DOENÇA REUMÁTICA CRÔNICA DO CORAÇÃO

uma análise epidemiológica transversal de 10 anos

  • Isabella Martins Vieira Dias Universidade Federal da Fronteira Sul
  • Millena Daher Medeiros Lima Universidade Federal da Fronteira Sul
  • Karlla Rackell Fialho Cunha Universidade Federal da Fronteira Sul
  • Leonardo da Veiga Universidade Federal da Fronteira Sul
  • Talia Cássia Boff Universidade Federal da Fronteira Sul
  • Thais Nascimento Helou Médica Cardiologista, Universidade Federal da Fronteira Sul
Palavras-chave: Febre Reumática Aguda, Doença Reumática Cardíaca, Epidemiologia, Morbidade

Resumo

Introdução: A febre reumática aguda (FRA) é uma complicação de infecção prévia da mucosa, geralmente faringoamigdalite, causada por estreptococos beta-hemolítico do grupo A (S. pyogenes). A doença acomete principalmente crianças e adultos jovens e é associada a condições de vida precárias e à pobreza. A patogênese da FRA associa-se à perda da autotolerância imunológica e reatividade cruzada com tecidos do hospedeiro; sendo a cardite, inflamação dos tecidos cardíacos, uma das principais complicações em longo prazo. Essa condição, por fim, pode acarretar na doença reumática cardíaca (DRC), sequela grave da FRA. Objetivos: Analisar o perfil epidemiológico das internações por DRC no Brasil no período de dez anos. Metodologia: Realizou-se uma revisão de literatura nas bases de dados PubMed e Scielo e  uma coleta observacional, descritiva e transversal dos dados de DRC no DATASUS - Sistema de Informações Hospitalares do SUS (SIH/SUS) no período de janeiro de 2011 a dezembro de 2020. As análises basearam-se nas Autorizações de Internações Hospitalares (AIH) aprovadas, segundo Região, considerando as seguintes variáveis: sexo, cor/raça e faixa etária. Ademais, levantou-se o número de internações, gastos públicos, taxa de mortalidade e número de óbitos, comparando-se entre as regiões. Resultados e Discussão: O total de AIH aprovadas associadas à DRC no período considerado foi de 77.464, com a região Sudeste detendo a maior parcela dessas internações (≅41,04%). Dentre os casos reportados, a maioria, 27.178 registros (≅35,08%), representam indivíduos considerados de cor/raça branca. Todavia, havia predomínio de internações de pardos nas regiões Norte (≅60,70%), Centro-Oeste (≅47,61%) e Nordeste (≅36,37%). Ainda, o sexo feminino correspondeu a 44.436 das AIH contabilizadas (≅57,36%). A faixa etária de 50 a  59 anos apresentou a maior concentração de hospitalizações (≅21,49%); ressalta-se, contudo, que na região Nordeste o maior número de internações ocorreu entre 40 e 49 anos (≅20,13%) e na região Sul na faixa etária de 60 a 69 (≅25,65%). A região Sudeste concentrou o maior número de óbitos, 2.694 computados (≅42,72 %). Porém, a região Norte apresentava a maior taxa de mortalidade (9,33 óbitos/100 mil).Os dados demonstraram ainda que entre indivíduos com 80 anos ou mais a taxa de mortalidade foi maior (17,69 óbitos/100 mil). Por fim, no período considerado, os custos totais das internações por DRC envolveu um montante de R$855.300.894,58. Conclusão: A partir dos resultados obtidos neste estudo, inferimos que a prevalência da DRC na população brasileira, bem como o aumento da taxa de mortalidade com o avançar da  idade podem ser indicativos de falhas nas medidas preventivas e/ou no acesso aos cuidados pelos pacientes. No entanto, dadas as diversas variáveis que podem estar relacionadas, são necessários mais estudos que possibilitem avaliar essa associação. Ademais, o alto impacto nos recursos financeiros do Sistema Público de Saúde com as internações hospitalares reforça a necessidade de investimentos em políticas de saúde voltadas para o controle da doença no país.

Publicado
25-03-2021