saúde- PET- Redes de Atenção à Saúde Indígena- 2013/2015. Docente da Área de Ciências da Saúde nas disciplinas de fisiologia e toxicologia e do Programa de Pós-Graduação Stricto sensu em Ciências da Saúde da Universidade Comunitária da Região de Chapecó - UNOCHAPECÓ. Atualmente está no cargo de Diretora de Pesquisa e Pós-Graduação Stricto sensu da Unochapecó. Atua na área de Saúde e Ambiente, com ênfase em Toxicologia e Farmacologia de xenobióticos, bem como na área de Envelhecimento Humano. 

  • Junir Antônio Lutinski, Unochapecó

    Graduado em Ciências Biológicas pela Universidade do Oeste de Santa Catarina (2002), Mestre em Ciências Ambientais pela Universidade Comunitária da Região Oeste de Santa Catarina (2007). Doutor em Biodiversidade Animal pela Universidade Federal de Santa Maria (2014) e Pós-Doutorado em Control de Vectores y Diagnóstico Molecular de Parásitos pela Universidad Miguel Hernández de Elche (UMH), España (2022). Atua como Biólogo na Secretaria da Saúde do município de Chapecó, SC na área de controle de de vetores. Professor do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde de Unochapecó. Professor visitante na Universidad Nacional de Misiones, Argentina. Pesquisador do grupo de pesquisa Ambiente e Saúde. 

  • Maria Assunta Busato, Unochapecó

    Pós-Doutorado na Área de Concentração Sociedade e Meio Ambiente, Programa Interdisciplinar em Ciências Humanas, Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Doutora em Biologia pela Universidade de Barcelona (UB), Barcelona, Espanha. Título convalidado pela UNICAMP (Universidade Estadual de Campinas). Master em Enfermidades Tropicais pela Universidade de Valência, Espanha. Graduada em Ciências pela Universidade de Passo Fundo. Graduada em Biologia pela Universidade de Passo Fundo. Atualmente é Docente Permanente do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde da Unochapecó (Mestrado e Doutorado) e atua na Linha de Pesquisa Saúde e Ambiente. Docente nas graduações de Medicina e Ciências Biológicas. É professora visitante do Programa de Pós-Graduação de Salud Pública y Enfermedades Transmisibles da UNaM - Argentina. Na Universidade Comunitária da Região de Chapecó - UNOCHAPECÓ - foi, coordenadora do curso de Ciências Biológicas; Diretora do Centro de Ciências da Saúde; Vice-Reitora de Ensino, Pesquisa e Extensão; Coordenadora da Comissão Própria de Avaliação; Coordenadora da Editora Argos; Diretora de Pesquisa e Pós-Graduação. Atua na área de Saúde e Meio Ambiente, com ênfase nos seguintes temas: Avaliação de Impactos na Saúde; Vulnerabilidades em saúde e ambiente; Vetores e agravos associados à saúde; Vigilância em Saúde Ambiental. 

  • Leticia de Lima Trindade, Unochapecó

    Possui Pós-doutorado em Enfermagem pela Universidade do Porto. Doutora em Enfermagem pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Mestre em Enfermagem pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e Graduação em Enfermagem pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Docente do Departamento de Enfermagem e do Programa de Pós-graduação em Enfermagem das Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC) e do Programa de Pós-graduação em Ciências da Saúde da Universidade Comunitária da Região de Chapecó (Unochapecó). Pesquisadora visitante da Escola Superior de Enfermagem do Porto - ESEP Porto-Portugal (2019-2022/2023-2026). Membro do Grupo de Pesquisa sobre Saúde e Trabalho (GESTRA/UDESC) e da Rede Internacional de Enfermagem em Saúde Ocupacional (RedenSO). Editora Associada TextoContexto e Frontiers. Membro da Associação para a Promoção de Ambientes de Prática de Enfermagem Positivos APAPEnf+. Bolsista Produtividade CNPQ- PQ2.

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Publicado

20-07-2025

Edição

Seção

ET 3 - Território, Ambiente e Saúde