O LUTO DE IDOSOS QUE PERDERAM UM FILHO

  • Samille Isabel Palombit Ronsoni UFFS
  • Richard Augusto Thomann Beckert
  • Angélica Zanettini Konrad
  • Tiago Labres de Freitas
  • Rita de Cássia Farias de Oliveira
  • Valéria Silvana Faganello Madureira

Resumo

Introdução: O envelhecimento populacional, evidente e progressivo, está determinado pela transição demográfica gerada por diminuição da natalidade e aumento da expectativa de vida da população, ocasionando aumento crescente de pessoas idosas. Com isso as necessidades sociais e de saúde tornam-se mais abrangentes, o que requer assistir o indivíduo em todas as esferas da vida, considerando os determinantes sociais que interferem no processo saúde-doença da população. Para isso, a promoção da saúde e a qualificação profissional fazem-se fundamentais para enfrentar questões singulares como a vivência do luto. O luto é uma resposta a perdas, que podem estar associadas a aspectos, como a perda de papéis, do corpo mais jovem, morte de conhecidos ou familiares, mas o processo pode ser mais difícil quando a perda sofrida foi de um filho. Diversas teorias trazem a compreensão do luto e seus subtipos, abrangendo diferentes situações de perda. Kübler-Ross (2017) propõe cinco estágios do luto, não em linha contínua, pois os estágios podem estar entrelaçados. O primeiro é a ‘negação e isolamento’ como forma de defesa do indivíduo; no segundo estágio, ‘raiva’, há busca de explicações e culpados; no terceiro, ‘barganha’, o enlutado busca negociar a perda; no quarto está a ‘depressão’, com sentimentos de melancolia e, no quinto, a ‘aceitação’, o qual representa o ponto final do luto. Por outro lado, Bowlby e Parkes (1980) propuseram as fases do luto fundamentando-se na Teoria do Apego de Bowlby e Ainsworth, a qual busca compreender as reações diante dos rompimentos e descreve quatro fases para o processo do luto. A primeira, ‘entorpecimento e choque’, é caracterizada por reações de sofrimento ou raiva; o ‘anseio e a procura’ pelo ente ou saudades; a ‘desorganização e desespero’ demonstra dificuldade do enlutado em fazer tarefas cotidianas e a ‘reorganização’, marcada pelo enlutado retornar a vida (Franco, 2021). Contudo, é pouco difícil prever como um indivíduo reagirá à perda e quais caminhos tomará no processo do luto. Este estudo discutirá o processo do luto em idosos pela perda de um filho, assunto pouco referido em meio acadêmico, servindo como estimulante para profissionais da saúde a um olhar mais humanizado no atendimento de idosos enlutados. Objetivo: Compreender a vivência do processo de luto por idosos que, durante a vida, perderam um filho. Metodologia: Pesquisa de abordagem qualitativa, descritiva e exploratória, da qual participaram oito idosos residentes em Chapecó/SC que, em algum momento da vida, perderam um filho. A seleção utilizou o método de cadenciamento de referências Snowball Sampling (Ghaljaie; Naderifar; Goli, 2017). A idade dos participantes variou de 62 a 95 anos, sendo 7 mulheres e um homem. Como critérios de inclusão: ter 60 anos ou mais; ter vivenciado, em algum momento da vida, o luto por um filho; residir no município de Chapecó/SC. As entrevistas foram presenciais e individuais, utilizando um roteiro de questões. Os dados foram analisados com Discurso do Sujeito Coletivo (DSC), proposto por Lefèvre, Lefèvre e Teixeira (2000). O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da Universidade Federal da Fronteira Sul (parecer nº 5.832.479, de 21/12/2020. Todos os participantes foram esclarecidos acerca dos aspectos éticos, direitos e deveres do participante e do pesquisador, e assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Os resultados serão divulgados em forma de artigos científicos publicados em revistas nacionais e/ou internacionais e resumos expandidos em eventos científicos. Resultados e discussão: Da análise dos dados emergiram oito temáticas que abordam assuntos diversos sobre o luto em