O AÇAÍ E A GARAPA

A TRANSMISSÃO EMERGENTE DA DOENÇA DE CHAGAS

  • Marco Aurélio Ferreira Farnezi Universidade de Mogi das Cruzes
  • Nina Caetano Bocanegra Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo
  • Victoria Linhares Maia Santana Universidade de Mogi das Cruzes
Palavras-chave: Doença de Chagas, Transmissão, Cana-de-açúcar, Açaí, Infectologia

Resumo

Introdução: O Trypanosoma cruzi é um protozoário, parasita do sangue e tecido de pessoas e animais. Dentre suas formas de transmissão podemos destacar a via vetorial e oral. Normalmente, a fase aguda é assintomática, entretanto sua apresentação mais comum é a crônica, a qual após 20 a 40 anos da infecção original, poderá evoluir para várias formas clínicas. O difícil diagnóstico precoce da forma aguda é um desafio para a saúde pública, que deve lidar também com futuros portadores crônicos, que sobrecarregam o sistema de saúde. No Brasil, estes portadores já abrangem de 2 a 3 milhões. O contexto de urbanização brasileiro somado às ações sistematizadas provocou uma expressiva redução da presença dos barbeiros nas cidades. No entanto, percebe-se que a doença apresenta surtos regionais por transmissão oral. As principais suspeitas de fontes de alimentos contaminados são o açaí e caldo de cana, amplamente consumidos como bebida no Brasil, mas essa relevante via de transmissão é subestimada, sendo urgente seu estudo. Objetivos: Destacar as transmissões alternativas da Doença de Chagas relacionadas ao consumo e manuseio de cana-de-açúcar e açaí. Enunciar como essas novas formas estão prevalecendo mais do que a transmissão clássica, impactando diretamente no controle e ampliação de casos novos no país. Metodologia: Revisão sistemática do tipo descritiva, embasada na correlação dos artigos científicos presentes nas plataformas PubMed e SciELO, acompanhada da interpretação entre os mesmos, permitindo a classificação em termos de evidência científica (grau de recomendação A, B ou C). A seleção ocorreu no período compreendido de 1990 a 2020. Os idiomas selecionados entre os artigos foram: inglês ou português. Resultados e Discussão: A Doenças de Chagas possui um importante destaque relacionado ao alto custo social, especialmente diante da população agrícola. O protozoário Trypanosoma cruzi estava presente apenas em meio silvestre, circulando entre os mamíferos presentes, através do inseto vetor; mas o avanço da urbanização, este começou também a circular entre a população humana. Esta transmissão vetorial, através do barbeiro Triatoma brasiliensis, vem diminuindo ao longo dos anos no Brasil. Entretanto, uma via alternativa está tomando conta do cenário epidemiológico desta infecção: a transmissão oral através do consumo e manejo do açaí e cana-de-açúcar. Nas localidades mais rurais da região, não há utilização de proteções eficazes contra a presença de insetos nas plantações, tornando viável a prevalência dos triatomíneos infectados. Concomitantemente à interrupção da transmissão vetorial, a oral vem progressivamente ocupando este lugar vago: através do consumo principalmente de cana, açaí e outros alimentos que são produzidos in natura, especialmente sem nenhum processo de pasteurização, provocando quadros clínicos idênticos aos dos outros tipos de transmissão. Conclusão: É necessário aumentar o investimento em pesquisas sobre essa via de transmissão, tomando um enfoque maior no modo como estes alimentos são produzidos e entregues à população. A maior divulgação de informação para estes produtores e para os moradores presentes nestas áreas agrícolas deve ser de amplo espectro, visando tornar mais evidente esta forma de transmissão que cada vez mais vem tomando o cenário epidemiológico brasileiro da Doença de Chagas

Biografia do Autor

Nina Caetano Bocanegra, Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo

Graduanda do curso de Medicina da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo. Pesquisadora no projeto em andamento "Efeitos Sistêmicos em usuários ativos de crack: Perfil clínico e epidemiológico". Presidente da International Federation of Medical Students' Association da Santa Casa.

Publicado
23-03-2021