Extensão universitária e promoção do cuidado: experiências de acadêmicos de medicina junto a grupos de idosas em Chapecó/SC
Palavras-chave:
Educação em Saúde, Envelhecimento, Relações Comunidade-Instituição, Estudantes de Medicina, Saúde da MulherResumo
Introdução: O envelhecimento populacional tem desafiado os sistemas de saúde a desenvolverem estratégias mais inclusivas e acessíveis, sobretudo no âmbito da Atenção Primária à Saúde (APS). No Brasil, o Sistema Único de Saúde (SUS) busca garantir o acesso universal e equânime, mas ainda enfrenta desigualdades marcadas por fatores sociais, econômicos e territoriais. Dentro desse cenário, práticas extensionistas em saúde se mostram fundamentais para a formação médica humanizada e a ampliação das redes de atenção, especialmente em populações vulneráveis como as mulheres idosas. O uso de metodologias participativas, como rodas de conversa e círculos de cultura, fortalece a articulação entre ensino e serviço, promovendo o empoderamento das usuárias e o desenvolvimento de habilidades interpessoais entre os estudantes. Além disso, essas atividades podem ter impacto direto na promoção da saúde mental das participantes, ao criarem espaços de escuta, acolhimento e pertencimento. Objetivo: Descrever a perspectiva dos estudantes sobre o desenvolvimento de ações educativas em saúde junto a grupos de mulheres idosas no município de Chapecó/SC, promovendo o diálogo intergeracional, o fortalecimento comunitário, o cuidado em saúde mental e o aprendizado prático dos estudantes de medicina. Metodologia: Trata-se de um relato de experiência, de natureza qualitativa e descritiva, realizado por acadêmicos de Medicina da Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS), no âmbito do Componente Curricular Saúde Coletiva V. A atividade extensionista foi desenvolvida em parceria com grupos de mulheres idosas residentes em bairros do município do oeste catarinense. As ações foram organizadas em seis encontros presenciais, entre os meses de agosto e outubro, com temáticas educativas selecionadas pelas próprias participantes. As estratégias adotadas incluíram rodas de conversa, dança circular, oficinas sobre alimentação e autocuidado, dinâmicas de grupo e produção de materiais educativos. Durante todo o processo, os estudantes participaram ativamente da mediação das atividades, do planejamento à execução, vivenciando o território, exercitando a escuta ativa e refletindo sobre a prática. Resultados e Discussão: Sob a perspectiva dos acadêmicos, a experiência proporcionou um processo de aprendizado que ultrapassou os conteúdos formais da graduação. O contato direto com a comunidade, especialmente com as mulheres idosas, revelou-se um espaço potente de trocas de saberes e vivências, promovendo o diálogo intergeracional e estimulando uma escuta mais empática e humanizada. Nesse sentido, a valorização dos saberes populares é entendida como um ponto central para o sucesso das ações educativas, o que desafiou concepções tecnicistas e possibilitou uma nova compreensão sobre o papel social da medicina. A vivência também ampliou o entendimento sobre o funcionamento das redes de atenção à saúde no território, assim como sobre os determinantes sociais do envelhecimento. As atividades propostas favoreceram um ambiente lúdico, participativo e acolhedor, que fortaleceu os vínculos comunitários e impactou positivamente tanto as participantes quanto os estudantes envolvidos. Nesse sentido, também entende-se a contribuição para a promoção da saúde mental das participantes ao passo que a ação proporcionou momentos de expressão emocional, convivência, valorização pessoal e autocuidado. Assim, os pontos de maior destaque levantados pelos estudantes foram: ganho de habilidades comunicativas, valorização do trabalho em equipe, planejamento de ações em saúde e adaptação às realidades locais - aspectos muitas vezes negligenciados na formação tradicional. Considerações finais: A experiência extensionista permitiu aos estudantes vivenciar na prática os princípios do SUS, especialmente no que tange à integralidade, equidade e participação social. O contato com as comunidades revelou a importância de ações que respeitem o contexto local e os saberes das populações, reforçando o papel transformador da extensão universitária na formação médica. Além disso, destaca-se a relevância dessas práticas para o cuidado em saúde mental das mulheres idosas, ao promover bem-estar, vínculos sociais e autocuidado. Como principais aprendizados, os acadêmicos apontaram o desenvolvimento da escuta sensível, da empatia, da criatividade nas abordagens educativas e da compreensão ampliada do cuidado. Por outro lado, indicaram como desafios: a gestão do tempo, a heterogeneidade dos grupos e a necessidade de maior articulação com os serviços de saúde locais. Ainda assim, a vivência foi considerada extremamente enriquecedora, apontando para a necessidade de que práticas como essa sejam valorizadas e institucionalizadas como parte integrante e indissociável da formação em saúde.