ESTRATÉGIAS ASSISTENCIAIS E DE GESTÃO DIRECIONADAS AOS INDICADORES DE HIPERTENSÃO E DIABETES DO PROGRAMA PREVINE BRASIL

UM RELATO DE EXPERIÊNCIA DE ACADÊMICOS DE ENFERMAGEM

Palavras-chave: Hipertensão; Diabetes Mellitus; Gestão em Saúde.

Resumo

Introdução: Atualmente as Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNT) representam um dos principais problemas de saúde pública, com repercussões que envolvem o bem-estar individual, atividades laborais e o rearranjo familiar e econômico (BECKER, HEIDEMAN, DURAND, 2020). As DCNT compreendem um grupo de doenças responsáveis pela maior parcela de mortes prematuras, com projeção mundial de 52 milhões de mortes para 2030 (ALVES, NETO, 2015). Dada sua relevância epidemiológica, as DCNT, especialmente a hipertensão arterial sistêmica (HAS) e a diabete mellitus (DM), possuem linhas de cuidado específicas na Atenção Primária à Saúde (APS) no Brasil. Vale salientar que o Programa Previne Brasil (PPB), novo modelo de financiamento da APS, instituído pela Portaria nº 2.979, de 12 de novembro de 2019 (BRASIL, 2019), pontua que a HAS e a DM fazem parte de um conjunto de indicadores da APS, que devem ser avaliados quadrimestralmente (ARAGÃO et al., 2023). O novo programa instituiu transformações na forma de financiamento da APS, que deixou de receber valores fixos e passou a basear esse repasse em quatro critérios, com ênfase na captação ponderada, através do cadastro de usuários no sistema eSUS-APS, e o pagamento por desempenho, que compreende o alcance das metas de sete indicadores de saúde (ARAGÃO et al., 2023), em especial a “proporção de pessoas com hipertensão, com consulta e pressão arterial aferida no semestre [...] e a [...] proporção de pessoas com diabetes, com consulta e hemoglobina glicada solicitada no semestre” (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2019). A mudança no modo de financiamento passou a exigir dos gestores e equipes da APS uma atenção especial, direcionada principalmente para estratégias que contribuam para o alcance destas metas. Dentre essas estratégias, Aragão et al (2023) destaca a busca ativa como princípio político que permite não apenas o reconhecimento das demandas de saúde da população, como também embasar as práticas de saúde no território saúde (ARAGÃO et al, 2023), por meio do levantamento e direcionamento de ações. Nessa perspectiva, estratégias de promoção à saúde de pessoas com DCNT no âmbito da APS demonstram exercer grande resolutividade, dado seu potencial de minimizar e prevenir agravos, bem como superar o modelo biomédico vigente ao passo que considera o sujeito de acordo com seu contexto individual e coletivo (DRAEGER et al., 2022). Para tal objetivo, é indispensável a atuação do profissional de enfermagem na continuidade do cuidado, em busca de promover o empoderamento crítico e a autonomia do usuário no seu processo de saúde e doença, elementos fundamentais para a efetividade do cuidado à pessoa e família que convive com DCNT (HARZHEIM et al., 2020; BECKER, HEIDEMAN, DURAND, 2020). Objetivo: compartilhar as experiências exitosas que emergiram durante a realização de Atividades Teórico Práticas de acadêmicos de enfermagem, em uma Unidade Básica de Saúde (UBS), com ênfase na atuação do enfermeiro frente ao manejo de estratégias voltadas para a cobertura dos indicadores do PPB relacionados à HAS e DM. Método: Trata-se de um relato de experiência de ações desenvolvidas no âmbito da APS, em uma UBS de Chapecó, na região do Oeste de Santa Catarina, Brasil. As ações surgiram a partir de atividades teórico-práticas de um Componente Curricular (CC) do Curso de Enfermagem da Universidade Federal da Fronteira Sul, campus Chapecó, cujo foco foi direcionado a realização de consultas de enfermagem no consultório e nas visitas domiciliares. Ao adentrar em campo prático, foram estabelecidos diálogos entre a docente do CC e a enfermeira coordenadora da UBS. A partir disso, foram levantadas prioridades para o direcionamento das ações dos acadêmicos de enfermagem, as quais contemplavam o público que vivencia a HAS e DM na população adscrita, que há mais de seis meses não tinham seus níveis pressóricos e glicêmicos avaliados por meio de consultas e registrados em prontuário eletrônico. No primeiro momento, uma busca ativa desses usuários foi realizada por meio do sistema eSUS-APS. Assim, os indivíduos elegíveis foram contatados através de telefonemas para o agendamento de consultas de enfermagem conduzidas pelos acadêmicos, as quais foram direcionadas a anamnese e avaliação clínica de