MASCULINIDADES, PATERNIDADE E FAMÍLIA COMO FOCO INVESTIGATIVO NOS HOMENS ADOECIDOS POR HIV/AIDS
Palavras-chave:
HIV, Masculinidade, Análise de gênero em saúde, Saúde pública, Enfermagem.Resumo
Introdução: Em todos os países do mundo os homens adoecem e morrem mais do que as mulheres, seja por violência, falta de cuidados ou qualquer outra causa externa, aumentando esse índice ano a ano. A identidade masculina é um agente influenciador na tomada de decisões dos homens para com sua saúde, seja corporal ou psíquica. A cultura patriarcal, repassada ao longo das gerações como um elemento identitário, define questões morais para o convívio e comportamento humano, seja ao homem ou a mulher. O patriarcado é a forma paternalista da relação social que exclui comportamentos ditos femininos, onde há naturalidade na subordinação das mulheres perante a dominação masculina. Isso acaba determinando as ações culturais desse grupo, que passa a replicá-las entre suas gerações, fortalecendo laços de imposição e condutas, dentre elas a do cuidado com a saúde.1 Pesquisas2 apontam a existência de uma percepção social em que a prevenção e a promoção da saúde são naturalizadas ao público feminino, sendo essas, responsáveis pelas práticas de cuidado de si e dos homens. Estas percepções são regras presentes nas questões de gênero que remetem a padrões morais e expectativas socialmente criadas, guiando os comportamentos masculinos e femininos em uma dada cultura.3 Além dessas percepções de estigmas sociais quanto ao gênero, estão presentes os estigmas ligados aos portadores das infecções sexualmente transmissíveis, como é o caso da infecção pelo Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV/Aids). As ações de atenção à saúde voltadas para a população que convive com essa infecção ganharam cada vez mais expressividade cientifica, política e social ao longo dos anos, contribuindo assim para a redução da patologia, contudo, a estigmatização da masculinidade frente a enfermidade ainda é um presente tabu em nossa sociedade. Nesse sentido, o Sistema Único de Saúde tem desempenhado inúmeros esforços para uma maior compreensão das necessidades masculinas e de como adequar seus serviços a esse público, entretanto, frente ao convívio com o HIV/Aids imperam questões culturais e estigmas sociais que se apresentam como barreiras para a promoção da saúde masculina.4 A defesa de certas masculinidades, a incerteza quanto ao futuro com os filhos e a família durante o adoecimento leva os homens a repensarem sobre a vida e resinificarem seus comportamentos na defesa da saúde. Estudos5 esclarecem que o diagnóstico de HIV/Aids desencadeia sentimentos positivos e negativos nas pessoas, leva a incertezas, momentos de medo e em alguns casos uma esperança de melhoras. O adoecimento pelo HIV/Aids no Brasil é uma permanente no contexto masculino e os números divulgados por meio de um órgão federativo6, permitem uma análise afinco dessa situação. Só em 2019, o adoecimento pela patologia chegou à 5.303 casos novos em homens, enquanto que nas mulheres foi de 2.038. A disparidade entre as taxas e o índice elevado de infectados relaciona-se a questões ligadas as crenças, valores, costumes e ritos pela construção social da identidade masculina, que destacam padrões morais de comportamentos hegemônicos não valorativos dos cuidados de saúde, o que provoca um agravo também na adesão aos tratamentos. Teorias7 defendem que todo comportamento de risco dos homens e subutilização dos serviços de saúde estão diretamente ligados às normas indentitárias, sendo estas variantes de acordo com a estrutura social e cultural. A família é uma estrutura social e afetiva que fortalece o enfrentamento de identidades hegemônicas, todavia, as relações estabelecidas entre a família, filhos e homens com HIV/Aids ainda são uma questão não explorada, o que contempla um problema no planejamento de cuidados específicos no fortalecimento destas relações pelos profissionais da saúde. Objetivo: Compreender como os aspectos culturais influenciam os homens adoecidos por HIV/AIDS no planejamento estratégico da vida frente a paternidade e a família e, analisar com base na Antropologia Médica quais as possíveis implicações destes para promoção da saúde. Metodologia: Este, é um subprojeto vinculado ao projeto guarda-chuva intitulado Masculinidades e Saúde Entre Homens da Fronteira Sul, sob coordenação do professor Dr. Jeferson Araújo. Trata-se de uma pesquisa etnografia focalizada a qual utilizará o referencial teórico da Antropologia Médica para interpretar sabiamente os valores imbricados no fenômeno estudado. A antropologia médica é definida por como a diversidade baseada em uma abordagem ampla e holística que é levada para o estudo da biologia e das culturas humanas.8 Já a pesquisa etnográfica permite uma leitura da realidade (corporal, espiritual, temporal, emocional, etc.) em que o contexto pesquisado se encontra, buscando compreender em seus signos, simbologias, valores, ritos e costumes. A abordagem destes desenhos justifica-se na busca na tentativa de acessar significações de questões cotidianas que informam em sua singularidade, as situações particulares em que os homens se encontram, e também, sua interação com seus filhos e familiares. A proposta pretende projetar uma realidade de determinado ponto a outro, por meio da interpretação correta e profunda das experiências. Serão realizadas vivências em campo por meio de entrevistas em profundidade, observações do contexto pesquisado e anotações em diário de campo, com um grupo de 20 homens com HIV/Aids, sendo norteado todos os preceitos da Resolução do Conselho Nacional de Saúde nº 466/12. Pretende-se que os resultados futuros desta investigação colaborem com o fortalecimento de políticas públicas com foco na saúde do homem e práticas de cuidado em saúde.
