EXPERIÊNCIA DE CUIDADOS PARA HOMENS COM DOENÇAS CARDIOVASCULARES NA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE

Palavras-chave: Atenção Primária, Saúde do Homem, Doenças Cardiovasculares

Resumo

Introdução: As Doenças Cardiovasculares (DCV) são aquelas que afetam o sistema circulatório, o qual é constituído pelas artérias, pelas veias e pelo coração. De modo geral, os componentes deste sistema operam em conjunto para manter funcional a circulação sanguínea, cuja importância é fundamental para a sobrevivência e qualidade de vida. As doenças que compõem essa categoria podem afetar diferentes estruturas e funções deste sistema, levando a efeitos prejudiciais sobre o estado circulatório. Sendo assim, quando presentes, as DCV estabelecem quadros que exigem atenção, uma vez que as possíveis complicações tendem a provocar efeitos sistêmicos que prejudicam a qualidade de vida e podem levar ao óbito. Historicamente, é observado que os homens tendem a procurar com menos frequência os serviços de saúde para realizar a prevenção de doenças (MOURA et al, 2014). Normalmente, este público procura o sistema apenas quando já apresentam sintomas, o que na maioria das vezes pode indicar a progressão da doença, o que torna  o prognóstico e a recuperação mais difíceis, necessitando de um atendimento mais emergente. Associado a este fato, Etienne (2018) aponta que a incidência de óbitos provocados por doenças não transmissíveis (as quais incluem as DCV) se encontra em torno de 52% no público masculino, extremamente relacionadas a baixa procura desse público pelos serviços de saúde. Comumente, o tratamento de DCV se dá na atenção primária, local onde o diagnóstico e manejo de doenças agudas de baixa gravidade ou doenças crônicas devem ser realizados. Desse modo, os homens que convivem com doenças crônicas devem manter um vínculo de atendimento na atenção primária para controlar o quadro clínico e evitar as complicações decorrentes de sua progressão. Em 2009, o Ministério da Saúde instituiu a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem (PNAISH), que tem como objetivo gerar melhora nas condições de saúde do homem, com grande expectativa na diminuição da morbimortalidade utilizando estratégias que facilitem o acesso aos serviços de atendimento de saúde e a diminuição de fatores de risco para esse público. Além disso, a política traz em sua descrição os princípios e diretrizes que embasam e exemplificam sua aplicação na prática, assim como os caminhos que irão direcionar suas ações. Os princípios incluídos nesta política se baseiam na humanização e na qualidade, além de trazer diretrizes sob o viés da integralidade, factibilidade, coerência e viabilidade (Brasil, 2008). De acordo com o contexto evidenciado, verificou-se a necessidade de identificar na literatura quais são as experiências de cuidados à saúde ofertadas a homens adultos com DCV no âmbito da atenção primária, tendo em vista a baixa disponibilidade de pesquisas acerca do tema. Objetivo: Descrever as experiências de estudos qualitativos a respeito dos cuidados ofertados na atenção primária a homens adultos com doenças cardiovasculares. Metodologia: Trabalhou-se com uma metassíntese qualitativa, a busca dos artigos analisados foram levantados nas bases PubMed, Web of Science, Embase, Science Direct, PsycINFO e LILACS com uma chave de busca que incluiu os três descritores: Primary Care, Men’s Health e Cardiovascular Diseases. Para a leitura de dados foi aceito referências encontradas nas bases de dados com os descritores, que buscaram apresentar como é feito o atendimento e cuidado de homens na APS, sendo referências originais disponíveis com texto completo nos idiomas português, inglês e espanhol e que utilizaram a pesquisa qualitativa em sua metodologia, sem data limite de publicação. Excluiu-se produções cinzentas e aqueles que abordaram em sua temática outros grupos de pessoas. Resultados e discussão: A partir da busca realizada, observou-se que a literatura disponível apresenta lacunas de resultados e informações sobre o assunto, especialmente de trabalhos que abordam como tema central a saúde do homem. Com o aumento exponencial da população em conjunto ao aumento da estimativa de vida, cerca de 77 anos no Brasil, sendo os homens com uma estimativa de 7 anos a menos que as mulheres (IBGE, 2021), o índice de pessoas com doenças não transmissíveis, em especial as