CUIDADO DE ENFERMAGEM AO PACIENTE NEUROCRÍTICO
UMA REVISÃO INTEGRATIVA DE LITERATURA
Resumo
Introdução: a complexidade de cuidado ao paciente neurocrítico exige uma necessidade de recursos humanos com agilidade, habilidade, destreza e capacidade de raciocínio coerente, científico e seguro. A assistência de Enfermagem a esse perfil, objetiva a homeostasia, controle e preservação de tecido neuronal viável e funcional. Dentre os cuidados ofertados, busca-se a estabilização da Pressão Intracraniana (PIC) e manutenção da perfusão cerebral (Ribeiro et al., 2019 apud Caciano et al., 2020). Para além disso, faz-se necessário o equilíbrio entre o Líquido Cefalorraquidiano (LCR), sangue e parênquima cerebral (LCR), com valores de PIC entre 5 mmHg até 20 mmHg. O cuidado de controle da PIC é fundamental para a manutenção de um tecido neuronal viável, assim, requer cuidados de Enfermagem específicos, dentre eles o posicionamento adequado de 30º da cabeceira do paciente; monitorização neurológica através da Escala de Coma de Glasgow, realização da escala de agitação e sedação de Richmond RASS, avaliação pupilar; e controle multiparamétrico dos sinais vitais (Cassiano et al., 2020). O devido manejo, está diretamente relacionado ao prognóstico e qualidade de vida pós-alta de indivíduos com situações de desequilíbrio do Sistema Nervoso Central (SNC). Posto isso, faz-se necessário a prescrição de cuidados de Enfermagem precisos por meio das melhores evidências e alinhamento de equipe para a oferta do cuidado que valoriza o conhecimento científico na assistência. Estudos apontam que, pacientes neurocríticos apresentam melhores índices de evolução ao passo que instituições adotam protocolos e investem em processos de sensibilização da equipe especializada (Brabo et al., 2022). A partir disso, na busca de melhores resultados, tem-se pesquisado evidências que solidificam práticas seguras, assertivas e que apontem aspectos a serem superados no cotidiano da assistência. Este presente estudo busca desenvolver uma síntese do conhecimento produzido e publicado em periódicos científicos sobre cuidados aos pacientes neurocríticos. A relevância do estudo é destacada pela contribuição ao planejamento de estratégias intra-institucionais que buscam a segurança, redução de danos e qualidade no atendimento à saúde. Objetivo: o objetivo do presente estudo é mapear e sintetizar o conhecimento acerca de intervenções de Enfermagem ao paciente neurocrítico, como forma de orientar a construção de protocolos futuros sobre o manejo de Enfermagem a esse público. Metodologia: o estudo foi desenvolvido com base na Prática Baseada em Evidência (PBE), compreendendo identificação de um problema clínico, busca e seleção de literatura coerente ao tema e acima de tudo, avaliação das evidências e decisão de sua aplicação. A estruturação com base na PBE possibilita evitar a decisão pautada em costumes, senso comum ou conhecimento tácito. Desse modo, fornecendo as decisões aliadas do conhecimento científico, de acordo com a vivência profissional. Trata-se portanto, de um estudo qualitativo, de revisão integrativa de literatura. O uso da metodologia é orientado pela proposta de Mendes, Silveira e Galvão (2008), seguindo seis passos: elaboração da questão de pesquisa; determinação de critérios de inclusão, exclusão e seleção da amostra; extração de informações; análise crítica; interpretação dos dados e apresentação dos resultados. A busca de artigos foi orientada por uma pergunta de pesquisa, modulada conforme a estratégia PICO: Quais os cuidados concebidos como boas práticas de enfermagem a pacientes neurocríticos no contexto hospitalar. Após a definição da pergunta de pesquisa, foi construída uma estratégia de busca utilizando descritores, palavras-chave e MeSH Terms. A chave de busca foi associada ao uso de Operadores Booleanos (OR e AND). A coleta dos dados foi realizada entre os meses de Outubro e Novembro de 2023, nas bases de dados da BVS, BDENF, IBECS, LILACS, Medline, WPRIM e Pubmed, acessadas pelo sistema da Comunidade Acadêmica Federada, da CAPES. Com resultado bruto de 457 artigos, disponíveis na íntegra online e gratuitamente nos idiomas de português, inglês e espanhol, publicados entres os anos 2012 a 2022. Os artigos incluídos foram descritos em tabelas no Microsoft Word, extraindo informações: título, autores, ano, objetivos, métodos e resultados. Os artigos desconsiderados envolvem