UMA UMA TRANSMISSÃO DESCONHECIDA

A Relação da Hanseníase com o Consumo de Carne de Tatu

  • Bianca Cadore Morás Universidade Comunitária da Região de Chapecó (UNOCHAPECÓ)
  • Marco Aurélio Ferreira Farnezi Universidade de Mogi das Cruzes (UMC)
  • Vanessa Gheno Universidade Comunitária da Região de Chapecó (UNOCHAPECÓ)
Palavras-chave: Hanseníase, Doenças Transmissíveis, Produtos da Carne, Dermatologia, Infectologia

Resumo

Introdução: A hanseníase é uma doença infectocontagiosa de evolução crônica causada pelo bacilo gram-positivo Mycobacterium leprae, manifestando-se com acometimento dos nervos periféricos e da pele. Uma das vias de transmissão é através do consumo da carne de tatu, especialmente os da espécie Dasypus novemcinctus. Embora os casos de hanseníase tenham diminuído em vários países endêmicos, no Brasil a taxa anual de casos novos tem se mantido constante nos últimos 5 anos, e muitos dos pacientes acometidos relatam a ingestão deste tipo de carne. Objetivos: Ressaltar a transmissão da hanseníase relacionada ao consumo da carne de tatu por ser uma forma relativamente desconhecida de disseminação da doença, haja vista que o Brasil é o segundo país com mais casos de hanseníase no mundo atualmente. Metodologia: Revisão sistemática do tipo descritiva, embasada na interpretação de artigos científicos presentes nas plataformas PubMed e SciELO e livros da área, o que permite a classificação em termos de evidência científica (grau de recomendação A, B ou C). A seleção ocorreu no período compreendido de 2008 e 2021. Os idiomas selecionados entre os artigos foram: inglês ou português. Resultados e Discussão: As principais áreas endêmicas da hanseníase no Brasil se localizam nas regiões Centro-Oeste e Norte, locais onde a caça de tatu é comum. As formas mais conhecidas de transmissão da doença estão relacionadas a fatores socioculturais e da saúde rural da população: através do contato interpessoal prolongado por meio de secreções respiratórias e por meio da quebra da integridade da pele e mucosas. Entretanto, a via relacionada ao consumo de carne de tatu contaminada com bacilos ou pela disseminação destes no meio ambiente, tem provocado um maior número de casos novos. Esta infecção possui uma evolução insidiosa, com período de incubação de 2 a 5 anos, apresentando as formas crônicas paucibacilar e multibacilar intercaladas com estados reacionais, fenômenos agudos chamados reações hansênicas. A variabilidade da sintomatologia neurológica e cutânea depende da resposta imunológica do hospedeiro. Não são comuns manifestações clínicas da doença nos tatus, entretanto, foram encontrados bacilos nas vísceras de 62% dos animais.  Além disso, os tatus podem abrigar patógenos de outras doenças, como os fungos Coccidioides sp. causadores de coccidioidomicose pulmonar, que conta com 90% dos casos associados ao contato com esses animais. Mais do que isso, outras espécies de tatus, além da D. novemcinctus, não foram analisadas e estão presentes no território brasileiro, podendo também desempenhar o papel de hospedeiro para o M. leprae e de outras doenças. Recentemente, a pandemia de SARS-CoV-2 tem sido relacionada à criação e consumo da carne de animais silvestres em mercados úmidos. Conclusão: É necessário um maior investimento em estudos que abordem essa forma de transmissão, enfatizando esta relação da doença com a caça e consumo de tatus selvagens no Brasil, especialmente em localidades endêmicas. Esforços para a prevenção da doença em relação a conscientização sobre o comércio ilegal desses animais, considerado crime ambiental, são fundamentais para a erradicação da hanseníase e outras zoonoses no Brasil.

Biografia do Autor

Bianca Cadore Morás, Universidade Comunitária da Região de Chapecó (UNOCHAPECÓ)

Graduanda do curso de Medicina pela Universidade Comunitária da Região de Chapecó (UNOCHAPECÓ). Coordenadora do projeto Rural Health Success Stories da Rural Seeds. 1º lugar no Concurso "SBMFC em Defesa do SUS", com o vídeo "SUS, presente!".

Marco Aurélio Ferreira Farnezi, Universidade de Mogi das Cruzes (UMC)

Graduando do curso de Medicina pela Universidade de Mogi das Cruzes (UMC). Coordenador do Projeto Vídeos Rurais da Rural Seeds. Pesquisador nos projetos "Os Benefícios da Atuação Interdisciplinar no Manejo à COVID-19: Uma Revisão de Literatura" e "A Saúde Mental no Contexto de Pandemia pelo Vírus SARS-CoV-2: Uma Revisão de Literatura" no Programa Voluntário de Iniciação Científica 2021 da Universidade de Mogi das Cruzes. 1º lugar no Concurso "SBMFC em Defesa do SUS", com o vídeo "SUS, presente!".

Vanessa Gheno, Universidade Comunitária da Região de Chapecó (UNOCHAPECÓ)

Possui graduação em Medicina pela Universidade Comunitária da Região de Chapecó - UNOCHAPECÓ (2011) e Residência Médica em Dermatologia pela Universidade Estadual de Londrina - UEL (2017). Atualmente, é médica dermatologista em consultório privado. Professora do Curso de Medicina da UNOCHAPECÓ (disciplina: DERMATOLOGIA). Tem experiência na área de Dermatologia Clínica, Cirúrgica e Estética. Título de Especialista em Dermatologia pela Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD) e Associação Médica Brasileira (AMB) - 2017. Associada Titular da Sociedade Brasileira de Cirurgia Dermatológica e do Grupo Brasileiro de Melanoma (GBM).

Publicado
25-03-2021