idosos. Os participantes do estudo refletiram sobre a vivência do luto por perda de filhos e de demais lutos vividos durante a vida. Para eles, todas as perdas são difíceis, mas perder um filho gera um sofrimento incomparável, visto que a dor de uma perda relaciona-se ao nível de vínculo entre as duas partes e, normalmente, o vínculo de pais e filhos é forte e afetuoso. Os idosos descreveram suas reações quando receberam a notícia da morte de seus filhos, que incluíram desespero, choque, dor, tristeza e  perda de sentido na vida. O estágio de Depressão descrito por Kubler-Ross (2017) assemelha-se às informações de tristeza e falta de sentido na vida, bem como o estágio de Entorpecimento e Choque da teoria de luto de Bowlby e Parkes pelo choque e desprendimento da realidade inicial. O tempo de duração do luto pode ser de muito tempo, ainda mais quando se perde um filho e o luto e a falta podem nunca passar. Compreende-se que o luto não tem prazo de validade e se há a tentativa de enquadrá-lo em um tempo pré-estabelecido, se corre o risco de não respeitar a individualidade de vivência desse processo. Quando o luto gera dificuldades no dia a dia e impacto na vida social do enlutado, é possível que seja um luto complicado, que demanda suporte de profissionais de saúde mental (Franco, 2021). Para além do luto existem sentimentos remanescentes que perdurarão por toda a vida de quem sofreu a perda. Os participantes referiram a saudade, o sentir-se inconformado com a perda e a constante lembrança como aspectos da perda que perduram. Dentre as maneiras apontadas pelos entrevistados para lidar com o luto destacam-se a fé e a oração. A religiosidade/espiritualidade faz parte do rol de recursos pessoais que as pessoas podem desenvolver durante a vida e que contribuem para um envelhecimento saudável, além de servir de apoio para momentos de crise como a perda de um filho (Silva Júnior; Eulálio, 2022). Durante o luto a saúde pode ser negligenciada. Os idosos relataram indiferença entre viver e morrer, desinteresse pelo autocuidado e dificuldades em se alimentar adequadamente. O cuidado com a própria saúde pode ser negligenciado durante a vivência de um luto. Os idosos relataram indiferença entre viver e morrer, além de dificuldades na alimentação e no suprimento nutricional. Tais aspectos congruem com a possibilidade de um luto patológico (Franco, 2021). Em conseguinte, o apoio recebido pelos idosos durante o luto veio da própria família, da religião e de profissionais de saúde e serviços especializados em saúde mental. Por fim, o luto ensinou os idosos a valorizarem as pessoas e a vida humana, a ter forças e fé. Os mesmos ainda aconselharam outros pais que perderam um filho a buscar a fé e o apoio de outras pessoas, desenvolver a resiliência e não esperar para buscar ajuda profissional.  Considerações finais: Não é possível utilizar somente uma teoria de luto para discutir os resultados da pesquisa. O luto interfere de forma multifacetada no cotidiano das pessoas e cada indivíduo o vivenciará de modo peculiar. Foi possível visualizar muitas facetas desse processo, desde as reações iniciais ao desenvolvimento do luto ao longo do tempo póstero. Perder um filho associa-se a um luto com maiores chances de se complicar e necessitar ajuda profissional, mas nem toda a saudade ou sensação de falta/ausência caracterizam um luto complicado. Embora seja uma situação difícil, os participantes conseguiram, através da resiliência, extrair aprendizados da vivência do luto e dar conselhos para outros idosos em situação semelhante. Desse modo, o estudo conseguiu promover novos olhares acerca da vivência do luto por idosos que perderam um filho, bem como possibilitou a construção de conhecimento sobre o assunto e desvelou a necessidade de olhar para o luto como um dos vários aspectos determinantes da saúde e bem-estar dos idosos.



Descritores: Luto, Saúde do Idoso, Promoção da Saúde, Enfermagem.

Publicado
25-09-2024