A IMPLEMENTAÇÃO DO CURSO DE MEDICINA NA UNIVERSIDADE FEDERAL DA FRONTEIRA SUL, CAMPUS CHAPECÓ

UMA ANÁLISE AMPLIADA DA PERCEPÇÃO DOCENTE

  • Dyelle Hingrid Gonçalves Gontijo UFFS / discente
  • Caroline Borba Voigt UFFS / discente
  • Graciela Soares Fonsêca UFFS
Palavras-chave: Educação de Graduação em Medicina; Ensino Superior; Formação Médica.

Resumo

Introdução: Com as mudanças no contexto da saúde nacional, é necessário o entendimento por parte dos docentes de que a educação médica transforma-se conforme as necessidades socialmente elaboradas, que levam atualmente à necessidade de um profissional diferenciado, ético, crítico, reflexivo e humanista. A formação desses médicos será gradual, a medida em que as universidades adaptam seus currículos e adotam metodologias diferenciadas de ensino¹. Nesse sentido, as mudanças sociais refletem na forma como as propostas pedagógicas são estruturadas, necessitando que o professor atue como mediador na construção do saber, facilitando o processo de formação em cenários de aprendizagem da prática profissional². A partir de 2013, com a promulgação da Lei do Programa Mais Médicos (PMM), ocorreu uma intensificação do processo de reformulação no ensino médico, focado na realidade nacional. A Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS) foi uma das contempladas para a oportunização de novas vagas no curso médico, por meio do PMM. Objetivo: Analisar o processo de implementação do curso de medicina da UFFS, campus Chapecó, na perspectiva de docentes que fazem parte do curso. Metodologia: Caracteriza-se como um estudo qualitativo, com a participação de dezoito (n=18) professores do curso de medicina da UFFS, campus Chapecó, sendo cinco das áreas básicas, oito das áreas clínicas (médicos) e cinco da Saúde Coletiva. A coleta de dados ocorreu entre os meses de novembro de 2019 e junho de 2020 por meio de entrevistas individuais audiogravadas, conduzidas a partir de um roteiro orientador. Os dados foram transcritos e analisados com base na Hermenêutica-Dialética. O projeto de pesquisa foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da UFFS por meio do parecer 3.291.611 de 29 de abril de 2019. O subprojeto foi contemplado com uma bolsa pelo edital nº 459/GR/UFFS/2019. Resultados e Discussão: Foram identificadas as seguintes categorias de análise: motivação para escolher a UFFS, campus Chapecó, como local de trabalho; postura dos estudantes; saúde mental dos discentes de medicina; fragilidades e potencialidades do curso de medicina da UFFS. Em relação às motivações para escolher a UFFS, campus Chapecó, como local de trabalho, a localização do campus e o fomento à
produção científica, característica das universidades públicas, figuram como fatores decisivos para os docentes participantes do estudo. Ainda são listados como determinantes para a escolha, a vontade de atuar com a docência e a necessidade de ingressar no mercado de trabalho. No que tange à postura dos estudantes, a maioria dos docentes os classificou como pessoas responsáveis e ativas na busca por conhecimento. Contudo, alguns docentes relataram situações negativas relacionadas à má-postura de determinados estudantes. Quanto à implicação na saúde mental dos discentes de medicina, a maioria dos entrevistados revelou se sentir implicada na construção de um ambiente agradável de estudo, porém alguns não sabem como auxiliar no momento de sofrimento mental. Dentre os agravantes para manifestações de transtornos mentais como ansiedade e depressão, os docentes apontaram o excesso de atividades e a autocobrança. Em contrapartida, indicaram que o incentivo a práticas esportivas e a melhoria no programa de apoio psicológico oferecido pela universidade poderiam estimular o bem-estar mental dos alunos. Ao analisar as fragilidades que compõem o curso de medicina da UFFS, os campos de prática escassos, a ausência de um Hospital Universitário e o número reduzido de professores médicos aparecem como destaques. Além desses aspectos, são citados como pontos frágeis a questão financeira da universidade, a alta carga-horária do curso, a escassez de Áreas Verdes e as dificuldades de implementar as metodologias ativas de ensino. Por vezes, os professores universitários são contratados levando-se em consideração apenas seu desempenho como profissional e/ou pesquisador, não exigindo o desenvolvimento do processo ensino-aprendizagem e deixando implícito que a competência profissional é assegurador de didática². O curso de medicina da UFFS, campus Chapecó, recebeu a sua primeira turma no ano de 2015, assim, por se tratar de um curso novo e em construção, ainda possui fragilidades que tendem a ser melhoradas com o tempo, entretanto, já revela diversas potencialidades. A se citar, a formação diferenciada proposta pelas Diretrizes Curriculares
Nacionais (DCN) e o perfil de egresso para atuação na Atenção Básica. Nesse cenário, as novas DCN de 2014 do curso de medicina preveem uma formação com maior foco na Atenção Primária à Saúde (APS). A APS constitui-se como a principal porta de entrada do Sistema Único de Saúde (SUS), e países com uma orientação voltada para este nível de atenção possuem melhores indicadores de saúde. No entanto, para que essa estratégia funcione de maneira eficaz, é necessário que os profissionais formados possam atuar do modo longitudinal, sendo conhecedores de diversas realidades e mais generalistas³. Ademais, pode-
se ponderar como potencial a oferta do componente de Saúde Coletiva durante os oito primeiros semestres da graduação, a interiorização do ensino, a estrutura física dos laboratórios, o corpo docente qualificado e a universidade baseada no ensino, na pesquisa e na extensão. Dessa forma, o curso de medicina da UFFS visa implementar as DCN e enfatizar que a formação superior deve garantir ao aluno um ambiente em que ele possa desenvolver seu pensamento crítico e reflexivo, e de “compreensão dos determinantes sociais, culturais, comportamentais, psicológicos, ecológicos, éticos e legais, nos níveis individual e coletivo, do processo saúde-doença”¹. Logo, compreender todos os aspectos desse processo de formação, e não somente o pedagógico, é o grande desafio na formação de profissionais médicos mais humanos¹. Considerações finais: Na perspectiva dos docentes participantes da pesquisa, o processo de implementação do curso de medicina da UFFS, campus Chapecó, ainda em andamento, possui vulnerabilidades pontuais. Todavia, os mesmos acreditam que é possível a
formação de médicos generalistas, capacitados a atuar na Atenção Básica, como preconizado pelas DCN. Para mais, consideram o potencial dos discentes no desenvolvimento do curso e na construção do almejado perfil de egresso. Nesse sentido, essa pesquisa pode contribuir para o conhecimento do curso, servindo como uma fonte de informações sobre pontos relevantes na formação acadêmica a partir da implantação e implementação das novas DCN.

Publicado
18-04-2024