MANEJO CLÍNICO DE ARBOVIROSES NA ESTRATÉGIA DE SAÚDE DA FAMÍLIA: EXPERIÊNCIAS NO ESTÁGIO CURRICULAR SUPERVISIONADO

  • Bruna Bartolomey UFFS
  • Hágata Cristina Mascarello
  • Cláudio Claudino da Silva Filho
Palavras-chave: Infecções por Arbovirus; Epidemiologia; Vigilância Epidemiológica; Dengue.

Resumo

Introdução: Durante séculos, epidemias de doenças infecciosas representaram uma das principais causas de morte, levando ao desenvolvimento de vacinas, antibióticos e melhorias nas condições de vida. Apesar desses avanços, as doenças infecciosas continuam a ser uma das principais causas de mortalidade. As arboviroses são exemplos dessas doenças infecciosas que ainda representam um desafio para a saúde pública. Transmitidas por artrópodes, como mosquitos e carrapatos, essas doenças persistem como problemas de saúde global. Entre as arboviroses mais conhecidas estão a Dengue, Zika e Chikungunya que possuem como vetor o mosquito Aedes Aegypti. A imunidade a um sorotipo não oferece proteção contra outros. No Brasil, as arboviroses continuam a ser uma preocupação, com casos frequentes e campanhas de conscientização em andamento. A pesquisa em modelagem de epidemias tem sido fundamental para fornecer orientações sobre como controlar a propagação dessas doenças, especialmente em áreas urbanas (Molter, et. al, 2016). O artigo 3º da Lei nº 8.080/90 identifica diversos elementos determinantes e condicionantes da saúde, como alimentação, moradia, saneamento básico, meio ambiente, trabalho, renda, educação, transporte, lazer e acesso a bens e serviços essenciais (Brasil, 1990)  Nesse contexto, o saneamento desempenha um papel crucial na promoção da saúde, envolvendo ações que visem melhorar a qualidade ambiental e diminuir a transmissão e até a erradicação de doenças que possuem um método de transmissão relacionada ao saneamento. É importante ressaltar que tais ações não devem se restringir a aspectos pontuais, mas sim abranger o manejo adequado das condições habitacionais, comunitárias e públicas relacionadas à água e a resíduos. Essa abordagem integrada é essencial, pois a saúde está diretamente ligada a condições ambientais e sociais que afetam o bem estar e a qualidade de vida das pessoas. É importante ressaltar também que as mudanças climáticas têm influenciado a ocorrência de eventos climáticos e hidrológicos que contribuem no aumento da incidência de arboviroses, como o aumento da temperatura e a alteração da rede fluvial e pluvial que favorece a reprodução do mosquito vetor (Faria, et al., 2023). A epidemiologia relacionada aos casos de dengue destaca que a maioria dos pacientes se recupera completamente, mas uma parcela pode desenvolver formas graves da doença necessitando de internação e um olhar de cuidado mais detalhado, e alguns inclusive podem apresentar risco de morte. Embora seja possível evitar a maioria das mortes por dengue com uma assistência multiprofissional adequada e uma organização eficiente dos serviços de saúde, todas as faixas etárias estão sujeitas à doença, sendo que pessoas idosas, crianças e aquelas com condições crônicas como diabetes e hipertensão arterial, têm maior risco. Essa complexidade enfatiza a importância de considerar esses fatores em estudos sobre saneamento básico e vigilância em saúde, sendo crucial a adoção de estratégias eficazes para controlar a evolução da população do vetor e prevenir a propagação das doenças. Objetivo: Compartilhar a experiência vivenciada por uma acadêmica de enfermagem durante o Estágio Curricular Supervisionado (ECS) realizado em um Centro de Saúde da Família (CSF) localizado no Oeste Catarinense, com ênfase no manejo clínico de arboviroses. Metodologia: Trata-se de um relato de experiência das vivências enfrentadas durante a inserção de uma acadêmica de enfermagem em um CSF que abriga uma significativa parcela dos casos de arboviroses do município em que está situado. O relato incluirá informações epidemiológicas sobre a incidência dessas doenças na região, destacando os desafios enfrentados, as limitações encontradas e as estratégias desenvolvidas para lidar com essas condições de saúde. Durante o estágio, as principais demandas relacionadas ao atendimento, manejo e prevenção dessas doenças foram evidenciado devido a situação epidemiológica do local. Para adaptar as atividades acadêmicas a esse contexto, foi necessário compreender o fluxograma de manejo clínico de dengue do Ministério da Saúde e buscar estratégias adicionais de enfrentamento. A análise epidemiológica realizada na região, incluiu a incidência, distribuição por faixa etária e gravidade dos casos, o que foi essencial para direcionar as ações de prevenção e controle. A integração dessas informações com as atividades acadêmicas permitiu uma abordagem mais eficaz no enfrentamento das arboviroses. Resultados e discussão: O quadro epidemiológico das arboviroses apresenta uma alternância entre períodos sazonais e não sazonais dos agravos em diversas regiões geográficas. Além disso, pode ocorrer um cenário epidêmico, caracterizado por uma incidência dos agravos acima do esperado (Brasil, 2022). Atualmente a situação em Santa Catarina da dengue, zika e chikungunya apresenta-se com a necessidade de um olhar atento das equipes de saúde e equipes de vigilância epidemiológica, principalmente no Oeste Catarinense (conforme mostrado na Figura 1), ressaltando a importância do planejamento para enfrentar emergências decorrentes de surtos ou epidemias conseguintes de arboviroses (Brasil, 2024).

