A CONSULTA DE ENFERMAGEM COMO INSTRUMENTO PARA A PROMOÇÃO DO AUTOCUIDADO

UM RELATO DE EXPERIÊNCIA

  • Laysa Anacleto Schuh UFFS
  • Vinicius Ansolin Universidade Federal da Fronteira Sul - UFFS
  • Bruna Dias de Oliveira Universidade Federal da Fronteira Sul - UFFS
  • Kelli Maria Kreuz Universidade Federal da Fronteira Sul - UFFS
  • Maysa Corrêa Antunes Universidade Federal da Fronteira Sul - UFFS
  • Yaná Tamara Tomasi Universidade Federal da Fronteira Sul - UFFS
Palavras-chave: Autocuidado; Adesão Terapêutica; Consulta de Enfermagem; Promoção da Saúde; Atenção Primária à Saúde

Resumo

Introdução: a Consulta de Enfermagem é uma atribuição privativa do Enfermeiro que baseia-se em um método científico para identificar situações de saúde/doença, prescrever e implementar cuidados de Enfermagem que contribuam para a promoção, prevenção, proteção da saúde, recuperação e reabilitação do indivíduo, família e comunidade (COFEN, 1993). Durante a consulta há um espaço apropriado para o desenvolvimento das ações de cuidado, na qual o enfermeiro tem a possibilidade de ouvir as demandas, fazer uma avaliação minuciosa das condições de saúde físicas e psicoemocionais, conhecer mais profundamente o usuário e orientá-lo acerca de sua saúde. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), o autocuidado é cuidar de si mesmo, buscando suprir as necessidades do corpo e da mente, adotando hábitos saudáveis, a exemplo de: alimentação balanceada, práticas regulares de atividades físicas, lazer e manutenção de uma vida social (OMS, 2022). Ainda, a OMS considera que a adesão terapêutica não se restringe ao uso de medicações advindas de uma logística em que o paciente apenas atua como um destinatário passivo das recomendações acerca do seu tratamento repassadas pelo profissional de saúde, mas sim compreende à atuação do paciente como agente ativo no processo de procura de atendimento, uso adequado das medicações, imunizações, comparecimento às consultas de acompanhamento e mudanças no estilo de vida (OMS, 2003). O cuidado integral no contexto da consulta de enfermagem envolve não somente a visão unidirecional do cuidado, na qual o profissional analisa o caso e fornece as recomendações ao paciente acerca do seu estado de saúde, mas também avalia o grau de autocuidado e compreensão do processo de saúde-doença do paciente e garante que o mesmo tenha clareza sobre tal, permitindo assim a responsabilização dele em realizar as mudanças adequadas na sua vida para atingir o sucesso terapêutico. Em vista disso, questiona-se: Qual a importância da consulta de enfermagem para a promoção do autocuidado no tratamento de pacientes hipertensos e diabéticos? Objetivo: relatar a experiência de acadêmicos de enfermagem com o uso da consulta de enfermagem como instrumento para o autocuidado. Metodologia: trata-se de um estudo descritivo, a partir do relato de experiência do grupo de acadêmicos do curso de Enfermagem do 6° período da Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS), focado na condução de 12 consultas de enfermagem a pacientes hipertensos e diabéticos, com o objetivo principal de promover o autocuidado e acompanhamento dos mesmos. As atividades descritas foram desenvolvidas em um Centro de Saúde da Família (CSF), localizado em Chapecó/SC. Para as consultas foram identificados pacientes diagnosticados com hipertensão arterial e diabetes mellitus, identificados a partir de critérios de inclusão e exclusão previamente estabelecidos. Desta forma, foram incluídos pacientes que apresentavam exames de rotina do diabético e do hipertenso atrasados ou com resultados alterados. As consultas foram realizadas tanto em domicílio quanto em consultório. Pacientes de livre demanda que não eram hipertensos ou diabéticos foram excluídos. O planejamento das consultas foi cuidadosamente elaborado visando à abordagem integral e individualizada de cada paciente acerca de suas rotinas e hábitos. Foram programadas 4 consultas em domicílio e 8 em consultório. As consultas foram estruturadas utilizando o método que contempla o Processo de Enfermagem, e consta todas as ações desenvolvidas na assistência prestada, no subjetivo “S” consta as informações mais gerais colhidas durante a consulta como, por exemplo, o motivo ou problema apresentado no momento; objetivo “O”, apresenta informações como exame físico realizado no dia e também resultado de exames; avaliação “A”, nesta etapa o profissional realiza a avaliação geral baseado nas queixas do paciente e depois define os diagnósticos de enfermagem baseados na Classificação Internacional para a Prática de Enfermagem (CIPE); e por último o planejamento “P” onde é elencado os cuidados e orientações para os pacientes com base nos diagnósticos (COREN/SP, 2013). A aplicação deste método permitiu uma análise abrangente e ordenada das informações coletadas durante as consultas. Cada componente do método foi aplicado de acordo com as especificidades de cada encontro, contribuindo para a formulação de diagnósticos de enfermagem, estabelecimento de metas de cuidado e a implementação de intervenções direcionadas. Durante as consultas domiciliares, a observação do ambiente doméstico também foi integrada à coleta de dados. Resultados e discussão: as vivências das consultas de enfermagem, realizadas em visitas domiciliares e em consultório, na unidade de saúde, possibilitaram aos estudantes observarem em diferentes pontos de vista quais são as realidades de cada paciente, de maneira individual, e quais são suas limitações e dificuldades no autocuidado e na percepção da própria