MÚSICA COMO PROMOTORA DE SAÚDE NO PRONTO SOCORRO DE UM HOSPITAL PEDIÁTRICO

  • Richard Augusto Thomann Beckert UFFS
  • Débora Ceccatto
  • Jeane Barros de Souza
  • Vitória de Moura
  • Evelyn do Rosário
  • Kelly Cristina de Prado Pilger
Palavras-chave: Enfermagem, Promoção da Saúde, Música, Pronto Socorro

Resumo

Introdução: definir o conceito de música é um desafio, tendo em vista que ela conserva um caráter abstrato, sensível e intuitivo, constituindo-se de atividades culturais. Além disso, a natureza da música compreende uma união de relações sociais, culturais, biológicas e físicas (FÓRUM CATARINENSE DE MUSICOTERAPIA, 2020). Sendo assim, a música apresenta-se em diversos aspectos e âmbitos da vida como forma de lazer, de criação, de relacionamento social e também nas práticas terapêuticas, visto que abrange funções cerebrais perceptivo-motoras e executivas do indivíduo, produzindo sinalizações físicas para o corpo humano em forma de sons. Assim, proporciona uma reação complexa e subjetiva que envolve estados psico emocionais, culturais e fisiológicos, podendo ser percebida pelas reações que o corpo produz, como um aumento nas frequências cardíaca e respiratória, sinalizações elétricas cerebrais e mudanças de humor, geralmente positivas (MUSZKAT, 2019). Considerada, muitas vezes, uma linguagem não verbal, a música atua como uma linguagem emocional que repercute impactos e amplia a relação social e cultural das pessoas (FÓRUM CATARINENSE DE MUSICOTERAPIA, 2020; MUSZKAT, 2019) Ainda, sabe-se que a música pode ser utilizada como ferramenta lúdica no ambiente hospitalar, já que evoca sensações de tranquilidade, paz e descontração, além de permitir que as crianças usem sua imaginação, desenvolvam sua criatividade e se dispersem do medo (SOUZA et al., 2019). Nesse sentido, o programa de cultura “Música no hospital” foi organizado em 2019, composto por uma docente, nove acadêmicos do curso de graduação em Enfermagem da Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS), e três enfermeiras egressas, sendo que a equipe canta e toca músicas, com o apoio de ukulele, violino, percussão, além de utilizar, como forma de ludicidade e maior interação com as crianças, fantoches e adereços coloridos, sendo que parte das intervenções musicais são realizadas em um pronto atendimento pediátrico. O referido programa de cultura objetiva promover momentos culturais no ambiente hospitalar por meio da música às pessoas internadas, seus familiares e à equipe multiprofissional, buscando proporcionar momentos lúdicos de lazer e de esperança, preenchendo o tempo ocioso de um hospital pediátrico com alegria, diversão e reflexão. A necessidade de um serviço de saúde caracteriza-se por períodos de grande estresse para o paciente e seus acompanhantes, tendo em vista que, muitas vezes, simboliza situações de fragilidades em que o indivíduo submete-se a procedimentos, por vezes, invasivos e dolorosos . A situação se complica ainda mais quando o público infantil está envolvido, pois há o afastamento da sua rotina, o que pode repercutir na criança e familiares sentimentos de ansiedade, além do medo e receio do desconhecido. Posto isso, uma das ferramentas possíveis de utilização para tornar esse processo mais leve, são as atividades lúdicas e culturais, dentre elas a intervenção musical (SOUZA et al., 2019). Objetivo: o presente resumo tem por objetivo relatar a experiência de acadêmicos de enfermagem em promover saúde por meio da música em um pronto socorro pediátrico. Método: trata-se de um relato de experiência acerca das intervenções musicais realizadas em um pronto atendimento de um hospital pediátrico. As intervenções musicais fundamentam-se nos pressupostos teóricos da promoção da saúde e ocorrem, quinzenalmente, em um hospital público pediátrico de Chapecó, Santa Catarina, Brasil (ANTONINI et al., 2022). Para a escolha do repertório musical, a equipe do programa de cultura busca utilizar canções que comunicam esperança, positividade e amor, com melodias variadas, que são definidas pelo grupo em reuniões prévias e ensaios. Inicia-se a intervenção musical, ao entardecer, pela porta de entrada do hospital, local em que as crianças e seus familiares aguardam por atendimento, neste caso, o Pronto Socorro (PS). O público ouvinte é composto por crianças e adolescentes, seus familiares e profissionais de saúde, da segurança e do administrativo do hospital, que circulam pelo PS. Resultados e Discussão: é possível observar que a música impacta positivamente, sendo uma ferramenta de promoção da saúde que gera diversos sentimentos bons como esperança, descontração e diminui sentimentos desagradáveis como ansiedade, tristeza e dor (BATALHA et al., 2022). A promoção da saúde é definida, pela Carta de Ottawa, como um processo de capacitação da comunidade e indivíduos para operarem a favor de melhorias na qualidade de vida e saúde, com maior participação e controle do processo. Promover a Saúde é buscar transformação em prol da melhoria das condições de vida de uma população. Dessarte, um dos aspectos da música que mais tocam os ouvintes é o despertar de lembranças