UTILIZAÇÃO DA SIMULAÇÃO CLÍNICA EM CONSULTAS DE PUERICULTURA: REDE DE APOIO E VÍNCULO PATERNO

Palavras-chave: estrutura familiar, pai, exercício de simulação, educação em enfermagem

Resumo

Introdução: a simulação clínica aplicada na consulta de puericultura é uma ferramenta importante para capacitar profissionais de saúde, principalmente pediatras e enfermeiros, a lidar com questões relacionadas ao desenvolvimento infantil, suporte familiar, rede de apoio, vínculo e envolvimento paterno no cuidado da criança. No período pós-parto, tanto a mãe quanto os outros membros envolvidos com a chegada de um novo ser experimentam um desgaste físico e mental significativo, destacando-se a importância e os benefícios da construção de uma rede de apoio familiar (ROSA et al, 2020). Nesse contexto, a abordagem durante a consulta de puericultura deve ser holística, considerando não apenas o bem-estar físico da criança, mas também seu ambiente familiar e social. É essencial que os profissionais estejam preparados para reconhecer sinais de possíveis dificuldades na dinâmica familiar, como falta de suporte emocional, isolamento social e/ou sobrecarga de responsabilidades (ROSA et al, 2020). Nesses casos, a orientação adequada e encaminhamentos para serviços de apoio psicossocial podem fazer a diferença no bem-estar da família, bem como no desenvolvimento saudável da criança. Considerando, especificamente, o vínculo paterno, a simulação clínica utilizada no contexto de consultas de puericultura pode enfatizar a importância da presença ativa do pai no acompanhamento da saúde e desenvolvimento do filho. Incentivar a participação deste sujeito desde os primeiros momentos de vida da criança contribui, não apenas, para o fortalecimento do vínculo familiar, mas também para a promoção de uma paternidade mais ativa, participativa e responsável. Em se tratando do desenvolvimento da criança, é crucial destacar que a presença e a participação masculina desempenham um papel significativo no fortalecimento dos laços familiares, contribuindo para a saúde geral da criança. Desta forma, para promover uma maior participação e envolvimento parental na saúde familiar, os profissionais de saúde do Sistema Único de Saúde (SUS) precisam garantir um acesso e acolhimento de qualidade para esses pais, incluindo-os ativamente nas consultas em conjunto com mães e filhos. Nesse contexto, é essencial que pais e/ou cuidadores sejam reconhecidos como indivíduos responsáveis pelo bem-estar da criança em todas as fases de sua vida, sendo incorporados às atividades rotineiras das equipes de saúde (BRASIL, 2009). Isso significa incluí-los de forma que participem ativamente das consultas. A rede de apoio neste momento é fundamental, portanto, os serviços de saúde do SUS têm o potencial e a responsabilidade de desenvolverem estratégias inovadoras para promover uma maior participação e responsabilidade dos pais e familiares na promoção do crescimento saudável das crianças. Objetivo: descrever a experiência de acadêmicas de Enfermagem na participação em simulações clínicas no contexto de consultas de puericultura e refletir sobre o papel da rede de apoio e do vínculo paterno no crescimento e desenvolvimento infantil. Metodologia: trata-se de um relato de experiência vivenciado por estudantes de Enfermagem durante as aulas ministradas no Componente Curricular (CCR) "O Cuidado no Processo de Viver Humano II", no primeiro semestre de 2024. Este CCR está, atualmente, integrado ao sétimo semestre do curso de graduação em Enfermagem, na Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS), e possui uma carga horária total de 330 horas, o que corresponde a 22 créditos. Essas horas são distribuídas em 12 horas de aulas teóricas e 10 horas de atividades teórico-práticas (ATPs). O conteúdo teórico abrange temas relacionados à saúde da mulher, obstetrícia, saúde infantil, adolescente e família, tanto no ambiente hospitalar quanto na Atenção Primária à Saúde (APS). As atividades de simulações clínicas foram utilizadas com o intuito de oferecer uma experiência mais autêntica e dinâmica dos temas abordados, além de aprimorar as competências e conhecimentos das estudantes na prestação de cuidados de Enfermagem nas temáticas mencionadas. As simulações foram integradas às aulas do CCR, permitindo uma progressão natural no aprendizado. É relevante ressaltar que todas as estudantes participaram das simulações, alternando entre os papéis de profissionais de saúde, usuárias/pacientes e familiares, em uma variedade de cenários adaptados para cada conteúdo abordado. A simulação clínica foi baseada em uma consulta de puericultura norteada por casos clínicos com foco específico em cada fase do desenvolvimento infantil. Cada grupo teve um tempo mínimo de 40 minutos para conduzir a simulação, assegurando que o caso fosse desenvolvido dentro desse intervalo. As informações pertinentes a cada caso foram elaboradas pelo grupo, levando-se em consideração a idade da criança, com o objetivo de promover a construção e avaliação do conhecimento da turma sobre o desenvolvimento infantil, o manejo da situação e as abordagens clínicas. Isso envolveu a caracterização dos personagens, a preparação de materiais auxiliares e a simulação de um caso real. Um grupo específico ficou responsável pelo Debriefing e dispôs de, aproximadamente, 20 minutos para destacar os pontos positivos e áreas a serem melhoradas. Após as apresentações, cada grupo elaborou a evolução do caso, incorporando os ajustes