CONSTRUÇÃO DE UMA TECNOLOGIA ASSISTENCIAL PARA ENFERMEIROS NO MANEJO DE PACIENTES COM SÍFILIS
Palavras-chave:
Sífilis. Manejo. Enfermagem. Protocolos. Método.Resumo
Introdução: a sífilis consiste em uma infecção bacteriana que se manifestou como epidemia pela primeira vez na Europa no século XV. A partir daí se tornou a doença sobre a qual mais se escreveu, embora a tuberculose e a cólera tenham sido as doenças que mais causaram mortes na época1. Na contemporaneidade, as pesquisas permitiram compreender a sintomatologia e a forma de transmissão e do comportamento epidemiológico, de modo que pudessem ser elaboradas estratégias de prevenção. A partir da melhor compreensão dessa infecção, da descoberta da penicilina, em 1928, e com a associação das práticas de ações de educação em saúde, esperava-se a sua erradicação da doença. Porém, embora tenha ocorrido todo esse investimento em ações de controle, os casos de pessoas infectadas aumentam a cada ano. Os enfermeiros na Atenção Primária à Saúde (APS) atuam como articuladores de inúmeras atividades de promoção, prevenção, reabilitação e controle da sífilis. Mas, na rotina diária de trabalho enfrentam a falta de fluxo e de protocolo que os oriente como melhor conduzir as situações que envolvem o diagnóstico e o tratamento da sífilis em adultos. Estas dificuldades contribuem para o aumento do número de causo de sífilis, principalmente na região Oeste Catarinense. Objetivo: apresentar o processo de elaboração, validação e implementação de uma tecnologia assistencial, em forma de protocolo para o manejo da sífilis em adultos na APS, a partir da análise do processo de trabalho do enfermeiro no atendimento aos portadores de sífilis adquirida. Metodologia: tratou-se de um estudo quanti-qualitativo desenvolvido em um município da região Oeste do estado de Santa Catarina (SC) como trabalho de conclusão de curso do Mestrado Profissional em Enfermagem na Atenção Primária à Saúde – UDESC. O projeto foi aprovado no Comitê de Ética em Pesquisa em Seres Humanos da Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC), parecer n0 2.907.143, processo CAAE n0 94128718.2.0000.0118 aprovado em 20 de Setembro de 2018. Todos os participantes assinaram do Termo de Consentimento Livre Esclarecido atendendo as Resoluções n. 466/2012 e 510/2016 CNS/MS. A pesquisa foi realizada em duas etapas com 42 enfermeiros lotados APS. A etapa quantitativa foi aplicada por meio de questionário que objetivou compreender o processo de trabalho e quais as dificuldades encontradas no manejo de usuários com sífilis. A análise estatística foi descritiva e verificou as frequências absolutas e relativas a partir do cruzamento de variáveis dependentes e independentes. A etapa qualitativa se deu por meio de pesquisa-ação proposta por Thiollent (2011). Nessa etapa a coleta de dados aconteceu em dois encontros em formato de Grupo Focal (GF), com amostra não-probabilística na qual participaram oito enfermeiros lotados por mais de um ano na APS. Os dados foram tabulados no software MAXQDA (Software for Qualitative and Mixed Methods Research) e analisados conforme o percurso metodológico de Bardin (2016). A validação de conteúdo do protocolo ocorreu por meio da escala Likert, com 100% de escore de concordância dos experts. A implementação do protocolo ocorreu por meio de capacitação de 80 enfermeiros do município. Resultados e Discussão: durante a primeira etapa da pesquisa (quantitativa), dentre as questões apresentadas no instrumento de coleta de dados foram incluídas questões que permitissem compreender sobre como acontece o processo de trabalho do enfermeiro no acompanhamento dos casos de sífilis. Nessa etapa 41 participantes (97,6%) citam que o usuário é encaminhado de imediato para o enfermeiro fazer uma escuta qualificada. O que levou o grupo a colocar na construção do fluxograma de atendimento a consulta de enfermagem como porta de entrada principal para os usuários que chegam à UBS procurando por atendimento que o atendente possa inferir se tratar de sífilis. Sobre as ferramentas utilizadas para diagnóstico 40 (95,2%) dos participantes citou utilizar “Exames laboratoriais, teste rápido, sinais e sintomas clínicos” e esses temas foram descritos dentro do protocolo de manejo. As discussões dos GF originaram dados qualitativos. Dentre os organizados, a categoria com maior peso consistiu na que se referia ao processo de trabalho (42,1%) quando os profissionais apresentam suas rotinas e fluxos de trabalho, estimulados pelo método da problematização atribuído às discussões. A categoria “dificuldades” representou 41,6% dos dados codificados, e dentre essas dificuldades, a maioria dos participantes afirma encontrar dificuldade em adesão ao tratamento por parte do usuário. Tais dados serviram de subsídios para a construção de um fluxograma de atendimento para usuário com suspeita de sífilis, o qual norteou a elaboração de um “Protocolo de manejo da sífilis em adultos”. No segundo encontro foram elencados outros temas que serviram como base estruturante para a elaboração do protocolo. Ainda foram construídos modelos de rotinas para: controle de doses aplicadas; tratamento; rotina e cartão municipal de comunicação das parcerias. O protocolo foi avaliado pelos enfermeiros que participaram dos GF por meio de instrumento validado, por meio de escala Likert, com 100% de concordância, e aprovado pelo Conselho Municipal de Saúde (CMS). A implementação no município ocorreu por meio de capacitação de 80 enfermeiros da Rede de Atenção à Saúde (RAS). Considerações finais: Por meio da aplicação da pesquisa-ação utilizando-se do método de Thiollent (2011)2, buscou-se entender melhor como se dá o processo de trabalho que envolve o atendimento do usuário com sífilis, como também, por formas de instrumentalizar os enfermeiros para a tomada de decisão quanto ao tratamento a esse público. No transcorrer da pesquisa os enfermeiros reconhecem uma desorganização de um fluxo instituído na APS para atendimento a esses usuários. O que fortaleceu o pressuposto inicial da pesquisa sobre a necessidade em formular um instrumento orientador para as equipes de saúde. Objetivando sanar essa dificuldade, para a constituição do protocolo levou-se em consideração as sugestões trazidas durante as discussões em grupo. Procurando aproximar essa construção ao máximo da realidade local do município. Por conseguinte, apesar de estar denominado como um protocolo para assistência do enfermeiro, o documento vai muito além à proposta, trazendo sugestões de práticas a serem pensadas pela equipe multiprofissional. Percebeu-se ao longo da pesquisa a necessidade em articular ações intersetoriais, sendo estas propostas na estrutura do protocolo. Ações essas que podem ser propícias para efetivação da prevenção e promoção da saúde, utilizando-se de espaços alternativos, tais como: escolas, empresas e comunidade. Diante do exposto, o produto desse trabalho de conclusão de curso consistiu em um protocolo assistencial para o manejo da sífilis em adultos pelos enfermeiros na APS. Na prática, o que o difere dos demais protocolos já instituídos, é o fato de buscar ações que vão além do diagnóstico e tratamento, como forma alternativa para controle da sífilis.