duplicações, produções de caráter carta, resenhas, editoriais, teses, dissertações e revisões integrativas. Resultados e discussão: Dentre os 457 artigos encontrados, 2 artigos eram da BDENF, 6 da IBECS, 15 da LILACS, 383 Medline, 6 da WPRIM e 45 Pubmed. Como resultado final, considerando os critérios já descritos acima, foram considerados seis artigos para a construção do corpo de resultados desse material. Adentrando as especificidades e contribuições, o primeiro estudo de 2020, buscou identificar os cuidados em uma setor de UTI a partir de Diagnósticos de Enfermagem (DE) com base na taxonomia North American Nursing Diagnosis Association International (NANDA-I) e as intervenções pautadas em Nursing Interventions Classification (NIC); as intervenções classificadas de acordo com cada DE e compreendem: posição da cabeceira a 30º, cabeceira em linha média neutra, avaliação da Escala de Coma de Glasgow, Escala de RASS, avaliação de pupilas, sinais vitais, monitorização da PIC <20 mmHg, pressão perfusão cerebral (PPC) >70 mmHg, cuidados com aspiração, controle de sensibilidade (hemiplegia e parestesia), controle hídrico, uso de sonda vesical para controle de diurese, administração de diuréticos, controle de edema cerebral, controle hidroeletrolítico, controle ácido base pela gasometria em pacientes em ventilação mecânica, controle de convulsão para administração de anticonvulsivante, controle hemodinâmico, monitorização renal, monitorização da ação de drogas vasoativas, aspiração de vias aéreas, cuidados de higiene oral, controle de vômitos pela administração de antieméticos, administração de broncodilatadores, oxigenioterapia complementar, controle de pressão cutânea, aplicação de ácidos graxos essenciais e cuidados com lesões sob uso de coberturas específicas (Caciano et al., 2020). Já o segundo estudo, realizado no Brasil em 2015, buscou indicadores clínicos para a monitorização de pacientes com DE de Risco de Perfusão Cerebral Ineficaz, de acordo com o Nursing Outcomes Classification (NOC); estudo realizado com enfermeiros especialistas em UTI, tendo por resultado com consenso absoluto da necessidade de cuidados com a perfusão tissular cerebral, além de cuidados complementares sobre reflexos neurológicos, pressão arterial (PA), redução de consciência, pressão arterial média (PAM), avaliação de agitação, cognição, PIC alterada, síncope, êmese, cefaleia, febre e ansiedade (Almeida et al., 2015). O terceiro estudo realizado em 2013, observou por duas horas 28 duplas de enfermeiros e pacientes de diferentes hospitais relacionados ao cuidado neurocrítico; tendo por resultado a necessidade de padronização dos cuidados neurocríticos (Olson et al., 2013). O quarto estudo foi realizado Brasil em 2013, onde ao comparar dois hospitais, sendo um deles com a realização rotineira de educação continuada; os resultados apontam uma divergência nos cuidados diretos oferecidos aos pacientes neurocríticos; dentre as intervenções, ressalta-se a avaliação da normalidade de PPC, PAM, Pressão Venosa Central (PVC), Saturação Venosa Jugular de O2 (SvjO2) e Extração Cerebral de Oxigênio (ECO2) (Rosa; Lima; Inoue, 2013). O quinto artigo publicado em 2017, acompanhou um paciente com diagnóstico de meningite, apresentando perda auditiva e paralisia, no qual houve o aumento da PIC, com resolução da intercorrência através de drenagem e manutenção adequada do dispositivo (Ling et al., 2017). O sexto estudo buscou levantar a prática de monitoramento do paciente em situação de Traumatismo Cranioencefálico (TCE) em UTI, no qual em 31 instituições os cuidados com a PPC de 60-70 mmHg foram as mais utilizadas, além da indicação de ultrassonografia doppler, capnografia e uso farmacológico de manitol (Wijayatilake, Talati, Panchatsharam, 2015). Considerações finais: A revisão bibliográfica revela uma fragilidade significativa no desenvolvimento de estudos a respeito da padronização dos cuidados de enfermagem voltado ao paciente neurocrítico. Fato que proporciona espaços para intervenções não pautadas na PBE e difícil qualificação da assistência de Enfermagem ao paciente neurocrítico. Se faz necessário o desenvolvimento de pesquisas futuras que se debruçam no delineamento de medidas ouro na assistência, uma vez que poucos estudos demonstram o papel da equipe de enfermagem e os seus cuidados. Assim, sendo possível gerar futuros resultados que agregam ganhos a este perfil de pacientes.