AUDITORIAS EM SEGURANÇA DO PACIENTE E SERVIÇO DE CONTROLE DE INFECÇÕES RELACIONADAS À ASSISTÊNCIA À SAÚDE EM UNIDADES DE TERAPIA INTENSIVA DE UM HOSPITAL DE GRANDE PORTE DO OESTE CATARINENSE:

UM RELATO DE EXPERIÊNCIA

  • João Vitor Kroth UFFS - Universidade Federal da Fronteira Sul
  • Vinicius Ansolin
  • Renata Rocha Cardozo
  • Tatiana Gaffuri da Silva
  • Dhiane Terribile
  • Silvia Silva de Sousa
Palavras-chave: segurança do paciente; gestão em saúde; auditoria em saúde; vigilância de serviços de saúde; unidades de terapia intensiva.

Resumo

Introdução: no Brasil, as avaliações hospitalares foram instituídas na década de 30, ainda na vigência da Comissão de Assistência Hospitalar do Ministério da Saúde, pasta essa não mais existente (TOMASICH et al., 2020). Num contexto mundial, a prática segura e não lesiva no cuidado em saúde é defendido pela Organização Mundial de Saúde, orientando que cada localidade geopolítica implemente a cultura de segurança nos ambientes de saúde. Desse modo, evidencia-se o fato da preocupação e necessidade dos espaços de assistência à saúde prezarem pela qualidade da assistência e gestão nos serviços ofertados. Ainda no contexto brasileiro, dispõe-se a obrigatoriedade de serviços nos ambientes hospitalares que tem como objetivo, orientar a gestão e implementação de ações que melhorem a qualidade e, principalmente, a segurança do paciente e o controle de infecção. São eles o Núcleo de Segurança do Paciente – instituído pela Portaria MS/GM nº 529/2013 através do Programa Nacional de Segurança do Paciente – e o Serviço de Controle de Infecções Hospitalares – regulamentado pela lei federal nº 9431/1997. As atividades de ambos visam orientar condutas de assistência sob preceitos de não causar danos ou, potencializar a segurança por meio de boas práticas. Assim, induzem esforços e moldam suas práticas de trabalho buscando a qualidade de atendimento hospitalar por meio da sensibilização e mudança da cultura de segurança no ambiente. As atividades incluem aprimoramento da equipe multiprofissional por meio da educação permanente, capacitações, auditorias, notificações, cursos e uma gama de metodologias pedagógicas. Com relação a realização de auditorias, constitui-se numa prática amplamente utilizada por instituições públicas e privadas, como uma ferramenta que auxilia em demandas assistenciais, epidemiológicas, para distribuição de recursos materiais, de gestão financeira e de qualidade (FABRO, et al., 2020). Ou seja, um instrumento sistematizado e analítico muito eficaz para direcionamento de melhorias de gestão e qualificação da assistência. A aplicação do instrumento nas unidades de internação necessitava de caráter particular em comparação com demais unidades, visto que, muitas unidades, assim como as de terapia intensiva possuem como características básicas o fato de serem locais de desafiadores e complexos, com recursos tecnológicos, pacientes em condições graves de saúde e recursos humanos com conhecimentos intervencionistas avançados (SILVA 2021). A necessidade de aplicar o instrumento de auditoria, veio por solicitação do núcleo e do serviço de controle de infecção durante a realização de um programa de extensão voltado à segurança do paciente. O serviço de auditor, está relacionado há corrigir, adequar e aperfeiçoar o serviço (FABRO et al., 2020). Com relação à Extensão Universitária tem sido idealizada como uma das formas de aprofundar a relação das universidades com a sociedade e no contexto da saúde como meio de fortalecer o Sistema Único de Saúde. A extensão, inserida no processo de formação, por meio de interlocutores como docentes e extensionistas, têm proposto caminhos que remetem a reflexão e debate sobre a sociedade, suas fortalezas e mazelas e sobre o seu próprio potencial enquanto instrumento de ação na dimensão social da universidade (KOGLIN;  KOGLIN, 2018). Desse modo, o presente trabalho trata-se de um relato de experiência enquanto auditores nas unidades de terapia intensiva de um hospital de grande porte do oeste catarinense. Metodologia: Relato de experiência decorrente de uma ação extensionista vinculada ao projeto de extensão intitulado Segurança do Paciente e Integração entre Ensino e Serviço: uma proposta de extensão universitária. Neste projeto foram realizadas atividades de auditoria interna em duas unidades de terapia intensiva adulto, uma conveniada ao sistema único de saúde e  outra a demais convênios, além das unidades de terapia intensiva pediátrica e neonatal. A ação de extensão foi desenvolvida durante o ano letivo de 2022. Foram realizadas