RELATO DE EXPERIÊNCIA: CAPACITAÇÃO PARA AS EQUIPES DE ENFERMAGEM EM UM HOSPITAL DE GRANDE PORTE DO OESTE CATARINENSE

  • Renata Rocha Cardozo Universidade Federal da Fronteira Sul
  • João Vitor Kroth
  • Vinicius Ansolin
  • Emmania Joseph
  • Tatiana Gaffuri da Silva
  • Sílvia Souza da Silva
Palavras-chave: segurança do paciente; capacitação profissional; educação em saúde; enfermagem.

Resumo

Trata-se de um relato de experiência decorrente de uma ação extensionista vinculada ao projeto de extensão institucionalizado na UFFS  intitulado como “ Segurança do paciente e integração entre ensino e serviço: Uma proposta de extensão universitária” e em desenvolvimento desde 2022.  A ação foi realizada em um hospital de grande porte no oeste catarinense com uma equipe composta por um docente e quatro estudantes do curso de graduação em enfermagem, sendo três bolsistas e um voluntário. Participaram também os dois enfermeiros coordenadores do Núcleo de segurança do paciente e do Serviço de controle de infecção relacionado à assistência à saúde. A ação teve como objetivo capacitar as equipes de enfermagem no que tange a segurança do paciente e controle de infecção hospitalar.  A Extensão Universitária tem sido idealizada como uma das formas de aprofundar a relação das universidades com a sociedade e no contexto da saúde como meio de fortalecer o Sistema Único de Saúde. A extensão, inserida no processo de formação, por meio de interlocutores como docentes e extensionistas, têm proposto caminhos que remetem a reflexão e debate sobre a sociedade, suas fortalezas e mazelas e sobre o seu próprio potencial enquanto instrumento de ação na dimensão social da universidade (KOGLIN;  KOGLIN, 2018). A segurança do paciente está associada a uma série de condutas que devem ser pensadas e priorizadas durante todo o atendimento e cuidado ao paciente. Tendo como propósito,  reduzir as falhas evitáveis no exercício da assistência à saúde a um mínimo aceitável, de modo a oferecer ao paciente, uma assistência de qualidade e livre de danos com a máxima prevenção dos erros. Neste sentido, a educação continuada, como atividade extensionista tem como papel possibilitar a reflexão da equipe e mudança de comportamento no que tange aos melhores saberes. Em se tratando de segurança do paciente, o tema já é abordado e desenvolvido desde os primórdios com Hipócrates (460-377 a.C.) afirmando que a atenção à saúde, antes de tudo, não deveria causar danos, e Florence Nightingale (1820-1910) que por meio da Teoria Ambientalista buscava o ambiente ideal para oferecer o cuidado ao paciente. Foi desta forma que Florence conseguiu reduzir a incidência de mortalidade entre soldados ingleses na guerra da Crimeia de 42,2% para 2,2%, em seis meses. Segundo o documento de referência para o Programa Nacional de Segurança do Paciente, estudos realizados em diversos países apontam grande incidência de eventos adversos. Em média, 10% dos pacientes internados sofrem algum tipo de evento adverso e destes, 50% são evitáveis. O cuidado em relação a segurança do paciente é liderado pela Organização Mundial da Saúde, que em parceria com a Joint Commission Internacional , implementou as seis metas internacionais de segurança do paciente,as quais: identificar o paciente corretamente, melhorar a eficácia da comunicação, melhorar a segurança dos medicamentos de alta-vigilância, assegurar cirurgias com local de intervenção correto, procedimento correto e paciente correto, reduzir o risco de infecções associadas a cuidados de saúde e reduzir o risco de danos ao paciente, decorrente de quedas. Tais metas visam evitar que ocorram os tão temidos eventos adversos. Com base no programa nacional de segurança do paciente, que foi criado para definir algumas diretrizes acerca das metas internacionais de segurança do paciente é possível encontrar algumas formas de efetivar a prática de Segurança ao Paciente, como por meio do uso das pulseiras que podem identificar diversas situações desde o risco de queda, lesão por pressão, alergias, isolamento e até mesmo o próprio paciente. Percebe-se que uma série de cuidados são abarcados ao tratar-se desta temática, assim fica em evidência a necessidade de constantes retomadas de capacitações, com discussões que favorecem o pensar e refletir.  