PRÁTICAS INTEGRATIVAS E COMPLEMENTARES NO CUIDADO EM SAÚDE MENTAL NA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE

RELATO DE EXPERIÊNCIA

Autores

  • Jamine Bernieri UDESC
  • Carla Argenta Universidade do Estado de Santa Catarina-UDESC
  • Lucimare Ferraz Universidade do Estado de Santa Catarina-UDESC

Palavras-chave:

Sofrimento mental. Práticas Integrativas e Complementares. Atenção Primária à Saúde. Enfermeiros. Cuidado de enfermagem.

Resumo

Introdução: As atuais políticas de atendimento as pessoas em sofrimento mental e a prevalência dos Transtornos Mentais, principalmente a depressão e a ansiedade, já geravam grande procura por atendimento na Atenção Primária à Saúde (APS), porém em decorrência da pandemia por COVID-19, ampliou-se tal demanda, fazendo com que os profissionais se deparem cotidianamente com esta clientela. Diante deste panorama é de suma importância o enfermeiro ter conhecimento sobre estratégias de cuidado em Saúde Mental e embasar sua prática profissional em evidências científicas. Segundo o Ministério da Saúde, a abordagem as pessoas em sofrimento mental na APS, deve ser realizada de forma ampla e adequada, os atendimentos devem ter como eixo prioritário a integralidade, com foco na valorização e manutenção da cidadania das pessoas, sendo orientados pela promoção e produção de vida e saúde1.  Dentre as tecnologias leves preconizadas a serem utilizadas no cuidado as pessoas em sofrimento mental na APS, cita-se: o acolhimento, a escuta qualificada, o projeto terapêutico singular, os grupos em saúde e as Práticas Integrativas e Complementares (PICS). Esta última, muito enfatizada pelo Ministério da Saúde, como prática de cuidado a ser prestada durante a pandemia por COVID-19. Entende-se por PICS, práticas de cuidado que buscam estimular os mecanismos naturais de prevenção de doenças e recuperação da saúde por meio de ações seguras, através do emprego de recursos naturais no cuidado às pessoas, recusando o uso de substâncias que não existam na natureza, fugindo do modelo biomédico da medicalização.2 Objetivo: Relatar a experiência de um cuidado de enfermagem às pessoas em sofrimento mental na APS por meio de PICS. Metodologia: Trata-se de um estudo descritivo do tipo relato de experiência sobre a utilização das seguintes PICS: Auriculoterapia, Reiki, Aromaterapia e Florais de Bach, realizadas por uma enfermeira na APS no município de Erval Grande-RS.  Resultados e Discussão: A implementação das PICS na APS no município teve início no ano de 2018 e permanece atualmente. As PICS emergiram como estratégia para o cuidado às pessoas em sofrimento mental no município, devido à percepção do elevado número de atendimentos prestados na Unidade Básica de Saúde (UBS), relacionados a tal demanda. A Auriculoterapia foi à primeira prática implantada, posteriormente foram inclusas no serviço a Aromaterapia, o Reiki e os Florais de Bach. A auriculoterapia e aromaterapia são utilizadas pela psicóloga, fisioterapeuta e também pelas enfermeiras no acolhimento e associadas às sessões de Reiki. Já as demais práticas são indicadas após a escuta sobre a queixa principal da pessoa pelos profissionais das equipes de ESF e encaminhadas para atendimento com a autora. Os atendimentos de Reiki e a prescrição dos Florais de Bach são feitos individualmente, mediante agendamento, sendo realizados pela autora, três dias por semana. A abordagem inicial se dá através de uma anamnese da pessoa, incluindo questões da infância, família, relacionamentos, medo, mágoa, sono, dentre outros, conforme a prática. A quantidade e frequência dos atendimentos são definidos com base no quadro clínico, na evolução dos sintomas e no referencial teórico. Atualmente o Sistema Único de Saúde (SUS), oferece vinte e nove PICS, que podem ser utilizadas em todos os níveis de atenção a saúde, inclusive na APS4. Observa-se pela alta demanda de procura por atendimento no serviço do referido município, que há uma boa aceitação das PICS por parte da população. Evidenciando-se ainda, através dos relatos das pessoas atendidas, os benefícios obtidos com a utilização das práticas, tais como: o alívio de sintomas depressivos, ansiedade, dores físicas e insônia. Tais colocações, corroboram com o estudo de Aguiar et al., ao referenciarem sobre a boa aceitação das PICS pela população e os principais problemas tratados com apoio destas práticas na atenção primária. Compreende-se que as PICS, trazem uma perspectiva holística e podem ser consideradas ferramentas utilizadas pelo enfermeiro, para promover saúde. Pois ressignificam o processo saúde-doença e propõem maior empoderamento das pessoas em seu tratamento, além de ser uma forma de efetivar o princípio da integralidade, proposto pelo SUS3. Entendem-se, as PICS, como prática avançada realizada pelo enfermeiro, pois seus benefícios são comprovados por evidências científicas, 2-4 além de exigirem que o profissional seja capacitado para exercer essa atividade2-3. Tais colocações, vão ao encontro do que observa-se atualmente em todo mundo, que é a adoção de práticas capazes de inovar e reformar sistemas de saúde, visando responder aos problemas decorrentes das necessidades de saúde das populações5. A enfermagem é atualmente considerada uma dessas inovações, pois contribui para a melhoria da qualidade da assistência, o aumento da cobertura em saúde e a diminuição dos custos de saúde, colaborando para a melhoria da atenção à saúde de populações de maior vulnerabilidade, inclusive das pessoas com transtornos mentais5. Devido aos efeitos benéficos obtidos através das PICS no serviço, e da elevada demanda de pessoas buscando atendimento, percebe-se a necessidade de uma ampliação na oferta dessas práticas na APS do referido município. Considerações finais: A experiência vivenciada na utilização das PICS como forma de cuidado as pessoas em sofrimento mental na APS, é única e transformadora, pois modifica o enfoque centrado apenas na doença, para aquele voltado a pessoa em sua integralidade, abrangendo o real motivo de seu sofrimento, qualificando a assistência prestada, reduzindo a medicalização, sendo ainda resolutiva. Compreende-se que o empoderamento da enfermagem na APS, torna-se fundamental para uma mudança no manejo das demandas de saúde mental, pois o elevado número de usuários de psicotrópicos existentes atualmente denota a pouca ou inexistência da prática de enfermagem nesta área. Espera-se com este relato de experiência, contribuir para a sensibilização dos enfermeiros sobre a importância da utilização das PICS como estratégia de cuidado a ser utilizada as pessoas em sofrimento mental na APS, contribuindo desta maneira para a qualificação do trabalho destes profissionais.

Publicado

22-04-2024