pessoas com HAS e DM, bem como orientações, encaminhamentos e solicitação de exames quando necessário. Na realização das consultas, os acadêmicos dividiram-se em duplas, sendo que um integrante conduzia a anamnese e exame físico, enquanto que o outro registrava todas as informações no sistema, por meio da evolução de enfermagem. Durante a anamnese, foram coletadas informações consideradas determinantes para melhorar ou agravar tais comorbidades, como predisposição genética, fatores psicossociais, condições socioeconômicas, rede de apoio, posologia e uso de medicamentos, exercícios físicos, alimentação e autocuidado. As consultas tinham uma duração média de quarenta e cinco minutos, pois além de coletar anamnese, exame físico e avaliar esquema vacinal, foram abertos espaços de diálogo e acolhimento referente a demandas trazidas pelos pacientes. Resultados e Discussão: Durante o período de ATP, aproximadamente dez consultas de enfermagem foram conduzidas pelos estudantes, os quais puderam alternar entre as funções de condução e auxílio no decorrer das consultas. Nesse período, diversos pessoas diagnosticadas com HAS e/ou DM tiveram, a partir de uma anamnese completa, seus dados clínicos coletados, como sinais vitais, medidas antropométricas e achados no exame físico. Além disso, na oportunidade também foram avaliados o esquema vacinal e o histórico de solicitação de exames. Conforme as demandas apresentadas durante as consultas, foram realizadas orientações e encaminhamentos que contemplassem as necessidades de cada indivíduo. Após cada consulta, os acadêmicos realizaram a evolução de enfermagem e registro dos dados coletados no sistema eletrônico eSUS-APS, garantindo que as ações feitas pudessem ter impacto sobre os indicadores de HAS e DM. Além de lhes conferir habilidades clínicas para condução de uma consulta de enfermagem, o período de ATP contribuiu imensamente para a formação desses acadêmicos, visto que proporcionou autonomia em seus processos de aprendizagem ao passo que assumiram a função do profissional enfermeiro. O exercício de organizar informações, identificar necessidades e levantar diagnósticos de enfermagem, conferiu aos acadêmicos maior habilidade em relação ao manejo do processo de enfermagem, visto que o mesmo é um elemento indispensável para a sistematização da assistência e continuidade do cuidado no âmbito da APS. O contato prévio dos acadêmicos com instrumentos de gestão oportunizados pelo campo prático, teve repercussões sobre a importância do exercício dos enfermeiros como gestores dos serviços de saúde. Na oportunidade, os acadêmicos puderam manusear o instrumento de busca ativa de usuários, por meio do qual puderam ser direcionadas intervenções para melhora dos índices do PPB e consequentemente, melhora nas condições de atuação das equipes de saúde e cobertura da APS. Esse movimento proporcionou aos estudantes a autonomia necessária para desenvolverem, desde a graduação, um olhar crítico sobre a importância do planejamento, implementação e avaliação de estratégias de gestão voltadas para as demandas de cada território. Durante o período em campo prático, foi evidenciada a atuação do enfermeiro como um elemento essencial para ampliação da cobertura da APS, seja gerenciando uma UBS, seja integrando uma equipe de saúde da família. O enfermeiro, por meio de sua habilidade de promover a continuidade do cuidado na assistência, pode se utilizar de ações de educação, promoção e prevenção que priorizam o empoderamento crítico e autonomia do usuário no seu processo de saúde e doença. A adoção dessas abordagens são necessárias no cuidado ao indivíduo diagnosticado com DCNT e sua família, visto que podem estimular a prática de autocuidado, que reflete no controle da doença e proporciona melhor qualidade de vida. Conclusão: Cabe destacar, que a experiência em ATP representou tamanha importância aos acadêmicos de enfermagem, tendo em vista o contexto profissional de promoção, proteção e prevenção à saúde que encontrarão no exercício da profissão. Para além dos benefícios e da importância da atuação do enfermeiro na busca, avaliação e manejo de pessoas com DCNT evidenciados durante a ATP, destaca-se seu papel fundamental tanto como elemento integrador da equipe de saúde família, como na coordenação de uma UBS, da qual desenvolve um olhar dinâmico para identificar suas necessidades e promover ações que contribuam nessa perspectiva. Partindo desse pressuposto, a vivência contribuiu amplamente para o crescimento acadêmico, pessoal e profissional.

Publicado
27-06-2023