EDUCAÇÃO PERMANENTE EM SAÚDE NA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE E A FORMAÇÃO PARA A EDUCAÇÃO NA ENFERMAGEM

  • Larissa Thomas Tombini UFFS
  • Jeane Barros de Souza Lima
  • Valéria Silvana Faganello Madureira
Palavras-chave: Sistema único de saúde; serviços de integração docente-assistencial; educação em enfermagem; educação continuada.

Resumo

Enquanto instrumento que concentra e orienta a concepção e o desenvolvimento do curso de graduação, os Projetos Pedagógicos de Curso (PPC) apresentam, entre outros, os fundamentos para a gestão acadêmica, pedagógica e administrativa do curso, os princípios educacionais norteadores do processo de ensino-aprendizagem e, o perfil do egresso em coerência às diretrizes Curriculares Nacionais (DCN). Para os cursos da área da saúde, a homologação das DCN, entre 2001 e 2004, avançou na proposição de um perfil acadêmico e profissional com competências, habilidades e conteúdos, capazes de atuar com qualidade, eficiência e resolutividade no Sistema Único de Saúde (SUS) (BRASIL, 2001). Neste caminho, a contextualização mediante aproximação com a realidade, e a autonomia discente, próprios das propostas extensionistas, apresentam-se como necessários  para o ensino de excelência (MORAES, 2016).  O PPC do Curso de Enfermagem da Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS) destaca que a formação do futuro egresso deve instigar a capacidade crítica, reflexiva e criativa, sendo que os acadêmicos envolvidos em programa de extensão poderão desenvolver sua criatividade e reflexão crítica sobre suas ações em prol da promoção da saúde dos indivíduos e coletividades no território de atuação, com envolvimento dos profissionais que atuam na Atenção Primária à Saúde (APS) (PPC, 2010). A proposição de ações extensionistas em educação permanente em saúde (EPS) é considerada potente estratégia para o fortalecimento de vínculos e parcerias entre instituições de ensino superior e serviços de saúde, ao tempo em que oferece oportunidade tanto para a qualificação da formação em saúde pela aproximação com a realidade do serviço, quanto para transformação das práticas e desenvolvimento profissional. Este resumo objetiva relatar a experiência sobre a atividade de extensão proposta pelo Curso de Enfermagem UFFS em EPS para profissionais da APS. Como parte do trabalho docente para formação em Enfermagem, atividades de extensão são desenvolvidas ao longo do Curso com objetivo de inserir o acadêmico na realidade dos serviços de saúde e para o exercício da dimensão educação no trabalho do enfermeiro da APS. Atendendo à chamada interna de fluxo contínuo para registro de ações de extensão e de cultura no âmbito da UFFS e, como parte do trabalho para formação em enfermagem, atividades de extensão são submetidas e desenvolvidas. Entre estas, apresenta-se o projeto intitulado “Educação em saúde para profissionais da Atenção Primária: integração entre Secretaria de Saúde de Chapecó (SESAU) e Curso de Enfermagem da UFFS”. Trata-se de projeto de extensão que objetiva promover a qualificação profissional por meio de EPS para profissionais da APS, desenvolvido em unidades básicas de saúde dos bairros Belvedere, Jardim América e São Cristóvão, em Chapecó, Santa Catarina, Brasil. As ações educativas envolvem os profissionais atuantes em cada unidade, considerando-se as necessidades de cada uma e da Secretaria Municipal de Saúde de Chapecó. Iniciado em abril de 2022, com previsão de término em fevereiro de 2024, o referido projeto extensionista articula acadêmicos de enfermagem de diferentes fases do curso nas atividades propostas. Em 2022 foram desenvolvidas oficinas de educação permanente em saúde com agentes comunitários de saúde (ACS) e agentes de combate à endemias (ACE) de todo o município de Chapecó. Algumas das temáticas demandadas pelo serviço/SESAU foram: territorialização; atribuições dos profissionais ACS e ACE; comunicação verbal e não verbal, postura, abordagem cordial; saúde ambiental, meio ambiente e saneamento básico; trabalho em equipe multiprofissional; atribuições dos ACS e ACE; ética e sigilo profissional; e abordagem familiar no território da APS. Essas temáticas foram desenvolvidas no formato de sete oficinas e envolveram o trabalho de 35 estudantes de graduação em enfermagem da quinta fase do curso de enfermagem da UFFS, sob orientação de três docentes do curso de