por meio das melodias e letras, fazendo com que se percebam distantes do meio em que estão inseridos, o que pode contribuir para melhorar a experiência do PS pediátrico (SOUZA et al., 2020). A utilização da música visa integrar um cuidado eficiente e humanizado, em consonância com o conceito ampliado de saúde, que considera o indivíduo integral e debruça-se sob os determinantes sociais de saúde para avaliar o processo saúde-doença vivenciado pelo indivíduo, comunidade e/ou sociedade. Desse modo, a música demonstra efetividade para auxiliar no enfrentamento da situação vivenciada em um serviço de saúde (SOUZA et al., 2021). No Brasil, o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), instituído pela lei 8069 de 1990, dispõe sobre o cuidado integral à criança e ao adolescente, bem como descreve o direito de proteção à vida e à saúde (BRASIL, 1990). Desse modo, a legislação vem de encontro ao princípio de integralidade do Sistema Único de Saúde, que consiste em visualizar os indivíduos como um todo e atendê-los de modo longitudinal, em qualquer nível de assistência à saúde (OLIVEIRA et al., 2021). Assim, faz-se necessário refletir sobre os desafios no cuidado à criança no PS, atentando-se a prestar assistência não somente ao público infantil, mas também à sua família, sendo necessário um olhar profissional mais empático, voltado à diminuição da angústia da criança e da sua família (FERREIRA et al., 2019). Para isso, existe uma abordagem chamada Cuidado Centrado no Paciente e Família, que visa atender necessidades clínicas, físicas, emocionais, psicológicas e sociais e propõe um modo diferente de realizar a assistência em saúde às crianças e adolescentes, incluindo a família. Define-se família como um sistema complexo e heterogêneo, em que cada indivíduo desempenha um papel que modifica-se constantemente, de acordo com as necessidades impostas pela vida (FERREIRA et al., 2019). Contudo, é comum visualizar nos serviços de saúde um distanciamento dos profissionais da saúde à experiência vivenciada pelo paciente e familiares, pois o cuidado ainda é centrado no provimento da terapia medicamentosa e procedimentos de saúde (FERREIRA et al., 2019). Outrossim, a música pode significar um dos múltiplos aspectos que abordam o cuidado ao indivíduo pautado na integralidade, pois interfere em aspectos que ultrapassam o modelo biomédico de assistência à saúde (BATALHA et al., 2019; RAIMUNDO; SILVA, 2020). Desse modo, evidencia-se que os ouvintes da intervenção musical no PS pediátrico demonstram admiração, encantamento e surpresa em forma de sorrisos e aplausos que remetem à alegria e vitalidade, fazendo com que a passagem da equipe do programa de cultura transforme o ambiente hospitalar em um momento divertido, com alívio momentâneo pelo desprendimento dos sentimentos negativos como a dor, a incerteza e o medo. Outro aspecto de destaque da música no ambiente hospitalar é a sua capacidade em estabelecer vínculos imediatos entre pacientes, familiares e profissionais da saúde (BATALHA et al.; 2019; NUNES et al., 2020). Ademais, beneficiam-se também os integrantes do programa de cultura que, enquanto realizam a intervenção musical, emocionam-se e se desligam de possíveis problemas pessoais, tarefas e prazos relacionados à graduação, entre outros, além de proporcionar aos acadêmicos a inserção em serviços de saúde e o desenvolvimento de um olhar diferenciado acerca do cuidado em saúde, pautado na humanização, integralidade e empatia com o próximo. Além disso, a música pode ser considerada uma tecnologia leve de cuidado, fundamentada na promoção da saúde, que garante o provimento de sentimentos e sensações agradáveis a todos que se envolvem, sendo uma intervenção de baixo custo e uma forma de tratamento não farmacológico e/ou invasivo, que pode ser realizada em qualquer espaço e que contribui para o desenvolvimento das crianças, familiares e profissionais da saúde, tendo poder transformador por onde passa (BATALHA et al.; 2019; SANTEE et al., 2019; LIMA et al., 2022). Considerações Finais: o programa de cultura Música no Hospital promove, aos acadêmicos participantes, diversos ambientes de atuação, com rico aprendizado, sendo um deles o PS pediátrico. A discussão acerca da integralidade, da promoção da saúde e da humanização dos profissionais vem à tona quando é mencionada a música como uma tecnologia leve do cuidado. Quando se trata do público infantil, o uso da música toma caminhos peculiares, visto que crianças possuem um lado lúdico e imaginativo aflorado, o que possibilita a visualização de reações positivas com espontaneidade. Além do mais, é importante, aos profissionais da saúde, desenvolverem uma visão abrangente e que considere diferentes possibilidades para prover a assistência em saúde. Assim, além dos benefícios mútuos da intervenção musical para todos os ouvintes do PS pediátrico, o programa garante uma formação diferenciada, que considera caminhos não tão usuais para promover a saúde de indivíduos e comunidades, contribuindo positivamente para a formação acadêmica e pensamento crítico dos futuros enfermeiros.

Publicado
27-06-2023