CAPACIDADE FUNCIONAL E DOENÇA CRÔNICA EM IDOSO LONGEVO AMAZÔNICO

Authors

Keywords:

Idoso de 80 anos ou mais, Doenças crônicas, Desempenho físico funcional, Enfermagem geriátrica

Abstract

Introdução: o censo demográfico do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) evidenciou que no ano de 2010, dos 190 milhões de habitantes brasileiros, 20,6 milhões correspondem a indivíduos com a idade igual ou superior a 60 anos.1 Esses dados demonstram o crescimento contínuo dessa população, o que faz com que o Brasil seja reconhecido como um país de “jovens de cabelos brancos”. Concomitantemente, o desenvolvimento econômico do país e evolução no sistema de assistência a saúde, vem resultando em uma maior longevidade na população brasileira, assim aqueles indivíduos com mais idade, como os idosos longevos (com idade igual ou superior a 80 anos), representam o segmento populacional que mais cresce no país, embora ainda apresente um contingente pequeno. Todavia, o processo de envelhecimento em um cenário de maior longevidade pode acarretar algumas implicações como a maior participação de Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNT), assim como uma diminuição do desempenho funcional. Desse modo, a presença de DCNT e a avaliação da capacidade funcional são importantes indicadores e componentes-chave para realizar um bom o acompanhamento da saúde da pessoa idosa. A capacidade funcional se refere práticas realizadas diariamente para manter as habilidades físicas e mentais, visando conquistar uma vida independente e autônoma, ela pode ser mensurada através de dois domínios: as Atividades Básicas da Vida Diária (ABVD); e as Atividades Instrumentais da Vida Diária (AIVD).2 Assim, com o aumento do envelhecimento populacional e da expectativa de vida, observa-se um crescimento no número de investigações sobre envelhecimento saudável, funcionalidade e doença crônico-degenerativa na população idosa, tornaram-se o foco da atenção de diversos pesquisadores e profissionais da saúde, incluindo a enfermagem, uma profissão que tem participação ativa na prestação de cuidados a esses clientes. Contudo, ainda existe uma carência de estudos com a população de idosos longevos nessa temática. Pesquisas nesse contexto tornam-se demasiadamente importante, visto que no âmbito nacional são geralmente direcionadas aos idosos mais jovens, entretanto estes possuem peculiaridades e característica diferentes dos longevos. Objetivo: analisar a capacidade funcional e doenças crônicas não transmissíveis que acometem idosos longevos em um município do Estado do Amazonas. Metodologia: este estudo trata-se de uma pesquisa exploratória, descritiva, transversal com abordagem quantitativa. A presente pesquisa é um recorte do estudo intitulado “Saúde do Idoso Longevo: Capacidade funcional e Doença crônica não transmissível”. A população de estudo foi de 135 idosos longevos de ambos os sexos cadastrados em 12 Unidades Básicas de Saúde pertencentes a zona urbana da cidade de Coari no interior do Amazonas. A coleta de informações foi realizada através de visitas domiciliares entre os meses de dezembro de 2019 a março de 2020, por meio de formulário e instrumentos validados como a escala de Barthel e Lawton-Broddy. Os dados foram tabulados, codificados e organizados no banco de dados organizados no software Statistical Package for the Social Sciences (SPSS) versão 20.0. O estudo é pautado na resolução nº 466/12, 12 de dezembro de 2012 do Conselho Nacional de Saúde e obteve aprovação do Comitê de Ética e Pesquisa da Universidade Federal do Amazonas (UFAM), com o número do CAAE nº 20056119.0.0000.5020 e o parecer nº 3.577.609. Resultados e Discussão: dentre os 135 idosos longevos entrevistados, houve uma prevalência de idosos do sexo feminino (61,5%), com idade entre 80 a 89 anos (79,3%), sem escolaridade (56,3%), viúvos ou solteiros (65,9 %), aposentados (90,4%), que recebem até um salário mínimo (83,0%), e de religião católica (69,6%). Quando analisamos os dados sociodemográficos percebemos uma conformidade com a literatura atual, especialmente com relação as questões de gênero, a viúves e a baixa