O AÇAÍ E A GARAPA
A TRANSMISSÃO EMERGENTE DA DOENÇA DE CHAGAS
Resumo
Introdução: O Trypanosoma cruzi é um protozoário, parasita do sangue e tecido de pessoas e animais. Dentre suas formas de transmissão podemos destacar a via vetorial e oral. Normalmente, a fase aguda é assintomática, entretanto sua apresentação mais comum é a crônica, a qual após 20 a 40 anos da infecção original, poderá evoluir para várias formas clínicas. O difícil diagnóstico precoce da forma aguda é um desafio para a saúde pública, que deve lidar também com futuros portadores crônicos, que sobrecarregam o sistema de saúde. No Brasil, estes portadores já abrangem de 2 a 3 milhões. O contexto de urbanização brasileiro somado às ações sistematizadas provocou uma expressiva redução da presença dos barbeiros nas cidades. No entanto, percebe-se que a doença apresenta surtos regionais por transmissão oral. As principais suspeitas de fontes de alimentos contaminados são o açaí e caldo de cana, amplamente consumidos como bebida no Brasil, mas essa relevante via de transmissão é subestimada, sendo urgente seu estudo. Objetivos: Destacar as transmissões alternativas da Doença de Chagas relacionadas ao consumo e manuseio de cana-de-açúcar e açaí. Enunciar como essas novas formas estão prevalecendo mais do que a transmissão clássica, impactando diretamente no controle e ampliação de casos novos no país. Metodologia: Revisão sistemática do tipo descritiva, embasada na correlação dos artigos científicos presentes nas plataformas PubMed e SciELO, acompanhada da interpretação entre os mesmos, permitindo a classificação em termos de evidência científica (grau de recomendação A, B ou C). A seleção ocorreu no período compreendido de 1990 a 2020. Os idiomas selecionados entre os artigos foram: inglês ou português. Resultados e Discussão: A Doenças de Chagas possui um importante destaque relacionado ao alto custo social, especialmente diante da população agrícola. O protozoário Trypanosoma cruzi estava presente apenas em meio silvestre, circulando entre os mamíferos presentes, através do inseto vetor; mas o avanço da urbanização, este começou também a circular entre a população humana. Esta transmissão vetorial, através do barbeiro Triatoma brasiliensis, vem diminuindo ao longo dos anos no Brasil. Entretanto, uma via alternativa está tomando conta do cenário epidemiológico desta infecção: a transmissão oral através do consumo e manejo do açaí e cana-de-açúcar. Nas localidades mais rurais da região, não há utilização de proteções eficazes contra a presença de insetos nas plantações, tornando viável a prevalência dos triatomíneos infectados. Concomitantemente à interrupção da transmissão vetorial, a oral vem progressivamente ocupando este lugar vago: através do consumo principalmente de cana, açaí e outros alimentos que são produzidos in natura, especialmente sem nenhum processo de pasteurização, provocando quadros clínicos idênticos aos dos outros tipos de transmissão. Conclusão: É necessário aumentar o investimento em pesquisas sobre essa via de transmissão, tomando um enfoque maior no modo como estes alimentos são produzidos e entregues à população. A maior divulgação de informação para estes produtores e para os moradores presentes nestas áreas agrícolas deve ser de amplo espectro, visando tornar mais evidente esta forma de transmissão que cada vez mais vem tomando o cenário epidemiológico brasileiro da Doença de Chagas