EXPERIÊNCIA DE CAPACITAÇÃO: TREINAMENTO PARA EQUIPES DE ENFERMAGEM EM UM HOSPITAL DE GRANDE PORTE NO OESTE CATARINENSE

Palavras-chave: segurança do paciente, capacitação profissional, educação em saúde, Enfermagem

Resumo

Introdução: Na contemporaneidade, a Extensão Universitária emerge como uma poderosa ferramenta para estreitar os laços entre as instituições de ensino superior e a comunidade, especialmente no campo da saúde, onde desempenha um papel crucial no fortalecimento do Sistema Único de Saúde (SUS). Inserida no contexto formativo, a extensão, mediada por docentes e extensionistas, vai além da transmissão de conhecimentos acadêmicos, abrindo espaço para reflexões e debates sobre as dinâmicas sociais e os desafios enfrentados pela sociedade. Nesse sentido, o artigo "Extensão Universitária", de Moacir Gadotti, oferece uma perspectiva enriquecedora sobre o papel transformador da extensão na universidade. Gadotti destaca a importância de uma abordagem dialógica e participativa, que reconheça os saberes e experiências das comunidades envolvidas. Ele argumenta que a extensão não deve se limitar a uma prestação de serviços, mas sim promover a capacitação e o empoderamento das pessoas, contribuindo para a construção de uma sociedade mais justa e igualitária. Ao integrar a extensão universitária em suas práticas, os profissionais de enfermagem têm a oportunidade não apenas de ampliar seus conhecimentos e habilidades, mas também de se envolver ativamente na promoção da saúde e no enfrentamento das desigualdades sociais. Através de projetos extensionistas, é possível estabelecer uma ponte entre o conhecimento acadêmico e as demandas reais da comunidade, contribuindo para a melhoria dos serviços de saúde e para a construção de uma sociedade mais saudável e inclusiva. Assim, ao participar de iniciativas de extensão universitária, os estudantes e profissionais de enfermagem têm a oportunidade de vivenciar na prática os princípios da educação problematizadora propostos por Paulo Freire. Eles podem se tornar agentes de transformação social, promovendo o diálogo, a reflexão crítica e o engajamento comunitário. Objetivo: Dessa forma, a extensão universitária se revela não apenas como uma extensão do conhecimento acadêmico, mas como uma ferramenta poderosa para romper bolhas, transformar realidades e construir um mundo mais justo e solidário. Metodologia: Trata-se de um relato de experiência decorrente de uma ação extensionista vinculada ao projeto de extensão institucionalizado na UFFS  intitulado como “ Segurança do paciente e integração entre ensino e serviço: Uma proposta de extensão universitária” e em desenvolvimento desde 2022.  A ação foi realizada em um hospital de grande porte no oeste catarinense com uma equipe composta por um docente e quatro estudantes do curso de graduação em enfermagem, sendo três bolsistas e um voluntário. Participaram também os dois enfermeiros coordenadores do Núcleo de segurança do paciente e do Serviço de controle de infecção relacionado à assistência à saúde. A ação teve como objetivo capacitar as equipes de enfermagem no que tange a segurança do paciente e controle de infecção hospitalar. Resultados e Discussões: A segurança do paciente é um conjunto de práticas essenciais que devem ser cuidadosamente consideradas e implementadas em todos os aspectos do atendimento médico. Seu principal objetivo é minimizar as falhas que podem ser evitadas durante a prestação de cuidados de saúde, garantindo assim que o paciente receba assistência de qualidade, livre de danos e com a menor ocorrência possível de erros. A educação continuada desempenha um papel fundamental nesse processo, proporcionando oportunidades para que as equipes de saúde reflitam sobre suas práticas e promovam mudanças comportamentais que visem aprimorar seus conhecimentos e habilidades. Desde os tempos antigos, líderes na área da saúde, como Hipócrates e Florence Nightingale, reconheceram a importância de priorizar a segurança do paciente. Hipócrates afirmava que a atenção à saúde não deveria causar danos, enquanto Florence Nightingale buscava criar um ambiente propício para o cuidado do paciente. Seu trabalho na guerra da Crimeia, onde conseguiu reduzir drasticamente a taxa de mortalidade entre os soldados, exemplifica como abordagens centradas no paciente podem ter um impacto significativo na segurança e na qualidade dos cuidados de saúde. De acordo com o documento de referência do Programa Nacional de Segurança do Paciente, estudos conduzidos em vários países indicam uma alta incidência de eventos adversos. Em média, cerca de 10% dos pacientes hospitalizados experimentam algum tipo de evento adverso, sendo que metade desses casos poderia ser evitada. A liderança no cuidado com a segurança do paciente é atribuída à Organização Mundial da Saúde, que, em colaboração com a Joint Commission Internacional, estabeleceu seis metas internacionais para a segurança do paciente. Essas metas incluem: identificar corretamente o paciente, melhorar a eficácia da comunicação, aumentar a segurança dos medicamentos de alta vigilância, garantir a realização de cirurgias no local e paciente corretos, reduzir o risco de infecções relacionadas aos cuidados de saúde e diminuir o risco de danos ao paciente devido a quedas. O objetivo dessas metas é prevenir a ocorrência dos eventos adversos, facilitando o processo de identificar maneiras de promover a prática da segurança do paciente. Uma dessas estratégias envolve o uso de pulseiras que podem sinalizar uma variedade de situações, como o risco de queda, lesões por