escolaridade, visto que são características predominantes na maioria dos estudos nacionais na área. Sendo geralmente justificadas pelo fenômeno da feminização da velhice, evidenciando-se uma maior preocupação das mulheres com a saúde, assim como as poucas oportunidades de acesso à educação enfrentadas por essa população durante sua juventude.3-5 Com relação a situação de saúde predominou uma autopercepção “Boa” (42,2%), (85,9%) relataram possuir alguma comorbidade crônica. Um estudo que também avaliou a autopercepção de saúde dos idosos constatou que pelo menos 34,1% referiram possuir uma situação de saúde regular, e relacionou uma má avaliação a um maior risco de desenvolver morbimortalidades, sendo assim uma boa avaliação da condição de saúde está intimamente ligado a um envelhecimento saudável.4 As DCNT mais frequentemente autorreferidas foram Hipertensão Arterial Sistêmica-HAS (69,6%), dor ou hérnia em discos intervertebrais (30,4%), artrite reumatoide (23,7%) e Diabetes Mellitus-DM (17,8%). No que se refere a uma elevada prevalência de DCNT uma pesquisa realizada com 1.391 idosos cadastrados na Estratégia Saúde da Família no município de Porto Alegre, Rio Grande do Sul, apresentou dados semelhantes onde houve uma predominância para o acometimento de DCNT em mais de 1/3 da população de estudo, especialmente para HAS (70,8%) e DM (27,0%).5 Enquanto os resultados referentes ao grau de capacidade funcional nas atividades básicas e instrumentais, observou-se que o domínio ABVD apresenta uma prevalência de independência de (57%) e uma dependência (43%). Enquanto para AIVD, existe uma maior frequência de idosos dependentes (89,6%) e uma independência de (10,4%). Desse modo percebe-se que existe uma maior dependência para as AIVD do que para as ABDI, esses dados corroboram com um outro estudo realizado com idosos residentes da área urbana de Bagé-RS, o qual, apresentaram uma prevalência de incapacidade funcional para as ABVD de 10,6%, e para as AIVD de 34,2%.4 Esse declínio da aptidão física está relacionado com o processo de envelhecimento humano, o que culmina na diminuição progressiva das atividades de vida diárias, as quais hierarquicamente as AIVD demandam um maior desempenho do que as ABVD.3 Nesse sentido, ressalta-se que a avaliação da capacidade funcional do idoso torna-se crucial para o acompanhamento eficaz da sua condição de saúde, especialmente do longevo. Considerações finais: o presente estudo forneceu informações importantes sobre a relação de DCNT e a capacidade funcional de idosos longevos. Em síntese, os resultados deste trabalho evidenciam que há uma grande prevalência de DCNT entre idosos, com maior destaque para HAS. As DCNT frequentemente desencadeiam limitações na saúde do idoso, interferindo diretamente em suas capacidades funcionais para a execução de atividades rotineiras. A capacidade funcional é um importante indicador na avaliação da saúde gerontológica. Através dos dados obtidos, no que se refere a autonomia na realização de atividades diárias, pode-se afirmar que a maioria dos idosos são capazes de exercer as ABVD com certa independência, entretanto, quando se trata de AIVD observa-se uma elevada dependência de seus cuidadores. A importância de avaliar a capacidade funcional do idoso, bem como identificar os fatores que limitam a autonomia desta população, propicia parâmetros importantes para a elaboração de intervenções que proporcionam maior qualidade de vida na velhice, detectando possíveis problemas e trabalhando soluções que retardem os impactos dessas doenças em suas vidas. Diante do exposto, a Atenção Primaria à Saúde exerce um papel imprescindível, visto que é a porta de entrada de todo cidadão ao sistema de saúde. Nesta perspectiva, ressalta-se ainda a atuação do enfermeiro nesse processo, sendo ele o responsável pela liderança e coordenação da equipe de saúde nesse âmbito, executando papel crucial no desenvolvimento das ações de prevenção e promoção da saúde, objetivando desenvolver a autonomia do paciente e reabilitar possíveis incapacidades detectadas para, garantir assim, melhores expectativas de vida ao idoso longevo.

Published

19-04-2024