SEGURANÇA DO PARTO DOMICILIAR DURANTE A PANDEMIA DE COVID-19

REVISÃO DA LITERATURA

Autores

  • Ana Gabrieli Sauer UFFS
  • Letícia Zanotelli Universidade Federal da Fronteira Sul
  • Joice Moreira Schmalfuss Universidade Federal da Fronteira Sul

Palavras-chave:

Infecções por coronavírus, parto domiciliar, parto humanizado, hospitais

Resumo

Introdução: frente ao cenário pandêmico mundial causado pela Coronavírus Disease de 2019 (COVID-19), o cuidado em saúde teve que ser repensado, principalmente, pelas mudanças ocorridas no mundo, pela necessidade de isolamento social e distanciamento, entre outras. Considerando esse contexto de modificações, as questões que envolvem o gestar, o parir e o nascer também foram influenciadas por essa pandemia, já que os hospitais passaram a ser considerados locais insalubres para o parto e o nascimento, visto que diversas enfermidades, além da COVID-19, são tratadas nesse tipo de ambiente. A adaptação necessária para o processo de parturição e chegada de um filho, aliada ao temor de estar vivendo em meio a um cenário pandêmico, tem demandado muitos cuidados adicionais na rotina das gestantes, das suas famílias e dos profissionais da saúde. Dessa maneira, as possibilidades de locais para o  parto e nascimento têm sido repensadas, bem como a avaliação quanto ao local mais seguro para esses eventos¹. Assim, o parto domiciliar planejado tem sido a primeira opção para muitas gestantes e suas famílias e, cada vez mais, vem ganhando força por ser considerado um ambiente mais seguro, confortável e acolhedor para o processo de parturição e nascimento, possibilitando liberdade para o binômio mãe-bebê e sua família. Objetivo: apresentar uma revisão da literatura sobre a segurança do parto domiciliar durante a pandemia de COVID-19. Metodologia: estudo de revisão de literatura realizado a partir de buscas nas bases de dados PubMed e Scientific Eletronic Library Online (SCIELO). Foram critérios de inclusão: artigos de todos os idiomas, oriundos de pesquisas originais, disponíveis online e no formato completo e que abordassem sobre a segurança do parto domiciliar durante a pandemia de COVID-19. Não foi estipulado recorte temporal para as buscas. Nas estratégias de buscas foram empregados os Descritores em Ciências da Saúde (DeCS) “parto domiciliar”, “domiciliar birth”, “birth” combinados com “coronavírus”, “covid-19”, “pandemia” e “pandemic”, utilizando-se o operador booleano AND entre eles. Ao todo, foram localizadas 668 publicações, porém apenas dois artigos foram incluídos neste trabalho por responderem à questão de pesquisa. Resultados e Discussão: ainda existem poucas publicações que discorrem sobre a escolha do local para o parto e o nascimento durante a pandemia, visto que trata-se de situação inédita a qual todos estão se acostumando a viver. Então, considerando esta limitação, para a discussão do presente trabalho, foram consideradas publicações que abordam sobre o assunto para além do cenário pandêmico, alinhando as evidências às perspectivas atuais para refletir sobre a temática proposta. Dos dois artigos que foram incluídos na revisão, um deles, publicado em 2020, discute sobre as taxas de infecção nos partos domiciliares nos EUA, debatendo sobre o aconselhamento do local de parto durante a pandemia de COVID-19. O outro artigo é um estudo nacional, também publicado em 2020, que relata quais ações estão sendo realizadas para evitar a transmissão de coronavírus em mulheres que escolheram o hospital como local de parto e nascimento durante a pandemia. Para complementar a discussão deste trabalho, foram incluídos dois artigos publicados em 2020 a fim de incrementar o debate sobre a situação atual. Um deles é uma revisão integrativa que analisou a efetividade dos programas de controle de infecção no Brasil e o outro é uma revisão sistemática brasileira que defende o parto domiciliar planejado com a assistência de profissionais habilitados como forma de promover a saúde materna e infantil. Então, a partir destes achados, depreendemos que o parto domiciliar planejado, além de ser seguro², proporciona inúmeras vantagens para a mulher e sua família no momento da parturição, nascimento e pós-parto imediato. Ainda, essa modalidade de parto e nascimento possibilita: o respeito ao contato pele a pele imediato após o nascimento, o clampeamento oportuno do cordão umbilical, a possibilidade de amamentação na primeira hora de vida, a consideração pela hora dourada, maior privacidade para a mulher e sua família, liberdade de movimentação e expressão corporal durante o trabalho de parto, ambiente adequado ao processo com pouca luz e ajuste de temperatura adequada para o nascimento do bebê, menor taxa de intervenções por parte da equipe, menor exposição ao coronavírus, bem como menor possibilidade de contaminação com a COVID-19, uso de métodos não farmacológicos para alívio da dor, se a gestante desejar.² Todos esses aspectos impactam diretamente no cenário atual de pandemia e, também, no cenário de parto e nascimento no ambiente hospitalar. Ainda, salienta-se que, durante o período pandêmico, várias restrições têm sido impostas às gestantes nas instituições hospitalares. Tais restrições vem impedindo a presença das doulas e, até mesmo, de acompanhantes durante o trabalho de parto, parto e nascimento, sob alegação de perigo de contrair o coronavírus3, fatos que contrariam legislações. Dessa forma, é necessário refletir sobre as inúmeras vantagens e benefícios do parto domiciliar para a grávida e sua família, considerando o quão vantajosa essa experiência pode ser. Estar no próprio domicílio possibilita à gestante contar com a presença de pessoas com as quais ela já convive e confia, recebendo apoio, carinho e atenção nesse momento tão especial da sua vida. Para além disso, salienta-se que o parto domiciliar planejado costuma ser acompanhado por equipes altamente capacitadas e qualificadas, com expertise em relação a esse tipo de atendimento e preparadas para resolver possíveis intercorrências. Ademais, sabe-se que o hospital, por ser um local de tratamento de diversas enfermidades, é um ambiente repleto de microorganismos. Dessa forma, tal constatação o torna particularmente insalubre em algumas situações que, mesmo com os devidos cuidados de higiene, ainda apresenta possibilidades de contaminação.4 Por fim, torna-se importante considerar que, em diversas instituições, as gestantes em trabalho de parto são submetidas a iatrogenias e intervenções desnecessárias que acabam por afetar negativamente todo o processo e, algumas vezes, resultam em danos para o binômio mãe e/ou bebê. Considerações finais: a escassez de materiais sobre a segurança do parto domiciliar durante a pandemia de COVID-19 revela uma importante lacuna de evidências sobre esse assunto. No entanto, a constatação de que o ambiente hospitalar propicia a contaminação por diversos microorganismos comprova que o ambiente domiciliar se mostra como local seguro para a chegada de uma nova vida, especialmente em tempos de coronavírus. Além disso, é provado que o parto domiciliar assistido por uma equipe treinada é melhor opção quando comparada ao parto hospitalar, apresentando inúmeros benefícios para todos os envolvidos.

Publicado

05-04-2024