BOLHAS ACADÊMICAS NA DOCÊNCIA UNIVERSITÁRIA NO SUL DO BRASIL:

UM ESTUDO QUANTITATIVO DO BEM-ESTAR

  • Mariana Munhoz Gallina UFFS
  • Ana Cristina Viana Campos
  • Jeferson Santos Araújo
Palavras-chave: : Docentes; Bem-Estar Psicológico; Universidades; Enfermagem

Resumo

BOLHAS ACADÊMICAS NA DOCÊNCIA UNIVERSITÁRIA NO SUL DO BRASIL: UM ESTUDO QUANTITATIVO DO BEM-ESTAR
Introdução: A saúde mental de muitos docentes universitários estar inserida dentro de uma bolha,
ou seja, apresenta-se como um tabu acadêmico no qual pouco se faz presente nas rodas de
discussões institucionais. Contudo, as crescentes pressões por resultados acadêmicos positivos
entre os docentes causam stress e mudança de comportamentos que geram transtornos de depressão
e ansiedade, os quais consequentemente ameaçam diretamente o bem-estar geral da saúde.
(HARTWELL, 2015). As bolhas acadêmicas não se restringem apenas ao cenário brasileiro,
estudiosos destacam que em diversas regiões do mundo docentes universitários enfrentam questões
relacionadas a carga de trabalho excessiva, obstáculos na obtenção de ajuda para projetos,
distanciamento profissional de colegas, escassez de recursos laborais, remuneração inadequada e
baixo prestígio profissional, os quais geram insatisfação com a profissão em cerca de 30% a 50%
dos educadores e como um dos possíveis resultados, o adoecimento. (MCLEAN; SANDILOS,
2022). Objetivo: Analisar a relação entre bem-estar na docência universitária no Sul do Brasil.
Metodologia: O presente estudo faz parte do projeto guarda-chuva “O preço da carreira acadêmica
no Brasil: um estudo multinível sobre a invisibilidade da saúde mental de docente universitários”
e este recorte analisou os dados referentes à região Sul. Os docentes responderam a perguntas sobre
o perfil sociodemográfico (idade, sexo, cor de pele, estado civil, renda); WHO-5 (Índice de BemEstar da Organização Mundial da Saúde). O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa
da Universidade Federal do Pará (CAAE: 69624423.2.0000.0018). A coleta de dados foi realizada
pelo envio do formulário no Google Forms para o e-mail, redes sociais e canais de comunicação
das instituições universitárias e grupos de WhatsApp dos docentes de diversas instituições. A
análise descritiva dos dados foi realizada no programa Microsoft Excel 2013 e apresentados no
formato de tabelas e gráfico. Resultados: Participaram do estudo 121 docentes da Região Sul do
1 As bolhas neste estudo são utilizadas como uma figura de linguagem para se referir aos paradigmas, dificuldades ou
barreiras existentes em um determinado contexto.
Brasil, predominantemente caracterizam-se com idade entre 23 e 44 anos (50,4%), cor de pele
branca (86,8%), sexo ao nascer feminino (55,4%), casadas(os) (47,1%), com renda familiar entre
10 e 20 salários-mínimos (46,3%) e sem filhos (36,4%). Em sua própria interpretação, se
autodeclaram apresentar boa saúde (41,3%), praticam atividade física regularmente (57%) e
destacam não conhecerem sobre as políticas institucionais de saúde mental nas instituições onde
trabalham (39,7%), conforme destacado na tabela 1.
Tabela 1 - Caracterização dos docentes universitários da região Sul do Brasil, Chapecó - SC, 2024.
Variável n %
Idade em anos
[23 a 43[
[44 a 71]
61
60
50,4
49,6
Cor de pele
Amarela
Branca
Parda
Preta
Prefere não responder
3
105
10
1
2
2,5
86,8
8,3
0,8
1,7
Sexo ao nascer
Feminino
Masculino
67
54
55,4
44,6
Estado Civil
Casado(a)
Divorciado(a) ou separo(a)
Solteiro(a)
União estável
Viúvo(a)
Vivendo com companheiro(a)
89
36
23
18
1
13
47,1
7,4
19,0
14,9
0,8
10,7
Renda familiar (em salário-mínimo)
1-2
3-5
5-10
10-20
Mais de 20 salários-mínimos
1
7
47
56
10
0,8
5,8
38,8
46,3
8,3
Domicílio compartilhado
Amigos/Colegas
Família (cônjuges e filhos)
Outros
Outros parentes
2
92
3
4
1,7
76,0
2,5
3,3
Sozinho(a)
Prefere não responder
19
1
15,7
0,8
Número de filhos
0
1
2
3
4
44
38
33
4
2
36,4
31,4
27,3
3,3
1,7
Autoavaliação do estado de saúde
Ruim
Nem ruim, nem boa
Boa
Muito boa
15
33
50
23
12,4
27,3
41,3
19,0
Prática de Exercício físico
Não pratica atualmente, mas já praticou
Não pratica atualmente e nunca praticou
Pratica atualmente, às vezes
Pratica atualmente, raramente
Pratica atualmente, regularmente
13
6
20
13
69
10,7
5,0
16,5
10,7
57,0
Conhecimento sobre a Política institucional de
prevenção à saúde mental
Não
Não sei informar
Sim
48
46
27
39,7
38,0
22,3
Na Tabela 2, apresentada a seguir, são estratificadas as características sobre o bem-estar
psicológico dos docentes, destacando-se a prevalência frequentemente de alegria e bom humor
(43%), contudo às vezes também prevalece a sensação de estar calmo e relaxado (36,4%), ativos
e vigorosos (44,6%), revigorados e relaxados (35,5%), além de preencherem a vida diária com
