Saúde, imigração e trabalho: como as condições de trabalho no país de acolhimento podem afetar a saúde dos imigrantes internacionais?
Palavras-chave:
Imigrantes, Saúde do trabalhador, Saúde mental, VulnerabilidadeResumo
Introdução: a categoria trabalho apresenta forte relação com a imigração, uma vez que, muitos indivíduos rumam para além das fronteiras de seus países nativos imbuídos pela busca de melhores condições laborais e de vida. Mesmo os imigrantes forçados a deixar seus países em razão de perseguições, guerras, violações de direitos humanos, entre outros, encontram na categoria trabalho um importante fator de promoção da integração no país de destino, uma vez que a inserção no mercado de trabalho permite o acesso a melhores condições de vida tanto para o próprio imigrante como para a sua família. Ao longo do tempo, a imigração foi tida como um importante componente de acumulação do capital, contribuindo para o desenvolvimento econômico dos países de destino. Ocorre, porém, que diante deste cenário, no país de acolhimento os imigrantes, especialmente aqueles provenientes de países pobres, tendem a se inserir em empregos em sua maioria subalternos e precários, ocupando vagas recusadas pelos nativos, incorrendo em riscos a sua saúde física e psíquica. Objetivo: analisar como a saúde dos imigrantes internacionais pode ser afetada pelas condições laborais em que estão submetidos nos países de acolhimento. Metodologia: trata-se de uma Revisão Integrativa (RI), a qual apoiou-se nas etapas definidas por Mendes, Silveira e Galvão. Realizaram-se buscas na Biblioteca Virtual de Saúde (BVS), na Lilacs e no PubMed. Foram incluídos artigos científicos provenientes de estudos primários, publicados entre 2015 e 2024, nos idiomas português, inglês e espanhol e que responderam a seguinte pergunta de pesquisa: como a saúde dos imigrantes internacionais pode ser afetada pelas condições laborais a que estão submetidos? Foram excluídos artigos duplicados e que não possuíam resumo disponível. A partir da busca nas bases de dados foram localizados 3.918 estudos, os quais foram exportados para o programa Rayyan. Após a leitura dos títulos e resumos, restaram 149 estudos, os quais foram acessados e lidos na integra. Foram incluídos 57 estudos. Resultados e discussão: a maior parte dos estudos foi realizada em países norte-americanos (n=36), seguidos pelos países do continente europeu (n=14). Dentre os países norte-americanos, os Estados Unidos da América foram responsáveis por 29 estudos, enquanto na Europa, a Espanha apresentou seis estudos. A maior parte dos estudos (n=34) utilizou uma abordagem quantitativa e versou sobre os imigrantes latino-americanos (n=32). A quase totalidade dos estudos (n=42) indicou que os empregos ocupados pelos imigrantes são subalternos, e se concentram especialmente na construção civil, em fazendas de produção agrícola e de animais, em indústrias em geral e nas agroindústrias de carnes e no caso das mulheres nos cargos de faxineiras, empregadas domésticas e cuidadoras. A existência de imigrantes em condição de desemprego e trabalho informal também foi mencionada. Mesmo os imigrantes qualificados profissionalmente e que apresentavam ensino superior, ocupavam vagas de trabalho pouca qualificadas. Durante a pandemia de Covid-19 os imigrantes ficaram expostos ao vírus, uma vez que, parcela significativa estava empregado em serviços considerados essenciais. As mulheres e os imigrantes indocumentados eram suscetíveis a ocupar espaços de trabalho precários. Os espaços de trabalho ocupados pelos imigrantes, apresentavam condições marcadas por jornadas de trabalho longas e exaustivas (n=15), ausência de treinamento para o cargo ou em segurança do trabalho (n=9), riscos físicos (n=9) e químicos (n=7), pressão por produtividade (n=7), carência de Equipamentos de Proteção Individual (n=7), discriminação, preconceito e assédio moral por parte dos empregadores (n=5), assédio sexual (n=4) e movimentos repetitivos e desgastantes (n=4). Estas condições interferiam na saúde dos imigrantes, de maneira a desencadear doenças, lesões, acidentes e sintomas diversos. Os problemas relacionados a saúde mental foram os mais citados (n=30), seguidos pelos problemas musculoesqueléticos (n=29), lesões diversas decorrentes de acidentes de trabalho (n=19) e problemas respiratórios e pulmonares (n=9). Sintomas inespecíficos como dores de cabeça, náuseas, fadiga e cansaço físico também foram citados. Considerações finais: os imigrantes abordados pelos estudos em sua maioria eram provenientes de países pobres os quais imigraram para países desenvolvidos, em que tiveram a sua força de trabalho explorada em empregos que ofereceram riscos para a sua saúde. Na relação entre saúde, imigração e trabalho, verifica-se que os países de acolhimento e as suas economias tendem a ser beneficiadas em detrimento da saúde da população imigrante. Estes resultados podem orientar políticas públicas para qualificar o acolhimento e a integração dos imigrantes internacionais.