cardiovasculares, tende a aumentar. Como consequência, a atenção primária precisará ofertar atendimento para um grupo significativamente maior de usuários do SUS. Além disso, a falta de procura dos homens nos centros de saúde tende a contribuir para o aumento da mortalidade desse grupo de pessoas. Assim como o aumento e envelhecimento da população brasileira, as demandas referentes a esse público tendem a aumentar consideravelmente, o que pode representar um problema de saúde pública relacionado à capacidade de resolução da Atenção Primária. Consequentemente, o aumento do número de homens que procuram os serviços de saúde devido a condições clínicas agudas aumentará,  traduzindo as dificuldades que os serviços de atenção primária à saúde ainda enfrentam na tentativa de buscar estratégias eficazes para promoção e prevenção da saúde deste público em específico. Nesse sentido, se faz necessário que os serviços de saúde estejam estruturados para se utilizar de estratégias que previnam o alto nível de morbimortalidade precoce ou incapacitante. Um estudo publicado por Oliveira et al (2020) destacou a existência de dois pontos conflitantes quando nos referimos a aplicação da PNAISH, de um lado temos um perfil masculino que tende a evitar a busca de prevenção nos serviços públicos de saúde, e de outro uma equipe multiprofissional que de modo geral, desconhece os princípios e diretrizes da PNAISH e não possuem a qualificação necessária para atender as demandas do público masculino. Essas questões são ainda mais evidenciadas quando analisamos as intervenções voltadas à promoção da saúde masculina, tal como o novembro azul, que centraliza o cuidado da masculinidade em um único órgão e desconsidera o contexto biopsicossocial em que os indivíduos estão inseridos. Nesse sentido, evidencia-se a importância de capacitações contínuas da equipe multidisciplinar em saúde para que possam promover um cuidado qualificado e conciso ao preconizado pela  PNAB e PNAISH. Com a devida capacitação, é possível proporcionar atendimentos em que o foco central seja a saúde do homem, abrangendo questões de saúde e doenças relacionadas ao serviço, compreendendo e considerando as dificuldades e tabus que envolvem seu processo de adoecimento e buscando meios de promover um equilíbrio entre uma forma eficaz de trabalho e autocuidado. Considerações finais: Atualmente, observa-se um crescimento nos índices de indivíduos que convivem com DCV, especialmente homens com Hipertensão Arterial Sistêmica e Diabetes Mellitus tipo 2. Com o passar dos anos essa estatística tende a aumentar, considerando que a população masculina irá envelhecer e demandar de um cuidado mais qualificado dos serviços públicos de saúde. Desse modo, a Atenção Primária à Saúde está propensa a uma sobrecarga de demandas, ao passo que precisará direcionar sua atuação para a prevenção, promoção e tratamento de DCV nesse público. Nesse sentido, a APS possui um papel fundamental na promoção da saúde desses indivíduos, considerando os diversos instrumentos que podem utilizar como estratégia para alcançar esse objetivo, tais como busca ativa, visitas domiciliares e campanhas de conscientização, entre outras. Além disso, é de suma importância que os serviços de saúde tenham acesso a  estratégias de qualificação de seus profissionais, para que seja possível atender integralmente as demandas que envolvem a promoção da saúde dos homens e a vivência de uma masculinidade saudável. Ademais, evidencia-se a necessidade de mais pesquisas que considerem as especificidades da promoção e manejo da saúde do homem no âmbito da atenção primária, especialmente no que se refere ao processo de implementação do cuidado integral à saúde em DCV e na promoção à saúde deste público.

Biografia do Autor

Hágata Cristina Mascarello, Universidade Federal da Fronteira Sul

Graduanda em Enfermagem pela Universidade Federal da Fronteira Sul

Bruna Bartolomey, Universidade Federal da Fronteira Sul

Graduanda em Enfermagem pela Universidade Federal da Fronteira Sul

Daniela Savi Geremia, Universidade Federal da Fronteira Sul

Enfermeira. Doutora em Enfermagem. Docente do curso de Graduação em Enfermagem da Universidade Federal da Fronteira Sul.

Jeferson Santos Araujo, Universidade Federal da Fronteira Sul

Enfermeiro. Doutor em Enfermagem. Docente do curso de Graduação em Enfermagem da Universidade Federal da Fronteira Sul.

Publicado
25-09-2024