saúde. Ao realizar as consultas, visando responder ao método de escrita da anamnese, foram realizadas perguntas para coletar informações sobre a história clínica, incluindo questões sobre alimentação diária, sono e repouso, prática de exercícios físicos, higiene, uso das medicações e eliminações. Nesta etapa, foi possível investigar e ver a forma que os pacientes realizam o seu autocuidado no dia a dia e o manejo de suas doenças crônicas. No exame físico realizado, havia coleta dos sinais vitais juntamente com exame de hemoglicoteste, e os principais fatores observados foram os aspectos da pele, sensibilidade dos pés, medidas de circunferência da panturrilha, cintura e aspectos de olhos e mucosas. Aqui, os acadêmicos puderam perceber a relação teoria-prática, através da avaliação detalhada das principais alterações físicas esperadas nesses perfis de pacientes. Ainda, evidenciou-se o impacto na saúde física dos indivíduos que não possuem um hábito de vida adequado para a sua condição de saúde, como alterações da pele, visão e sensibilidade. Na sequência, era feita a análise do caso e passadas as orientações sobre as mudanças necessárias para cada paciente, pensando na melhora da adesão do paciente ao tratamento e melhora na qualidade de vida. Considerando a experiência vivida pelos estudantes, uma questão de importância para ser discutida é justamente a dificuldade encontrada em obter um feedback positivo dos pacientes após as orientações, em razão da maioria possuir limitações na compreensão linguística, financeira, rede de apoio e também pela resistência à sensibilização sobre os agravos que podem surgir em decorrência das suas doenças. Como consequência da dificuldade na compreensão das orientações repassadas, encontrou-se fortemente a correlação com a capacidade do paciente em dimensionar a gravidade de suas doenças, seus impactos na vida futura e em como é fundamental adotar o processo terapêutico por completo, incluindo a consultas, uso dos medicamentos e mudanças no estilo de vida. Não obstante, os fatores socioeconômicos de cada indivíduo impactam diretamente no seu processo terapêutico, afinal, a alimentação e a prática de exercícios físicos dependem também de condições financeiras, muitas vezes ausente nos lares. Pode se perceber um déficit muito grande nos pacientes em realizarem o monitoramento das doenças crônicas e muitas vezes entenderem os impactos disso, como, por exemplo, uma alimentação com pouco sódio para o controle da hipertensão arterial e uma dieta com pouca ingesta de carboidratos e açúcares para controle da diabetes. Partindo-se da ideia de que o autocuidado e a participação da família no processo terapêutico é de suma importância para o tratamento, é necessário implementar estratégias que possam fortalecer o vínculo do paciente na qualidade do cuidado que é prestado. Sob esse contexto, os estudantes desenvolveram estratégias que facilitaram a abordagem de cada paciente, como a comunicação adequada com a condição de cada um, permitindo que o mesmo conseguisse sanar suas dúvidas e relatar suas queixas, a confecção de uma caixa organizadora de medicamentos feita para um paciente com dificuldades na organização e no armazenamento dos mesmos, e o repasse de orientações condizentes com a possibilidade de cada um, considerando suas preferências alimentares, condições socioeconômicas e rotina diária. Tudo isso visou ampliar a adesão ao processo terapêutico dos pacientes e estimular o autocuidado para a melhora na qualidade de vida. Vale ressaltar a importância da família como principal rede de apoio e ajuda a rotina destes pacientes, tanto na manutenção da saúde como na convivência com a doença, visto que geralmente a mudança de rotina acaba afetando a todos. Porém, ao longo do estágio foi possível ver que nem todos os pacientes possuem esse apoio familiar para o enfrentamento das doenças, em especial os pacientes idosos que, por muitas vezes, não possuem esse apoio e acabam mantendo os hábitos errados e agravando seus quadros de saúde. Para que a confiança dos usuários seja conquistada com maior firmeza, a Consulta de Enfermagem deve ser cada vez mais usada como uma estratégia de trabalho, incluindo e valorizando-a nos programas de saúde como uma ferramenta que possui a capacidade de promover um atendimento com mais eficácia, responsabilidade e humanização para a população (Machado; Anders; 2021). Portanto, concorda-se que a importância da consulta de enfermagem no manejo de pacientes diabéticos e hipertensos é fundamental para atingir o sucesso terapêutico tão necessário para o alcance da melhora na qualidade de vida dessa população. Considerações finais: é válido, portanto, evidenciar que o autocuidado é de cunho subjetivo e reflexivo que irá contribuir para o bem-estar do paciente, visando a vinculação do papel da consulta de enfermagem no auxílio, respeitando a sua vivência e possuindo como meta sua qualidade de vida. Outro ponto destacado, é o diálogo paciente-profissional, reforçando-o como único conhecedor da situação do processo saúde-doença e único capaz de contribuir, visto que, é o único que a vive. O cuidado de si, apontado anteriormente, novamente remete o sujeito a reflexão do seu estilo de vida, agir e ser, relacionando suas escolhas de vida diárias com o seu quadro de saúde. A Consulta de Enfermagem, portanto, torna-se, além de tudo, um guia facilitador para auxiliar a população diabética e hipertensa na prática do autocuidado e na mudança do estilo de vida que contribuem diretamente no tratamento para tais doenças crônicas.

Publicado
25-09-2024