EDUCAÇÃO E TESTAGEM PARA INFECÇÕES SEXUALMENTE TRANSMISSÍVEIS:
UM RELATO DE EXPERIÊNCIA ACADÊMICO
Resumo
Introdução: As Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs) podem ser desencadeadas por mais de 30 agentes etiológicos, entre eles vírus, bactérias e outros microrganismos e sua transmissão ocorre principalmente durante o contato sexual desprotegido com uma pessoa infectada, ou por meio do contato das mucosas e lesões de pele com secreções contaminadas (Brasil, 2023). A transmissão pode ocorrer, ainda, de forma vertical durante a gestação, o que pode culminar em abortos espontâneos, natimortos, baixo peso ao nascer e infecção congênita e perinatal (Ricci et al. 2019). No Brasil, o aumento na incidência de casos nos últimos anos colocou as IST como um problema de saúde pública, o qual impacta substancialmente a qualidade de vida das pessoas. Dados epidemiológicos globais corroboram a relevância das IST como importante demanda para enfrentamento. A Organização Mundial de Saúde (OMS) estima, anualmente, mais de 376 milhões de novos casos de quatro IST comuns (clamídia, gonorreia, sífilis e tricomoníase), com estimativas para o Brasil de cerca de 1 milhão de novos casos de sífilis registrados a cada ano. No contexto das IST estão, ainda, herpes genital, cancro mole, HPV, doença inflamatória pélvica, hepatites virais B e C e o vírus da imunodeficiência humana (HIV) (Brasil, 2023; Pereira et al, 2019). Considerada questão de saúde pública complexa, influenciada por fatores socioeconômicos, culturais e de acesso aos serviços de saúde, a abordagem dessas infecções requer estratégias amplas que envolvam fatores sociais, comportamentais e estruturais. Neste sentido, a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) idealizou o Plano de Ação para Prevenção e Controle do HIV/IST (2016-2021), o qual objetiva acelerar o fim das epidemias do HIV e das IST como questões de saúde pública na Região das Américas até 2030 (Miranda et al. 2021). No contexto brasileiro, o Sistema Único de Saúde (SUS) utiliza como estratégia para detecção e tratamento, a testagem rápida. O recurso oferece à população testes rápidos que exigem uma pequena quantidade de sangue retirada da polpa digital que, associada a um reagente, fornece resultados em até 30 minutos. Consiste em uma forma ágil de rastreamento, prevenção e encaminhamento para tratamento, enquanto fornece aconselhamento para indivíduos em situação de risco. Os testes rápidos detectam sífilis, HBV, HCV e o HIV. A sífilis é uma doença bacteriana que tem múltiplas manifestações e estágios causando danos graves ao organismo. As Hepatites B e C são causadas por vírus e agridem o fígado. Já o HIV ataca o sistema imunológico e, se não tratado, é o causador da aids. Estas condições, incluídas no grupo das IST, podem levar a óbito quando não tratadas corretamente. Sensibilizados por este cenário e desafiados para estratégias de enfrentamento, um grupo acadêmico de enfermagem participou de atividade de educação em saúde e testagem rápida para identificação da sífilis, HIV, HBV e HCV na população em geral, ocorrida no terminal urbano de Chapecó/SC, com o intuito de facilitar o acesso ao reconhecimento dessas doenças/infecções. Objetivo: relatar a experiência de participação acadêmica em atividade de testagem rápida e educação em saúde para IST, voltada à população em geral, Chapecó/SC. Metodologia: a atividade ocorreu no dia 1º de dezembro 2023, em alusão ao Dia Mundial de Combate à Aids e envolveu estudantes e docentes do curso de enfermagem da Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS), bem como profissionais do Serviço de Atendimento Especializado (SAE) do município. O local da abordagem foi o Terminal Urbano e consistiu na captação de usuários para orientações em saúde e convite à testagem rápida para IST. A captação ocorreu através da abordagem com material explicativo sobre as IST elaborado por acadêmicos do curso, oportunidade para esclarecimentos sobre as doenças/infecções e testes rápidos realizados. Os usuários eram convidados a participar da testagem e, em caso de aceite, acompanhados até o local onde ocorria o procedimento. Ao mesmo tempo que um grupo de estudantes fazia a orientação e convite às pessoas que circulavam pelo espaço, outro grupo realizava os testes em uma sala ao lado do terminal urbano. Após o tempo de execução, leitura e interpretação dos resultados, os testantes eram encaminhados individualmente a uma sala para aconselhamento pós-teste onde, além de receberem os resultados, obtinham orientações adicionais e esclarecimento de dúvidas sobre as doenças, transmissão, prevenção e tratamento. Resultados e discussão: foram testadas 66 pessoas, totalizando 264 testes rápidos para IST realizados na atividade. Considerada a grande circulação diária de pessoas pelo local selecionado, foi possível captar diferentes faixas etárias para orientação e testagem. Na oportunidade da abordagem os acadêmicos exercitaram a observação, a comunicação e a criatividade como instrumentos para o cuidado e educação em saúde, além da empatia e interação ao sanar dúvidas em relação ao tema, tornando o momento leve, agradável e descontraído. A abordagem educativa permitiu trocas e construção de conhecimentos entre os acadêmicos, profissionais de saúde