No hospital da região do oeste são realizadas auditorias periódicas pelo Núcleo de Segurança do Paciente a fim de quantificar dados acerca das práticas de segurança do paciente executadas pela equipe. Por meio destas auditorias foi reconhecido uma baixa demanda na adesão do uso das pulseiras de identificação e elaborado e preenchimento do quadro, visando melhorar estes índices, foi elaborado uma atividade de capacitação sobre o tema, realizada pelos três estudantes graduandos do curso de Enfermagem da UFFS que integram o programa de extensão voltado para a segurança do paciente e que busca a integração entre ensino e serviço. Organizado a capacitação foi determinado que seria aplicada para todas as equipes de Enfermagem dos setores fechados, dentre eles: Unidade de Terapia Intensiva Geral, Unidade de Terapia Intensiva Convênio, Unidade de Terapia Intensiva Pediátrica, Unidade de Terapia Intensiva Neonatal, Laboratório e Hemodinâmica. Para realizar a capacitação, foi utilizado como base a ideia de Paulo Freire de educação problematizadora como forma para detectar os problemas que acontecem relacionados a temática e possibilitar a transformação dos problemas cotidianos, sendo assim, a capacitação ocorreu por meio da formação de uma roda de conversa mediada pelos estudantes e a enfermeira responsável pelo Núcleo de Segurança do Paciente do hospital, desta forma era possível transpassar o ensino através da interação com o conteúdo e pequenos diálogos mediados por meio de interrogações e problematização acerca de ações que podem causar danos ao paciente. O tema foi inserido na roda de conversa de forma gradual e aos poucos sendo problematizado e buscando sensibilizar a equipe acerca de tomar os devidos cuidados em relação a Segurança do Paciente. Como método de fixação lúdica e permitindo a interação com o conteúdo, foi utilizado caça palavras e questões de concurso. Antes de colocar em prática a capacitação, foi realizada uma reunião prévia entre os estudantes, a fim de explanar as ideias e possibilidades,  assim definido uma metodologia, foi elaborado uma proposta e preparados materiais em conjunto com a enfermeira do núcleo. As equipes de enfermagem dentro deste hospital possuem elevada rotatividade devido às escalas de trabalho, por isso, foi necessário elaborar um cronograma e verificou-se a necessidade da utilização de dois dias para que todas as equipes de todos os turnos fossem assistidas. No momento inicial da roda de conversa, os mediadores explanaram a notoriedade da segurança do paciente, sensibilizando a equipe acerca a importância das seis metas internacionais de segurança do paciente e traziam casos tanto quanto internos quanto externos a respeito de eventos adversos relacionado a identificação do paciente, foi possível em grande parte dos setores exercer a troca de informações, escutar as demandas das equipes e compartilhar o conhecimento. No entanto,  apesar da participação da maioria dos ouvintes, alguns ficavam distraídos, em especial em setores onde o enfermeiro não evidenciava interesse, neste sentido foi possível perceber que a equipe de enfermagem é reflexo do comportamento do enfermeiro, desta forma destaca-se a notabilidade de uma boa conduta do profissional. No decorrer da aplicação da capacitação, os estudantes que foram os mediadores e puderam associar de forma teórico-prática que a segurança do paciente é fundamental para o cuidado qualificado, de modo a reduzir riscos de um possível evento adverso e proporcionar uma melhor serviço. Portanto conclui-se que a segurança do paciente é um fator fundamental para que não ocorram eventos adversos, sendo de extrema importância praticar hábitos seguros. A capacitação é um método para educação e conscientização benéfico para a equipe, visando retomar conhecimentos prévios e complementá-los e também para os estudantes mediadores associando a teoria com as vivências cotidianas nos setores.  Desenvolver projetos de extensão permitiu a aproximação com campos práticos, além de desenvolver a capacidade de comunicação, observação e tomada de decisão. Com certeza momentos únicos na trajetória acadêmica.

Publicado
27-06-2023