discutidos em sala no dia seguinte à apresentação, seguindo o formato SOAP (Subjetivo; Objetivo; Avaliação; Plano), e incluindo gráficos de crescimento e marcos de desenvolvimento. As simulações ocorreram no campus Chapecó da UFFS, no Laboratório de Semiologia e Semiotécnica, em três dias distintos, sendo que cada caso teve suas particularidades e foi discutido em grupo para complementação do conhecimento coletivo. O caso clínico abordado pelas autoras deste trabalho envolveu um lactente de sete meses, em amamentação complementar e introdução alimentar aos 6 meses. A mãe trabalhava e deixava a criança meio período aos cuidados da avó materna e meio período na creche. Durante a consulta de puericultura realizada por profissional enfermeiro, a mãe relatou que seu filho estava com uma secreção nasal em quantidade moderada e de coloração clara, além de dificuldades na aceitação da introdução alimentar. A avó, que estava presente, perguntou sobre o desenvolvimento motor da criança. Para a realização da simulação, o grupo desenvolveu discussões prévias e uma reunião presencial para definir os papéis, os materiais necessários e as orientações a serem seguidas durante a consulta. Cada discente teve a responsabilidade de estudar a parte atribuída a seu personagem. No dia da apresentação, foi feita uma ambientação para criar um ambiente semelhante a um consultório de Enfermagem real, visando facilitar a comunicação entre os profissionais de saúde e a família. Durante a consulta, os familiares trouxeram suas preocupações específicas em relação à criança, e as estudantes foram orientando os presentes de acordo com diretrizes atuais da área e de evidências científicas, respeitando os marcos de desenvolvimento da criança, por meio de uma comunicação eficaz. Nas reflexões e experiências compartilhadas durante a simulação clínica foram identificados aspectos relacionados à rede de apoio familiar e vínculo do pai no crescimento e desenvolvimento da criança. Resultados e discussão: a simulação clínica utilizada em consultas de puericultura proporcionou inúmeros benefícios para o aprendizado individual e grupal das envolvidas. Acredita-se que isso ocorreu pela preparação cuidadosa e criação de um ambiente de atendimento realista, com falas pertinentes e embasadas na vida real. Após a simulação, a sessão de Debriefing propiciou a avaliação de diversos aspectos trabalhados, enriquecendo ainda mais a experiência. Na avaliação da estratégia de ensino foram identificadas áreas que precisavam de melhoria e desenvolvidas em conjunto. Isso contribuiu para a construção do conhecimento de forma envolvente, integrada e qualificada, fortalecendo o papel do enfermeiro na APS. Ainda, ficou evidente a importância dessa experiência, especialmente quando se projetam algumas dificuldades que poderão ocorrer no cotidiano acadêmico, pessoal e profissional futuro. A simulação em pauta não apenas preparou as acadêmicas para os desafios futuros, mas também proporcionou uma visão mais clara da rotina em uma unidade de saúde da APS. Essa experiência contribuiu positivamente para a formação de profissionais mais capacitadas e experientes, dotados de conhecimento e habilidades necessárias para enfrentar os desafios da prática profissional. A análise da experiência das acadêmicas de Enfermagem com a utilização da simulação clínica revelou aspectos positivos, com promessas promissoras enquanto atuação como futuras enfermeiras. As discentes demonstraram um aumento significativo na confiança para lidar com questões relacionadas à rede de apoio familiar e estímulos para fortalecer o vínculo paterno, visto que as discussões apontaram para uma melhoria na comunicação das acadêmicas, que conseguiram estabelecer uma relação mais empática e eficaz com os pais e cuidadores durante as consultas de puericultura simuladas. Além disso, as estudantes identificaram de forma mais assertiva as necessidades familiares, incluindo a importância de uma rede de apoio adequada e possíveis desafios no fortalecimento do vínculo paterno. A promoção da participação paterna foi outro aspecto destacado nas simulações, permitindo às acadêmicas explorarem estratégias para incentivar o envolvimento ativo dos pais no cuidado da criança. Reconheceu-se a relevância desse engajamento para o desenvolvimento saudável infantil e para a construção de um ambiente familiar acolhedor. Diante desses resultados, enfatiza-se a importância de uma abordagem holística e centrada na família durante o ensino prático, com a integração de aspectos psicossociais, capacitação dos futuros profissionais de Enfermagem para lidar com a complexidade das relações familiares e promoção de uma paternidade ativa (ROSA et al, 2020). Considerações finais: a simulação clínica utilizada no contexto de consultas de puericultura é uma ferramenta crucial na formação de profissionais de saúde, permitindo a prática de habilidades de comunicação e identificação de desafios familiares. O foco na rede de apoio e no vínculo paterno realça a importância do envolvimento familiar no cuidado infantil. Essa abordagem pedagógica não só prepara profissionais para desafios clínicos, mas também promove uma compreensão mais aprofundada acerca da importância do apoio familiar. Ao fortalecer o vínculo entre pais e profissionais de saúde, essa metodologia contribui para o bem-estar global das crianças e suas famílias, destacando-se como uma ferramenta educacional poderosa na promoção de um cuidado infantil integral.

Publicado
25-09-2024