enfermagem, contando com a participação ativa de 413 profissionais, entre ACS (353) e ACE (60). Tais oficinas foram desenvolvidas conforme cronograma organizado pela equipe gestora da SESAU, sendo três dias no mês de junho de 2022 e três dias em agosto do mesmo ano. Para tanto, foi organizado em cada dia de oficina um rodízio, que possibilitou a participação de todos os profissionais, os quais foram subdivididos em grupos de aproximadamente 40 pessoas. As sete oficinas foram organizadas com utilização de metodologias ativas, sendo que com criatividade e ludicidade, os acadêmicos de enfermagem, após estudo das temáticas propostas, buscaram planejar atividades educativas que possibilitassem a participação ativa dos profissionais da saúde. Os ACS e ACE avaliaram de modo positivo as ações desenvolvidas, atingindo o objetivo proposto. Para além disso, percebeu-se que os técnicos em enfermagem precisavam de maiores orientações quanto a cobertura de feridas, bem como sobre a coleta de exames laboratoriais. Para tanto, ações de atualização sobre essas duas temáticas foram organizadas. Para estes temas e público, foram confeccionados e disponibilizados cartazes informativos que foram fixados nos espaços correspondentes – sala de curativos/procedimentos e, salas de coletas de exames laboratoriais das UBS envolvidas. Os cartazes informativos foram organizados a partir de estudo dos acadêmicos de enfermagem sobre as temáticas propostas, que buscaram descrever informações objetivas e com a presença de fotos coloridas, com o intuito de ficar bem claro para os profissionais como deveriam proceder na execução das técnicas especificas de curativo e coleta de sangue. O material produzido foi validado por enfermeira especialista na área vinculado ao serviço. Esta ação envolveu três docentes e sete estudantes, entre bolsistas e voluntários, de diferentes fases do curso de enfermagem da UFFS, vinculados ao projeto de extensão aqui descrito. Salienta-se que para 2023 estão previstas ações de EPS envolvendo ACS de outros municípios da região de Chapecó, assim como o atendimento de demandas específicas da enfermagem e/ou estratégia saúde da família em EPS, nos territórios envolvidos neste projeto. Como resultados à formação em enfermagem para a dimensão educativa, obtidos a partir das ações desenvolvidas até o presente momento, assim como as em fase de planejamento e organização, destacam-se: o protagonismo dos acadêmicos na organização e implementação das atividades; o comprometimento, a criatividade e a iniciativa para o planejamento, organização e desenvolvimento das ações educativas voltadas para os profissionais que atuam diretamente no cuidado em saúde na APS; a aproximação dos acadêmicos com a equipe multiprofissional, o que repercute em intenso aprendizado aos estudantes envolvidos na ação; a sensibilização quanto a necessidade de atuar na qualificação das práticas e promoção e cuidado em saúde dos indivíduos e coletividades, conforme a realidade de cada território e; o fortalecimento de vínculos e integração entre ensino e serviço. Os impactos para os profissionais atuantes na APS, implicados nas ações, evidenciaram a ampliação do conhecimento para a permanente qualificação das práticas e do cuidado em saúde a indivíduos e coletividades em seus territórios. Portanto, incentiva-se o diálogo e o vínculo entre os profissionais de saúde do território e os acadêmicos de enfermagem para a qualificação da assistência prestada e para o aprimoramento da formação em saúde. Nesse cenário, torna-se premente o fortalecimento da integração ensino e serviço, a partir do apoio dos gestores da SESAU e dos profissionais envolvidos nas atividades de EPS com os trabalhadores que atuam na APS, com vistas a qualificar a assistência prestada.  Considera-se que o desenvolvimento de habilidades e competências para o trabalho na dimensão educativa do enfermeiro deve ser presente e permanente na formação em enfermagem. Conclui-se que as ações em EPS são potencializadas quando articuladas às propostas de extensão, como o relato aqui apresentado, visto que possibilita oportunidades, conhecimentos e troca de experiências tanto para os profissionais atuantes nos serviços de saúde, como para os acadêmicos de enfermagem em formação.

Biografia do Autor

Larissa Thomas Tombini, UFFS

PROFESSORA DO CURSO DE GRADUAÇÃO EM ENFERMAGEM DA UFFS

Publicado
27-06-2023