pressão, alergias, isolamento e até mesmo a identificação do paciente. Essa abordagem destaca a necessidade de educação continuada e discussões que promovam a reflexão e o aprimoramento constante na área da segurança do paciente. No hospital da região oeste, são realizadas auditorias periódicas pelo Núcleo de Segurança do Paciente, visando quantificar dados sobre as práticas de segurança do paciente realizadas pela equipe. Através dessas auditorias, foi identificada uma baixa adesão ao uso das pulseiras de identificação e ao preenchimento dos formulários. Com o objetivo de melhorar esses índices, foi elaborada uma atividade de capacitação sobre o tema, conduzida por três estudantes de Enfermagem da UFFS que participam de um programa de extensão focado na segurança do paciente, buscando integrar ensino e serviço. A capacitação foi organizada para ser aplicada a todas as equipes de Enfermagem dos setores fechados, incluindo Unidades de Terapia Intensiva Geral, Convênio, Pediátrica, Neonatal, Laboratório e Hemodinâmica. Utilizando a abordagem de educação problematizadora de Paulo Freire, a capacitação ocorreu por meio de uma roda de conversa mediada pelos estudantes e pela enfermeira responsável pelo Núcleo de Segurança do Paciente do hospital. Este método permitiu que o ensino fosse transmitido através da interação com o conteúdo e de diálogos que problematizam ações que poderiam causar danos ao paciente. O tema foi introduzido gradualmente na discussão, com o objetivo de sensibilizar a equipe sobre a importância da Segurança do Paciente. Para reforçar o aprendizado de forma lúdica e interativa, foram utilizados jogos como caça-palavras e questões de concurso. Antes da implementação da capacitação, houve uma reunião prévia entre os estudantes para compartilhar ideias e planejar a metodologia, em colaboração com a enfermeira do núcleo. Devido à alta rotatividade das equipes de enfermagem neste hospital, foi necessário elaborar um cronograma e realizar a capacitação ao longo de dois dias para alcançar todos os turnos. No início da roda de conversa, os mediadores destacaram a importância da segurança do paciente, sensibilizando a equipe sobre as seis metas internacionais de segurança do paciente e compartilhando casos de eventos adversos relacionados à identificação do paciente. Embora a maioria dos participantes tenha se envolvido, alguns mostraram distração, especialmente nos setores onde o enfermeiro não demonstrava interesse. Isso ressalta a importância do comportamento do enfermeiro como um reflexo da equipe de enfermagem, destacando a necessidade de uma conduta profissional exemplar. No decorrer da aplicação da capacitação, os estudantes foram os mediadores e puderam associar de forma teórico-prática que a segurança do paciente é fundamental para o cuidado qualificado, de modo a reduzir riscos de um possível evento adverso e proporcionar uma melhor serviço. Considerações Finais: Portanto conclui-se que a segurança do paciente é um fator fundamental para que não ocorram eventos adversos, sendo de extrema importância praticar hábitos seguros. A capacitação é um método para educação e conscientização benéfico para a equipe, visando retomar conhecimentos prévios e complementá-los e também para os estudantes mediadores associando a teoria com as vivências cotidianas nos setores.  Desenvolver projetos de extensão permitiu a aproximação com campos práticos, além de desenvolver a capacidade de comunicação, observação e tomada de decisão. Com certeza momentos únicos na trajetória acadêmica. Durante a implementação da capacitação, os estudantes mediadores puderam vivenciar uma integração prática da teoria com a realidade assistencial, reforçando a importância da segurança do paciente para garantir um cuidado de qualidade. Ao associar o conhecimento teórico à prática clínica, eles reconheceram que a adoção de medidas de segurança é fundamental para mitigar os riscos de eventos adversos e melhorar o serviço prestado aos pacientes. Ao revisitar e aprimorar seus conhecimentos sobre segurança do paciente, os participantes da capacitação destacaram a relevância de práticas seguras para evitar a ocorrência de eventos indesejados. Além disso, a capacitação proporcionou um espaço propício para a educação e conscientização da equipe, permitindo a retomada e complementação de conhecimentos prévios,  o potencial transformador dessa prática, enfatizando a importância de uma abordagem participativa e dialógica que reconheça os saberes das comunidades envolvidas.No contexto específico da saúde, a capacitação dos profissionais, como exemplificado no projeto de extensão "Segurança do paciente e integração entre ensino e serviço", desempenha um papel fundamental na promoção de cuidados de qualidade e na prevenção de eventos adversos. Ao integrar teoria e prática, os estudantes mediadores conseguiram não apenas ampliar seus conhecimentos, mas também sensibilizar as equipes de enfermagem sobre a importância da segurança do paciente. Através de iniciativas de extensão universitária como essa, os profissionais de enfermagem têm a oportunidade de se engajar ativamente na construção de uma sociedade mais justa e igualitária, ao mesmo tempo em que aprimoram suas habilidades práticas e desenvolvem uma compreensão mais profunda das necessidades da comunidade. Essas experiências não apenas enriquecem suas trajetórias acadêmicas, mas também os preparam para enfrentar os desafios do mundo real com confiança e competência, contribuindo para a construção de um sistema de saúde mais seguro e eficaz.

 

 

 

Publicado
25-09-2024