Reflexão sobre a importância da cultura como eixo formativo para profissionais da saúde

Autores/as

  • João Vitor Antunes Lins dos Santos Universidade Federal da Fronteira Sul
  • Eduarda Vaz Oliveria UFFS
  • Cláudio Claudino da Silva Filho UFFS

Palabras clave:

Cultura, Universidades, Saúde, Sistema ´Único de Saúde

Resumen

Introdução: As primeiras concepções acerca da extensão e cultura universitária surgiram por volta do século passado, nas Universidades populares da Europa, onde buscavam disseminar conhecimento técnico e contribuir com o compartilhamento de saberes. Mais tarde, ampliou-se essa concepção reforçando ainda mais o pensamento de que a universidade tinha a necessidade de compartilhar conhecimento nos setores populares.¹ Atualmente o campo universitário tem propagado temas como a multiculturalidade, diferença, alteridade e diversidade, tornando assim a cultura um elemento estratégico na sociedade. O educador Paulo Freire instituiu seu método pedagógico com base na dimensão cultural, acreditando no potencial da cultura como instrumento de libertação e buscando através de ações culturais a inserção dos sujeitos na realidade para transformá-la.² A extensão cultural universitária promove um processo educativo, cultural e científico que, articulando-se com a pesquisa e o ensino é capaz de alcançar uma relação transformadora entre Universidade e sociedade. Suas atividades viabilizam o diálogo de saberes, a democratização do conhecimento acadêmico e a interdisciplinaridade sendo norteadas pela solidariedade, democracia, justiça social e formação de futuros profissionais cidadãos. Apesar de grandes mudanças estarem ocorrendo na formação de profissionais da saúde, o modelo biomédico ainda se faz muito presente em grande parte da curricularização de cursos da saúde, dificultando assim a ampliação para a visão multidisciplinar e discussão crítico-reflexiva acerca de questões políticas, socioeconômicas e culturais.³ A integração entre cultura e formação transcende noções técnicas e sistemáticas, proporcionando assim ao profissional uma visão baseada no conhecimento multidimensional, desenvolvendo seu olhar crítico e clínico e possibilitando uma transformação social. Consonante a isso, a cultura que encontra-se enraizada nas características do paciente pode reger o modo de pensamento e enfrentamento frente a enfermidade, tornando a sintomatologia o ganho de significados dentro de um sistema cultural. Neste sentido, a cultura retrata um modelo de realidade construída por vivências distintas que oferecem a oportunidade de consolidação da integralidade em saúde, assim possibilitando a capacitação de profissionais da saúde na compreensão da importância do paciente e seus familiares além dos aspectos biomédicos de cura patológica e sim, os motivos da procura por ajuda quando as culturas se chocam e se divergem. Objetivo: Refletir sobre a importância de práticas culturais na formação e qualificação de profissionais da área da saúde, analisando as concepções entre cultura e formação. Metodologia: Trata-se de um estudo com caráter reflexivo a partir da percepção de dois discentes do curso de Enfermagem, sendo uma bolsista e um voluntário de um Projeto de Cultura. Foram realizadas buscas na base de dados Google acadêmico e selecionado artigos científicos com grande relevância tornando-se fundamentais para a discussão cultural. Resultados e Discussão: As universidades públicas estão legalmente comprometidas igualmente com a pesquisa, ensino, extensão e cultura, como eixos formativos na formação de futuros profissionais, porém o que se observa é minimização acerca da importância da extensão e da cultura. Em 2009 com a criação da Proext cultura (Programa de Extensão Universitária) acrescentou-se diversas inovações importantes, consolidando e influenciando toda a política de extensão universitária nacional e deixando contribuições importantes no cenário cultural universitário. Este Programa buscava e continua buscando arduamente a valorização acadêmica de docentes e discentes envolvidos em projetos de cultura e extensão, visto que historicamente, as atividades extensionistas e culturais recebem peso menor na avaliação docente quando se trata de produtividade e o mesmo se repete quanto aos discentes, que não recebem o mesmo reconhecimento que se estivessem envolvidos na iniciação científica. Além disso, o Programa estimula a criação de indicadores que contemplem a complexidade destes projetos e encoraja a maior divulgação do que é produzido nos projetos, seja por meio de artigos científicos, relatos de experiência ou ainda a realização de congressos, seminários e encontros temáticos eventos focados na Extensão e Cultura.⁴ Frente a isso, destaca-se que os espaços para eventos de cultura proporcionam a valorização do diálogo, potencializando momentos de fala e escuta, respeitando-se saberes, experiências e emoções, tais pontos ainda funcionam como espaço de criação cultural e protagonismo social, possibilitando o estreitamento de laços e valorizando características subjetivas dos participantes. Estes fenômenos possibilitam a formulação de novas práticas de cuidado, vivenciando além de aspectos puramente tecnicistas, a ética, a responsabilidade e o compromisso social. Assim, desencadeia-se a partir das relações criadas pelos eventos de cultura a miscigenação de diferente saberes e confrontos dialéticos que refletem o cotidiano de profissionais da saúde que trabalham em equipe e dependem de uns aos outros para o sucesso no tratamento e/ou reabilitação. Neste sentido, diante da complexidade das relações interpessoais, para a construção de novos saberes em saúde, os conceitos de holismo e interseccionalidade devem ser horizontais e existentes no campo da formação profissional. Considerações finais: Dessa maneira os aspectos levantados demonstram a necessidade que os eixos universitários e, principalmente a cultura, demandam de avanços substanciais para a compreensão de suas atividades e fundamentalismo no processo de formação integral que expõe valores éticos, críticos e reflexivos perante o cotidiano dos profissionais da saúde. Ademais, a cultura é essencial no desenvolvimento do caráter profissional, adequando e enquadrando os principais instrumentos de cuidado que implicam na criatividade, identidade e diversidade de valores. Assim, as atividades culturais aumentam a sensibilidade nas relações interpessoais que geram respeito e empatia tal qual, a valorização do conhecimento e vivências empíricas no ambiente academicista e profissional. Neste sentido, profissionais da saúde que trabalham de forma multidisciplinar e que visam um objetivo comum, estabelecem intervenções além dos cuidados físicos e tornam-se dispostos a compreender também a identidade cultural, psicossocial e espirituais de cada indivíduo, consolidando áreas de intersecção de saberes e fortalecendo as práticas de integralidade na atenção à saúde que são princípios fundamentais que estruturam o Sistema Único de Saúde (SUS).

Biografía del autor/a

  • Eduarda Vaz Oliveria, UFFS

    Acadêmica do Curso de Graduação em Enfermagem pela Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS), Campus Chapecó, e Bolsista Cultura desde Agosto de 2019 do Projeto intitulado “A comunidade LGBTQIA+ no cotidiano universitário: descortinando preconceitos e estratégias de (re)existência pelo Teatro do Oprimido e Photovoice”, aprovado e fomentado com Bolsa Cultura pelo Edital No 561/GR/UFFS/2019 - Bolsa Cultura

  • Cláudio Claudino da Silva Filho, UFFS

    Enfermeiro, Doutor em Enfermagem pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Professor Adjunto dos cursos de graduação em Enfermagem e Pedagogia da Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS)

Publicado

05-04-2024