A INTERPROFISSIONALIDADE EM SAÚDE ATRAVÉS DO VER-SUS: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA UNIVERSITÁRIO

Autores

  • Letícia Stake Santos UDESC
  • Emanoeli Rostirola Borin
  • Cláudio Claudino da Silva Filho

Resumo

 

Introdução: a interprofissionalidade faz parte das políticas doutrinadoras do Sistema Único de Saúde (SUS), permitindo a reformulação e a diversidade em relação ao modelo assistencial biomédico1. Portanto, as Diretrizes Curriculares Nacionais dos cursos de graduação (DCN) na área da saúde, fomentam a formação e a educação de futuros profissionais capacitados e preparados para atuar em equipes interprofissionais. Isto ocorre por meio do nivelamento de currículos interdisciplinares, alinhados as políticas públicas norteadoras do SUS2. Visando promover a qualificação do ensino e ampliar as experiências acadêmicas interprofissionais no campo prático, inúmeras propostas de intervenção surgiram, dentre elas, o Projeto VER-SUS. Este projeto tem como objetivo proporcionar vivências na realidade do Sistema Único de Saúde, promovendo o saber compartilhado e o debate complementar das diferentes áreas de assistência à saúde. Além disso, o VER-SUS é um projeto construído e organizado por estudantes, para outros estudantes. Conta com o apoio do Ministério da Saúde, Rede Unida e outras organizações governamentais e sociais3. Objetivo: descrever as atividades desenvolvidas no VER-SUS 2020, e de que maneira estas contribuíram no processo de educação e formação interprofissional de duas estudantes do curso de graduação em Enfermagem, da Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC). Metodologia: trata-se de um relato descritivo de experiência, da participação de duas estudantes do quinto período do curso de enfermagem da UDESC, na edição de 2020/01 do VER-SUS Santa Maria, projeto organizado pelo Ministério da Saúde e Rede Unida em parceria com a Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), realizado em janeiro deste mesmo ano, na cidade de Julho de Castilhos –RS, em um Assentamento da Reforma Agrária. Resultados e Discussão: a vivência aconteceu ao longo de 10 dias, na metodologia de imersão, e contou com a participação de 40 viventes, oriundos dos cursos de Enfermagem, Medicina, Psicologia, Serviço Social, Ciências Sociais, Fisioterapia, Medicina Veterinária, Engenharia Ambiental e Sanitária, Geografia, e Terapia Ocupacional. Durante os 10 dias de imersão, diversos temas foram abordados, estudados e discutidos, a iniciar-se por uma plenária de reconhecimento do Assentamento Ramada Invernadinha, que alojou os viventes, uma vez que compreender o contexto territorial é parte do processo de ensino aprendizagem de uma ação extencionista na área da saúde. Após compreender subjetivamente e objetivamente os traços culturais, sociais, econômicos e históricos que interferem no modo de vida da população assentada, iniciou-se o curso “Como Funciona a Sociedade”. Este curso prolongou-se durante dois dias, instigando diversas reflexões e debates sobre como o capitalismo interfere diretamente em todas as ações humanas, além da compreensão sobre aspectos históricos e culturais que dividiram a população em classes e os impactos dessa segregação no que tange o acesso à saúde, educação e trabalho. Em sequência, ocorreram plenárias sobre Reforma Sanitária, Controle Social, Redes de Atenção em Saúde – RAS, que por sua vez possibilitaram uma ampla discussão entre os viventes, pontuando de diferentes perspectivas profissionais maneiras de promover o controle social e de fortalecer e qualificar as Redes de Atenção em Saúde. Outra importante plenária refere-se a Educação Popular em Saúde, tema que por vezes não é aprofundado nas disciplinas da graduação e tem como consequência falhas na abordagem do profissional de saúde no momento de assistência ao paciente. Desta forma, a plenária possibilitou aos viventes compreender a política pública de Educação Popular em Saúde4, seu histórico, seus princípios, bem como, debater, organizar e elencar maneiras interprofissionais de fortalecer e qualificar este movimento nos diferentes níveis de assistência à saúde. Ademais, ocorreram plenárias sobre preconceitos e maneiras de combater estas opressões, principalmente nos serviços de saúde, situações das quais a equipe interprofissional necessita estar qualificada e preparada para atuar. A plenária sobre Reforma Psiquiátrica provocou complexas reflexões entre os viventes, que estudaram os profissionais envolvidos no movimento, o histórico, as conquistas e leis desenvolvidas que contribuíram para a consolidação do Sistema que conhecemos atualmente, bem como os atuais ataques governamentais que movimentos antimanicomiais e contra eletroconvulsoterapia sofrem por parte do governo federal brasileiro. Sendo assim, este debate evidenciou a importância de uma equipe interprofissional qualificada no cuidado de pacientes com transtornos mentais. Adiante, desenrolou-se a plenária sobre Meio Ambiente e Saúde, exibindo que áreas do conhecimento ambiental e sanitário são extremamente necessários no estudo sobre saúde, uma vez que as questões sanitaristas impactam diretamente sobre o planejamento em saúde de uma comunidade. Ou seja, conhecimentos científicos de diferentes segmentos compõem o sucesso de um planejamento estratégico e interprofissional em saúde. Seguindo este tópico, ocorreu a plenária de Saúde no Campo, com o propósito de valorizar os saberes populares, a cultura local e as terapias holísticas utilizadas. Esta plenária, por sua vez, alavancou um intenso debate sobre as práticas integrativas e complementares em saúde (PICS)5, e a maneira que cada área profissional compreende estes métodos no tratamento de pacientes, na promoção e prevenção de saúde. Elucidando que ocorre um conflito de ideias entre profissionais no que tange a eficácia das PICS e os efeitos colaterais que podem surgir ao longo prazo, instigando os viventes a encontrarem maneiras de harmonizar seus conhecimentos e opiniões sobre estas práticas, afim de fortalecer a dinâmica interprofissional. Por fim, os viventes do VER-SUS 2020 realizaram visitas técnicas em duas Unidades Básicas de Saúde e 2 Centros de Atenção Psicossocial, da cidade de Santa Maria -RS. Além da visita em uma Unidade Básica de Saúde de uma Reserva Indígena e uma Central de Catadores de Lixo em Palmeira das Missões - RS, todos estes locais corroboraram no processo de formação interprofissional dos estudantes, que conheceram diferentes locais e realidades e, assim puderam compreender tanto seu papel profissional individual, quanto como membro da equipe. Considerações finais: Pode-se inferir que o VER-SUS é um diferencial na construção profissional de futuros membros da equipe interprofissional, pois estes, terão uma visão ampliada da conjuntura social econômica e política, das fragilidades e potencialidades do SUS e da equipe interprofissional, bem como, ideias para fortalecê-los e desenvolver um trabalho equânime e integral. Sendo assim, reitere-se a importância da sociedade defender e apoiar movimentos estudantis que constroem junto ao Ministério da Saúde e Rede Unida, projetos ampliadores de conhecimentos científicos e de experiências extencionistas, visando a construção de profissionais humanizados e politizados na luta pela democracia e saúde.

Publicado

05-04-2024