e população que se dispôs e destinou seu tempo para realizar as testagens e cuidar da saúde. Campanhas de prevenção às IST são estratégias amplamente utilizadas para educação e sensibilização das pessoas sobre saúde sexual e reprodutiva. Ao tempo em que oferecem oportunidade para informar as pessoas sobre a responsabilidade de adotar comportamentos saudáveis como uso de preservativos e teste regular de IST, estas atividades promovem o (re)conhecimento da condição sorológica de cada indivíduo a cada doença/infecção, avançando no rastreamento e tratamento para interrupção da cadeia de transmissão e, melhoria da vida e saúde dos envolvidos (Ricci et al, 2019). A abordagem e testagem evidencia o impacto positivo das campanhas de prevenção e educação em saúde referente à disseminação de conhecimentos sobre as medidas de prevenção, formas de contágio, risco de infecção, identificação, rastreamento e como, em conjunto da adesão medicamentosa, podem limitar a transmissão de IST. Ainda, evidenciam a necessidade da ampliação da oferta de educação em saúde e testagem rápida em outros locais da cidade, com o objetivo de atingir um maior número de pessoas que, normalmente, não se dirigem às unidades de saúde. No entanto, cabe destacar que campanhas de prevenção e educação em saúde não devem se limitar à transmissão de informações ou realização de procedimentos, mas sim ser consideradas como um processo contínuo e participativo, as quais promovem atitudes responsáveis em relação à sexualidade, ressaltam a importância da prevenção e cuidados com a saúde e que envolve não somente o esforço dos profissionais, mas também dos usuários. Por conseguinte, é fato que, as iniciativas voltadas para a detecção precoce dessas infecções são fundamentais, mesmo na ausência de sintomas, para que se inicie tratamento, haja interrupção da cadeia de transmissão e, principalmente, aproxime a população da informação. No desenvolvimento desta atividade, a exemplo de tantas outras de igual abordagem relatadas, foi observada uma dificuldade na prospecção de pessoas, já que o tema é percebido como delicado e controverso pela maioria delas. Dessa forma, consideramos ser igualmente importante integrar a educação em saúde em diversos contextos, como escolas, locais de trabalho e comunidades, para criar uma sociedade mais informada e consciente, capaz de enfrentar os desafios das IST de maneira proativa e colaborativa. É necessário, portanto, a desmitificação das IST por meio da educação em saúde, através de uma abordagem que promova uma compreensão mais ampla e sem estigma dessas condições. Ainda, ao desfazer mitos e oferecer informações precisas, os programas educacionais capacitam as pessoas a tomarem decisões informadas sobre sua saúde sexual que contribuem para a redução do estigma social associado à estas doenças/infeções, encorajando a empatia e o apoio às pessoas afetadas (Spindola et al, 2021). Da mesma forma, os profissionais de saúde devem estar sensibilizados e adotar comportamentos positivos referentes à tomada de decisão sobre acolher, respeitar, ouvir, cuidar e responder com qualidade as dúvidas da população geral. Ao integrar a educação em saúde em diferentes níveis, desde ambientes escolares até comunidades e mídias sociais, cria-se uma cultura de abertura, diálogo e aceitação da temática pelos envolvidos, sejam estes profissionais responsáveis pelo cuidado, sejam usuários com demanda por. A mobilização em torno da abordagem e testagem para IST fortalece não apenas a prevenção destas, mas sobretudo promove uma abordagem mais inclusiva e compassiva em relação à saúde sexual, construindo uma sociedade mais informada, saudável e solidária. Considerações finais: educação e testagem para IST são temas relevantes no contexto da saúde pública e promoção da saúde sexual. A participação oportunizou entendimento sobre as estratégias de prevenção, o impacto da educação para a saúde e a eficácia das campanhas de testagem. Através da educação, é possível sensibilizar as pessoas para a prevenção de IST, da realização regular de testes e tratamento adequado. A experiência ressignificou, ainda, a importância do acesso aos serviços de testagem e tratamento, especialmente para grupos marginalizados/vulneráveis, que enfrentam barreiras sociais, econômicas ou culturais. Estratégias como a oferta de testes em locais de grande fluxo e fácil acesso e estabelecimento de parcerias entre instituições de ensino e serviço, devem ser exploradas para resultados positivos. Este relato não se propõe a simples descrição de atividades, mas sobretudo a provocar reflexões sobre resultados alcançados, desafios enfrentados e lições aprendidas, o que contribuiu para o aprimoramento das práticas de prevenção e promoção da saúde e da enfermagem. Contribuiu, ainda, para o fortalecimento da educação em saúde e prevenção de doenças; para o estreitamento de relações ensino-serviço; e favoreceu, de forma direta e enriquecedora, a formação dos acadêmicos em enfermagem. Intervenções acadêmicas voltadas às necessidades do serviço e demandas dos usuários promovem a qualificação da formação do enfermeiro ao aproximá-lo da realidade e provocá-lo para ações e atitudes proativas e colaborativas. Ainda, fortalece o vínculo entre universidade, serviço e comunidade regional.