Figura 1: Situação entomológica nos municípios de Santa Catarina em 19/03/2024.

 

Segundo o informe epidemiológico de Santa Catarina, entre dezembro de 2023 e março de 2024, foram registradas 106.221 notificações de dengue no estado, das quais 66.174 considerados casos prováveis, 576 foram inconclusivos e 10.047 foram descartados. No município onde está localizado o CSF estudado, foram registrados mais de 1.000 casos confirmados e 900 suspeitas. O CSF representa, respectivamente, 35% e 29% dos casos do município, o que tem sobrecarregado a unidade e consequentemente teve um impacto no atendimento da unidade, aumentando a quantidade de paciente atendidos diariamente e necessitando que os profissionais tenham olhares mais apurados para os sinais de alerta para a doença, tal como ocasionou a diminuição de atendimentos de outras áreas. A acadêmica necessitou assumir atendimentos para auxiliar no fluxo de seguimento no tratamento e no fluxo na unidade, necessitando buscar capacitação para atender com mais detalhes do que o conteúdo ofertado em sala de aula.  Deste modo, cabe à Atenção Primária em Saúde (APS) promover a criação de grupos de trabalho com equipe técnica para discutir temas relacionados ao manejo clínico, classificação de risco de pacientes suspeitos, e capacitação das equipes de saúde primária. Além disso, é essencial incentivar e orientar a utilização de protocolos de manejo das arboviroses, bem como a criação de estratégias de busca ativa de casos suspeitos em áreas com alta incidência. A oferta de hidratação venosa precoce nas unidades básicas de saúde deve ser promovida, assim como o acompanhamento longitudinal dos usuários após a primeira consulta. A coordenação dos fluxos de referência e contrarreferência no território, a garantia de transporte adequado para encaminhamento dos usuários e a comunicação direta com a Rede de Urgência e Emergência também são medidas cruciais. Adicionalmente, é necessário incentivar a notificação de casos suspeitos, a integração com agentes comunitários de saúde e agentes de combate às endemias, e promover ações de educação em saúde para prevenção das arboviroses, além de articular medidas integradas para enfrentar epidemias em colaboração com outros setores (Brasil, 2022). Considerações finais: O ECS é momento propício para auxiliar o SUS nas demandas prioritárias, independente do que se esperava encontrar, e embora essa atuação sazonalmente mais focada, ou menos generalista, possa frustrar as expectativas iniciais dos estudantes, se fazer pertencer à equipe e desenvolver o sentimento de pertencimento para resolução de crises sanitárias como a (previsível?) dengue mostram-se tão formativos, quanto o arsenal de procedimentos e protocolos esperado pelo senso comum para atuação profissional do enfermeiro na APS. Por conseguinte, denota-se da situação epidemiológica crítica supracitada, que a avidez por experimentar o maior número possível de situações desejáveis nas boas práticas do enfermeiro, não pode ser maior do que o compromisso social, sobretudo com os usuários do SUS, implicado na integração ensino-serviço-comunidade.

Publicado
25-09-2024