NEOANGIOGÊNESE PRODUZIDA PELO EXTRATO DE CALOPHYLLUM BRASILIENSE CAMBESS EM LESÕES INDUZIDAS EM RATOS
Palavras-chave:
Cicatrização, Indutores da Angiogênese, Medicamentos FitoterápicosResumo
Introdução: Procurando melhorar o processo de cicatrização de feridas, gerando menor nível de dor e acelerando a cura, desde os primórdios da humanidade o uso de extrato de plantas é utilizado como método de cobertura de feridas. A miscigenação de culturas europeia, africana e indígena contribuíram fortemente para a incorporação desse hábito na população brasileira, sendo comum a transmissão desse tipo de conhecimento entre as gerações. Outros fatores, como baixo custo e fácil obtenção, facilitam ainda a disseminação desse hábito no Brasil. Com o objetivo de garantir o acesso seguro e racional de fitoterápicos a população brasileira e regulamentar e acompanhar todas as etapas da cadeia produtiva de plantas medicinais e fitoterápicos, o Ministério da Saúde criou, em 2006, a Política e Programa Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos que fomenta o uso destes dentro do Sistema Único de Saúde. A Calophyllum brasiliense Cambess, conhecida popularmente como jacareúba, cedro do pântano, guanandi, entre outros, é uma árvore de grande porte encontrada na Amazônia, no Cerrado e na Mata Atlântica. Popularmente sua gomarresina, conhecida como “bálsamo-de-jacareúba” ou “bálsamo-de-landim”, é considerada antirreumática e utilizada no tratamento de ulcerações crônicas e abcessos; na região amazônica o chá de suas folhas e cascas é utilizado como hipoglicemiante. Cientificamente, a entrecasca da C. brasiliense demonstrou alto potencial anti-Helicobacter pylori e o extrato bruto de sua folha possui grande potencial cicatricial, tendo ação benéfica em várias fases do processo de cicatrização e permeação cutânea. Objetivo: Avaliar o potencial angiongênico do extrato de Calophyllum brasiliense Cambess em lesões induzidas em ratos. Metodologia: Trata-se de uma pesquisa de caráter experimental, estando de acordo com as normas do Conselho Nacional de Controle de Experimentação Animal (CONCEA). O presente estudo faz parte dos objetivos de um grande projeto intitulado “AVALIAÇÃO DO EFEITO CICATRIZANTE DO EXTRATO DE Calophyllum brasiliense Cambess EM LESÕES CUTÂNEAS INDUZIDAS EM RATOS”, aprovado pelo Comitê de Ética no Uso de Animais (CEUA) da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste) em reunião do dia 02/03/2016. Para o estudo foram utilizados 30 ratos machos da linhagem Wistar, mantidos no biotério setorial do Laboratório de Fisiologia Endócrina e Metabolismo da Unioeste individualmente em gaiolas de polietileno sob condições ambientais controladas (23° C ± 2° C, 50-70% de umidade relativa do ar e ciclo de 12h/12h de claro/escuro), sem restrições de comida e água. Os animais foram divididos aleatoriamente em três grupos (n = 10 / grupo): grupo teste (hidrogel CE a 2% de C. brasiliense), grupo controle (hidrogel) e grupo controle negativo (soro fisiológico a 0,9%). Posteriormente, cada grupo foi dividido aleatoriamente de acordo com o período de tratamento (7 e 14 dias; n=5/grupo). Para indução das lesões os ratos foram anestesiados por via intraperitoneal com Xilazin® a 2% (10 mg / kg) e Cetamin® a 10% (75 mg / kg) (10 mg kg); após a depilação da região dorsocostal foram realizadas lesões de 1 cm² demarcadas com punção metálica. Em seguida os ratos foram acondicionados em gaiolas metabólicas sem maravalha e após 24 horas foi iniciado o tratamento; foi ofertado água com paracetamol 200mg/ml afim de proporcionar analgesia. Após 7 e 14 dias de tratamento, os animais foram eutanasiados conforme recomendações. Para a avaliação histológica foi realizada a extração da pele em processo de cicatrização; seções semiseriadas (5 μm) foram feitas a partir do centro da lesão e dispostas em duas lâminas com 6 cortes cada, uma corada com hematoxilina-eosina (HE) e a outra corada com Sirius Red em solução de