visitas semanais por um período aproximado de 3 horas/dia/semana. Tanto o serviço do núcleo de segurança como o do controle de infecção já possuíam demandas específicas. Para o núcleo de segurança  foi auditado a identificação segura, legibilidade das identificações, preenchimento de quadros, avaliação dos riscos de queda, lesão por pressão, identificação de alergias, identificação de equipos e frascos para infusão. Por sua vez, as necessidades do Serviço de Controle de Infecção estavam voltadas para auditoria de materiais, identificação e quartos de isolamento de forma adequada; presença de materiais para higienização das mãos em postos de enfermagem, corredores e quartos; identificação, posicionamento, uso adequados das sondas vesicais de demora (SVD) e da bolsa coletora de diurese. Cabe destacar que os indicadores auditados foram escolhidos pelos serviços, de acordo com as portarias e normas técnicas vigentes.  Algumas alterações de aperfeiçoamento do instrumento foram realizadas após sugestão dos estudantes participantes deste projeto de extensão. O início da aplicação se deu após um treinamento inicial sobre isolamentos, higienização de mãos, equipamento de proteção individual (EPI), comunicação assertiva e notificação às equipes. Discussão e resultados: a experiência enquanto auditores do serviço foi enriquecedora pois permitiu ampliar a visão do conjunto que constitui o cuidado de enfermagem, deixando de centralizar o foco na assistência direta ao paciente, para ver a gestão e a educação continuada como de extrema importância para o andamento de um serviço qualificado. Inicialmente os auditores estudantes, partícipes do projeto, eram acompanhados por um profissional da enfermagem que já realizava as auditorias e orientações sobre as melhores práticas nos espaços hospitalares, na busca por facilitar tanto a auditoria, bem como adentrar aos espaços do hospital de modo harmonioso. Inicialmente, houve resistência dos profissionais da enfermagem com relação a permanência dos estudantes para a realização da atividade. A  percepção era de que não estavam preparados para esta função, de extrema importância que poderia colocar em exposição a unidade de trabalho de cada um dos enfermeiros. Apesar disso, com o passar do tempo, os estudantes desenvolveram habilidades comunicativas e relacionais, transpondo barreiras o que facilitou sobremaneira vossa aceitação. Durante a auditoria, a fim de ajustar e alcançar metas de forma mais rápida e menos punitiva, as notificações eram feitas verbalmente ao profissional enfermeiro responsável pela unidade avaliada, desconstruindo o caráter punitivo, propiciando uma comunicação construtiva com o intuito de qualificação do serviço e resolutividade de problemas. No decorrer das atividades extensionistas, embasados no critério de melhor gestão financeira, menor produção de resíduos sólidos, dentre outros, o serviço de controle de infecção iniciou as deslegitimação de protocolos, práticas e cultura do uso de luvas, ganhando assim, um movimento chamado de “desenluvamento” liderado pelo enfermeiro coordenador do setor. Houve também adaptações das pulseiras de identificação dos pacientes visando aderência mesmo diante de diferentes condições clínicas como edema ou ainda em situações de contenções mecânicas por meio da rotatividade dos membros. Com relação a  escala de Braden e  Morse foi alterado o tempo previsto para 72 horas após admissão e 24 horas em reavaliações; além do aumento da identificação correta das sondas e posicionamento adequado de modo inferior ao nível da bexiga e recuado do solo, evitando infecções do trato urinário. Foi identificado também como problema intersetorial a necessidade de pulseiras de identificação sobressalentes para a troca de membro do paciente, fato notificado ao setor de estoque para averiguação. Transpor os resultados para as planilhas nos setores implicados, possibilitou familiaridade com o sistema de informações assistenciais, gerenciais e epidemiológicas da instituição, promovendo o raciocínio de gestão para o estabelecimento de indicadores para a qualidade na assistência. No retorno ao serviço de controle de infecção, os materiais eram entregues aos setores responsáveis, destinando-se às ações administrativas de gestão. Conclusão: Diante do exposto, em retrospectiva da experiência vivenciada pelo grupo de estudantes, conclui-se a importância da vivência para construção do processo de se formação enquanto enfermeiro no sentido de possibilitar um ambiente rico e desafiador necessário durante a formação acadêmica.

Publicado
27-06-2023