ATRIBUIÇÕES PRIVATIVAS DO ENFERMEIRO: INSERÇÃO CURRICULAR NO PRIMEIRO ANO DE CURSO

Palavras-chave: Aprendizagem; Enfermagem; Currículo; Formação Profissional.

Resumo

Introdução: A construção do conhecimento na enfermagem torna implícita a necessidade de uma base semiológica nos anos iniciais da graduação, com o intuito de instigar os acadêmicos a aplicarem a teoria vista em sala de aula  e expressarem seu conhecimento teórico na prática. A visão global do papel a ser desenvolvido pelo enfermeiro será aplicada principalmente nos anos finais do curso de graduação, durante o Estágio Curricular Supervisionado. Assim, ao longo da jornada acadêmica há uma base a ser construída para atuação enfermeiro como gestor do cuidado e com atribuições privativas a serem priorizadas durante a assistência. Compreende-se que esta base deve ser iniciada o mais precoce possível e o componente curricular de Introdução à Gestão e Gerenciamento de Saúde e Enfermagem, ofertado no segundo semestre do curso possui este objetivo. No componente são abordados aspectos de gestão, aspectos éticos e a implementação do Processo de Enfermagem nos serviços de saúde como ferramenta para a qualidade do cuidado. As orientações éticas do Conselho Federal de Enfermagem (COFEN), norteiam o aprendizado sobre as condutas do enfermeiro e  respaldam as ações profissionais para registro no prontuário e desenvolvimento do Processo de Enfermagem. Objetivo: Relatar a experiência vivenciada no componente curricular de Introdução à Gestão e Gerenciamento em Saúde e Enfermagem no curso de graduação da Universidade Federal da Fronteira Sul, evidenciando a importância da inclusão do componente  curricular nas fases iniciais do curso, bem como o impacto positivo para a formação.  Metodologia: Trata-se de um relato da experiência vivenciada no componente curricular de Introdução à Gestão e Gerenciamento em Saúde e Enfermagem no curso de graduação da Universidade Federal da Fronteira Sul, no período de agosto a dezembro de 2023. O componente curricular foi organizado em aulas teóricas desenvolvidas em sala de aula com a participação de três professores e atividades teórico-práticas no Hospital Regional do Oeste e na Unidade de Saúde do bairro Seminário acompanhadas por dois professores. Nas aulas teóricas foram abordados temas sobre os aspectos éticos da profissão fundamentados principalmente pelo Código de Ética dos Profissionais de Enfermagem do COFEN (Cofen, 2007), temas de introdução à gestão e gerenciamento dos serviços e dos cuidados. Para as atividades teórico-práticas a turma foi dividida em grupos de 4 estudantes. Durante as práticas foram acompanhadas Consultas de Enfermagem na Atenção Primária à Saúde com discussões sobre as demandas e registros no prontuário do usuário com implementação de todas as etapas do Processo Enfermagem utilizando para Diagnósticos de Enfermagem (DE), Resultados Esperados (RE) e Intervenções a Classificação Internacional para a Prática de Enfermagem (CIPE) e os protocolos assistenciais. No Hospital Regional do Oeste foram realizadas as etapas do Processo de Enfermagem utilizando como Sistema de Linguagem Padronizada a Associação Norte Americana de Diagnósticos de Enfermagem (NANDA), Classificação dos Resultados de Enfermagem (NOC) e Classificação das Intervenções de Enfermagem (NIC).Durante a inserção nos cenários de prática também foram incluídas discussões e observações sobre os aspectos de gestão das unidades e as implicações éticas que permeiam todas ações. Resultados e discussão: O aprendizado proporcionado pelo componente curricular foi pertinente, pois evidenciou desde o início o verdadeiro papel do enfermeiro, que não é apenas assistencial, mas também de gestor de unidade e equipe. Assim, descobrimos como usar os conhecimentos adquiridos em sala de aula de forma teórica e convertê-los em prática. As discussões éticas realizadas por meio de notícias publicadas sobre infrações éticas evidenciaram a aplicabilidade em nossa realidade como enfermeiros. Foi possível identificar na prática a importância da ética no dia a dia do profissional de enfermagem. Ao acompanharmos a enfermeira na Atenção Primária à Saúde obtivemos o conhecimento da aplicabilidade dos protocolos