PARÂMETROS LABORATORIAIS NA TERAPIA HORMONAL DE AFIRMAÇÃO: UMA REVISÃO DE LITERATURA

Autores

  • Raphaella Machado Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)
  • Patrícia Haas Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS)
  • Otavio Ananias Pereira da Silva Ribeiro
  • Luis Guilherme Chavarski Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS)
  • Solange Lúcia Blatt Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)

Palavras-chave:

Pessoas Transgênero, Terapia de reposição hormonal, Valores de referência

Resumo

Introdução: O aumento da demanda assistencial de pessoas transgênero em terapia hormonal de afirmação (THA) exige parâmetros laboratoriais adaptados para monitorar eficácia e segurança do tratamento. Entretanto, intervalos de referência convencionais, baseados em populações cisgênero, podem gerar interpretações imprecisas para essa população. Objetivos: Analisar as evidências disponíveis sobre alterações hematológicas, bioquímicas e hormonais em indivíduos transgênero ou com diversidade de gênero submetidos à THA. Metodologia: Realizou-se uma revisão integrativa da literatura, seguindo etapas de busca, triagem e extração de dados em bases de dados para o período de 2012-2023. Os descritores combinaram termos relativos a “transgender”, “laboratory test” e “reference range”, com filtros para texto completo, humanos e idiomas português, inglês ou espanhol. A síntese qualitativa baseou-se em dupla leitura independente e consenso e análises descritivas. Resultados e Discussão: Quatorze estudos originais preencheram os critérios de inclusão e compuseram o corpus final. Os estudos identificaram queda significativa de hemoglobina, hematócrito e eritrócitos em terapias feminizantes, e elevação desses parâmetros em terapias masculinizantes, com estabilização após 3-6 meses. A creatinina sérica diminuiu em designados homens ao nascer em uso de estradiol, mas aumentou progressivamente em designados mulheres ao nascer em uso de testosterona, impactando o cálculo da taxa de filtração glomerular. Perfis lipídicos mostraram redução de HDL-C e manutenção de LDL-C, triglicerídeos e colesterol total dentro de faixas convencionais, indicando possível incremento de risco cardiovascular sobretudo em terapias masculinizantes. Enzimas hepáticas oscilaram em direção aos intervalos do gênero afirmado, podendo mascarar hepatopatias quando laboratórios aplicam faixas fixas por sexo de nascimento. Esses achados reforçam a necessidade de intervalos de referência específicos ou de uso do intervalo correspondente ao gênero afirmado, excetuando exames dependentes de órgãos sexuais. Conclusões/Considerações Finais: Evidências apontam que a THA modifica parâmetros laboratoriais de forma previsível, aproximando-os dos intervalos do gênero afirmado. A interpretação clínica deve considerar tempo de exposição hormonal, dose e fármacos adjuvantes, sob pena de subestimar ou superestimar riscos. Adoção de intervalos de referência validados para pessoas trans e seu uso criterioso são recomendados.

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Publicado

30-05-2025