ácido pícrico. Para análise de vasos sanguíneos utilizou-se fotos micrografadas obtidas por um microscópio óptico com uma objetiva de 40x. O centro da lesão foi fotografado logo abaixo da crosta obtendo 5 fotos por animal. O número de vasos sanguíneos foi contabilizado e expressos em média de número de vasos por animal. Os dados foram descritos no programa Microsoft Excel e analisados utilizando o software Graph Pad Prisma 6.0; os dados estão expressos em média ± desvio padrão. A diferença entre os grupos foi determinada pela análise de variância (ANOVA one way), seguida pelo teste post hoc de Tukey, quando apropriado. O nível de significância utilizado para rejeitar a hipótese nula foi de 5% (p <0,05). Resultados e Discussão: Diante do importante papel da angiogênese para o reparo tecidual que permite a chegada de oxigênio e nutrientes no leito da lesão e consequente desenvolvimento do tecido de granulação, a estimulação para a formação de novos vasos sanguíneos é objeto de estudo para o desenvolvimento de novos produtos cicatrizantes. No sétimo dia de tratamento o grupo tratado com C. brasiliense apresentou uma maior proliferação de novos vasos ( = 18,24 ± 4,025), quando comparado com os grupos controle ( = 11,45 ± 1,796) e controle negativo ( = 13,32 ± 1,670), com diferença estatística em relação aos demais grupo. Em estudo similar, buscando analisar o efeito cicatricial do extrato e gel de Portulaca pilosa L. em lesões em ratos, também foi observado maior proliferação de novos vasos no sétimo dia de tratamento em relação aos grupos controle, demonstrando ser uma característica esperada nessa fase da cicatrização. Com a regressão dos vasos não funcionais através de processos de maturação e apoptose, a diminuição destes é esperada, conforme a evolução do processo de cicatrização¹. No décimo quarto dia os grupos tratados com os CE a 2% ( = 14,08 ± 3,151) e soro fisiológico 0,9% ( = 11,56 ± 3,068) tiveram uma diminuição do número de vasos, ao contrário do grupo tratado com hidrogel, onde um leve aumento foi observado ( = 13,4 ± 4,728). Tais resultados coincidem com uma pesquisa que analisou a redução no tempo de cicatrização de feridas em ratos tratados com extrato hidroetanólico de Moltkia coerulea em que houve uma diminuição progressiva do número de vasos nas lesões avaliadas no sétimo, décimo quarto e vigésimo primeiro dia de tratamento³. Ademais, produtos com potencial angiogênico podem se tornar aliados no tratamento de doenças que afetam o sistema circulatório de modo geral. Na microangiopatia diabética, por exemplo, o aporte de oxigênio e nutrientes para os tecidos é prejudicado e a neovascularização em tecidos lesados é comprometida, retardando o processo de cicatrização. Em estudo realizado com curcumina, agente isolado das raízes de Curcuma Longa L. que já havia sido descrito como cicatrizante e estimulante da angiogênese, em ratos diabéticos, a proliferação de microvasos nas lesões tratadas com o fitoterápico foi mais significativa do que as dos grupos controle e seguiu o mesmo padrão nas observadas em ratos saudáveis, com maior aumento no sétimo dia de tratamento e decréscimo no décimo quarto e décimo nono dias. Assim, considerando que 85% da população dos países em desenvolvimento utilizam plantas ou preparos destas nos seus cuidados básicos de vida, a prática, além de ser de baixo custo, fácil acesso, estimular o desenvolvimento socioeconômico e conservação ambiental, valoriza o conhecimento popular acerca das plantas medicinais, favorecendo a promoção da saúde ao tornar o cidadão um agente ativo no cuidado de sua saúde. Considerações finais: Considerando os resultados observados, que demonstram um aumento significativo no número de vasos do grupo tratado com o extrato de C. brasiliense, principalmente se comparado com o grupo tratado com solução fisiológica 0,9%, conclui-se que o extrato da planta propicia a angiogênese, podendo favorecer o reparo tecidual em lesões cutâneas.