coisas que vos interessam (38%).
Tabela 2 - Bem-estar psicológico dos docentes universitários da região Sul do Brasil, Chapecó -
SC, 2024.
Variável Nunca Raramente Às vezes Sempre Frequentemente
n % n % n % n % n %
Tenho me sentido
alegre e de bom
humor
10 8,3 48 39,7 8 6,6 52 43,0
Tenho me sentido
calmo e relaxado
10 8,3 31 25,6 44 36,4 3 2,5 33 27,3
Tenho me sentido
ativo e vigoroso
6 5,0 21 17,4 54 44,6 9 7,4 31 25,6
Acordo me sentindo
revigorado e
relaxado
16 13,2 31 25,6 43 35,5 9 7,4 22 18,2
Minha vida diária
tem sido preenchida
com coisas que me
interessam
2 1,7 15 12,4 46 38,0 17 14,0 41 33,9
Na figura 1, o histograma demonstra que a grande maioria dos docentes têm medias de escore total
entre 60 e 80, indicando alto bem-estar.
Figura 1: Histograma de distribuição do escore total do índice de bem-estar dos docentes
universitários da região Sul do Brasil, Chapecó - SC, 2024.
Fonte: dados da pesquisa.
Analisando a tabela 3, observa-se maiores médias de bem-estar entre os docentes de 44 a 71 anos,
do sexo masculino e cor de pele branca. Apesar da amostra ser pequena para mostrar diferenças
estatísticas, serve de alerta para um possível perfil docente de piores indicadores de saúde mental.
Tabela 3 - Comparação entre as médias e desvio-padrão entre bem-estar e faixa etária, cor de pele
e sexo ao nascer de professores universitários do Sul do Brasil. Chapecó - SC, 2024.
O bem-estar entre os docentes universitário existe, contudo ele é um privilégio, de poucos, pois
prevalece entre homens brancos com idade entre 44 a 71 anos. Entre as evidencias analisadas, por
mais que os docentes se autodeclarem com bom estado de saúde, os testes estáticos realizados
possibilitam inferir que as mulheres mais jovens que exercem à docência universitária e
apresentam a cor de pele preta, vivenciam baixo índice de bem-estar na região Sul do Brasil. Both
e colaboradores (2014) chamam atenção para esta característica, ao advogar que em seu estudo
realizado com 1645 docentes, geograficamente distribuídos entre os estados do PR, SC e RS,
constatou-se baixo índice de bem-estar entre as mulheres, e disparidades de renda quando
comparadas aos homens (Both et al., 2014). Esta pesquisa revelou também, que prevalece entre os
docentes o sentimento de alegria e de bom humor, todavia, o trabalho é um catalisador que vos
causa alto estresse, o que faz com que eles não se sintam calmos e relaxados, contudo,
ocasionalmente se sentem ativos e vigorosos, apesar de nem sempre se ocuparem com atividades
que os geram prazer em desenvolver. Pinho e demais pesquisadores (2023) indicam que esta
realidade não é exclusivamente relacionada ao contexto brasileiro, em sua revisão integrativa sobre
a temática, evidenciaram que os docentes apresentam-se cada vez mais insatisfeitos(as) e
apresentando altas prevalências de transtornos mentais e sintomas depressivos derivados do
trabalho. Um indicador alarmante que afeta diretamente a qualidade educacional. Considerações
finais: Os docentes universitários no Sul do Brasil apresentam seu bem-estar geral ameaçado,
principalmente quando são mulheres com idade abaixo de 43 anos e de cor de pele preta. De certa
forma, esta população sobrevive dentro de bolha acadêmica que pode desencadear um
adoecimento mental no trabalho. O enfermeiro frente a este contexto, deve intervir com cuidados
individualizados, integralizando as necessidades as particularidades que desencadeiam os fatores
de adoecimento, os quais ultrapassam a oferta de cuidados ao corpo biológico. Assim, ações de
advocacy em defesa da implementação de políticas universitárias protecionistas de saúde mental,
bem como melhorias ao acesso e acessibilidade aos cuidados de saúde, fazem-se fundamentais
para o rompimento desta bolha.
Descritores: Docentes; Bem-Estar Psicológico; Universidades; Enfermagem.
REFERÊNCIAS
Variável Média DP
Idade em anos
[23 a 43[ 67,53 2,280
[44 a 71] 69,45 2,405
Cor de pele
Branca 69,06 1,803
Outras 64,75 4,020
Sexo ao nascer
Masculino 68,77 2,634
Feminino 68,24 2,117
1- BOTH, J. et al. Bem-estar do trabalhador docente de educação física da região sul do Brasil
de acordo com os ciclos vitais. Revista Brasileira de Educação Física, v. 28, p. 77–93,
abr. 2014.
2- HARTWELL, H. Saúde mental e bem-estar. Perspectivas em saúde pública, v.135, n.1,
pág. 2-2, 2015.
3- MCLEAN, L.; SANDILOS, L. Teachers’ Well-Being: Sources, Implications, and
Directions for Research. Routledge Resources Online - Education, maio 2022.
4- PINHO, P.S., FREITAS, A.M.C., PATRÃO, A.L., AQUINO, E.M.L. Estresse
ocupacional, saúde mental e gênero entre docentes do ensino superior: revisão integrativa.
Saude soc, v.32, n.4, p.e210604, abr. 2023.

Publicado
25-09-2024