Ecologia de saberes na produção de ações de saúde: relatos de práticas de ensino interprofissional
Palavras-chave:
Saúde coletiva; Geografia; Ensino; Aprendizagem ativa.Resumo
Introdução: O presente resumo apresenta um relato de experiência vivenciada no curso de medicina da Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS), Campus Chapecó, relacionados à ecologia de saberes na produção de ações de saúde. Essa vivência, construída a partir do Componente Curricular Regular (CCR) de Geografia da Saúde, ofertado como disciplina optativa para os cursos de Geografia e Medicina, buscou integrar diferentes formas de conhecimento e cuidado em saúde. O CCR privilegia metodologias ativas de ensino-aprendizagem, valorizando o protagonismo dos estudantes, suas experiências e expectativas, com foco na formação crítica e ampliada em saúde. Durante o componente, ofertado na segunda metade do ano de 2024, foram realizadas leituras que tratavam da temática das benzedeiras. A partir disso, foi observado debate ativo a respeito das diferenças entre as alternativas frente à percepção ocidental dos cuidados em saúde. Objetivo: Promover reflexões críticas sobre as práticas populares de cuidado em saúde a partir da vivência acadêmica com um benzedor tradicional, no contexto do CCR de Geografia da Saúde. Metodologia: Trata-se de um relato de experiência com abordagem qualitativa, realizado no segundo semestre de 2024 como parte do CCR, que se deu no Campus da UFFS de Chapecó. Participaram da experiência 12 estudantes de graduação dos cursos de Geografia e Medicina, além do docente responsável pela disciplina. Inicialmente, foram realizadas em sala de aula, leituras e debates sobre a temática das benzedeiras. O interesse gerado no tema culminou em uma viagem de estudos à cidade de São Miguel das Missões-RS, onde o grupo foi acolhido em sua residência por um benzedor de 93 anos. Durante o encontro, o benzedor compartilhou sua trajetória de vida e suas experiências com práticas tradicionais de cuidado. Por se tratar de uma atividade pedagógica sem coleta sistemática de dados e sem a intenção de pesquisa envolvendo sujeitos, não se aplicam exigências de submissão ao Comitê de Ética em Pesquisa, conforme a legislação vigente. Resultados e Discussão: A vivência permitiu aos estudantes conhecer de forma direta uma prática tradicional de cuidado em saúde, por meio do encontro com o benzedor em São Miguel das Missões. O relato de sua trajetória e seus benzimentos possibilitou aos estudantes relacionar a teoria vista em sala com a prática, contribuindo para reflexões sobre formas alternativas de cuidados, para aquém do modelo biomédico de cuidado. A atividade também favoreceu a construção de percepções mais amplas sobre o papel das práticas populares na atenção à saúde, gerando impacto pessoal e profissional nos estudantes, especialmente no que diz respeito ao respeito à diversidade de saberes e à valorização do cuidado culturalmente situado. Muitos relataram mudanças na forma como compreendem a atuação em saúde, reconhecendo a importância de integrar diferentes saberes e de exercitar a escuta sensível. No âmbito pessoal, os estudantes relataram o fortalecimento da sensibilidade cultural e o reconhecimento da importância do acolhimento das práticas tradicionais de cuidado. Em termos acadêmicos, a experiência estimulou uma visão crítica sobre a formação universitária em saúde, evidenciando a necessidade de integrar saberes diversos nos currículos. Na esfera profissional, a experiência contribuiu para consolidar uma postura mais humanizada, incentivando a atuação ética e comprometida com a integralidade do cuidado, respeitando as diversas formas de expressão do processo de saúde e doença. O caráter interprofissional da atividade também permitiu ainda o diálogo com outras áreas do conhecimento e uma melhor contextualização dos aspectos culturais que compõem a fronteira Sul, estimulando reflexões críticas sobre o cuidado em saúde e a formação de profissionais mais sensíveis às singularidades dos territórios. As discussões realizadas após a visita reforçaram a compreensão de que práticas populares não devem ser vistas como concorrentes ao saber biomédico, mas como formas complementares de cuidado, ampliando as possibilidades de atenção integral à saúde. Considerações finais: A experiência evidenciou a relevância de inserir práticas culturais e saberes populares na formação em saúde, contribuindo para um olhar ampliado em saúde. O contato com o benzedor despertou reflexões sobre o papel cultural, da espiritualidade e das práticas tradicionais no processo de cuidar, proporcionando aos estudantes uma compreensão mais abrangente das diversas formas de lidar com a saúde. Essas experiências favorecem a construção de uma formação mais humanista e crítica.