assistenciais e do Processo de Enfermagem. Ao realizar o processo de enfermagem percebemos a importância de um software prático, que agilize esse processo, devido a quantidade de atendimentos e atribuições do enfermeiro. Percebe-se que neste sentido o sistema do HRO desempenhou um melhor papel, visto que na parte de DE, RE e intervenções o sistema contempla todas as informações. Na Unidade Básica de Saúde a enfermeira necessita de dois programas diferentes, o que não chega a ser um problema, no entanto poderia ser um processo mais ágil. Evidenciamos também na prática como cada serviço funciona e que, principalmente, a equipe tem a “cara do gestor” da unidade e que um bom gestor é sempre organizado. Nota-se a importância dessa organização para a segurança do paciente e da própria equipe para realizar esse trabalho. Foi de fato uma experiência única para nós estudantes e que com toda certeza poderia ter uma carga horária maior de práticas, pois foram bem proveitosas. Para além destes aspectos, também aprendemos a nos comunicar de maneira adequada com os usuários  por meio da utilização de linguagem acessível a eles, e também, identificamos a importância de  criarmos vínculo, mesmo que por curto período. Perceber a confiança que o paciente sente ao relatar não somente o que o incomoda fisicamente, mas também emocionalmente, que descreve relações entre a enfermagem e o paciente. Ao abrir o coração, o usuário mostra suas fragilidades e aprendemos que como futuros enfermeiros precisamos acima de tudo sermos bons seres humanos, bons ouvintes e que tenhamos uma mão amiga para que aqueles que sejam atendidos por nós sintam-se acolhidos e pertencentes. Para o paciente ser visto e ouvido é tão bom quanto ser atendido em suas necessidades físicas, às vezes não percebemos o quanto estamos presentes em momentos cruciais da vida daquele ser humano, enquanto enfrenta o câncer, por exemplo, aquela pessoa encontra-se frágil e emotiva e ela não precisa apenas de uma consulta de enfermagem, mas precisa também de alguém que a ouça como é preconizado de acordo com a Política de Humanização do SUS (HumanizaSUS, 2003). Considerações finais: Diante desta experiência, o que fica de mais importante sem dúvidas é a importância desse contato com o componente logo no início do curso, pois nos mostra o verdadeiro papel do enfermeiro e a maior parte de suas atribuições, para além da enfermagem, mas também do cidadão em sua coletividade, o papel da profissão tão importante em uma sociedade, transformar vidas através do cuidado e a importância deste ser o melhor possível.  Com tudo isso, percebe-se que há necessidade de uma carga horária teórico-prática maior, pois a vivência que a prática proporciona é a que mais assemelha-se com a realidade pós formados, a depender da área de atuação de cada profissional, seja ela de gestão de serviço ou gerenciamento de equipe e recursos. Tendo esse contato no início do curso percebe-se logo a necessidade de praticar e adquirir o senso de liderança e outras qualidades fundamentais para exercer o papel de gestor em diferentes serviços. Outras instituições podem aprender, assim, como a Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS) a proporcionar aos estudantes um maior aprendizado, pois quanto antes esse contato com as funções do enfermeiro, melhor profissional ele se tornará. As turmas anteriores ao novo Projeto Pedagógico do curso tiveram essas experiências do olhar mais voltado para a gestão principalmente nos semestres finais do curso. Cabe  destacar que a assistência, e a gestão exigem um enfermeiro líder de equipe, e que necessita desde o início de sua formação, desenvolver essas habilidades, pois os profissionais estão sendo contratados por seu currículo, mas sendo dispensados do serviço por falta de habilidades para desenvolver melhor o trabalho. Todos estes aspectos foram mencionados no componente, estabelecendo relação com as teorias de enfermagem que abordam as relações interpessoais no trabalho, a importância da manutenção de um ambiente propício e harmonioso, no qual o serviço flua para todos os membros da equipe entregando assim, um bom atendimento para os usuários e honrando com a missão, visão e valores do serviço. 

Publicado
25-09-2024