Necessidades Humanas Básicas de estudantes do Programa de Educação Tutorial – PET Enfermagem em tempos de distanciamento social
Palavras-chave:
Saúde mental; Estudantes; Quarentena.Resumo
Introdução:
Como prática social a Enfermagem é uma profissão dinâmica, sujeita a diversas transformações, conforme as novas necessidades e demandas surgidas acompanhando as mudanças da sociedade. Para guiar suas ações, o profissional de Enfermagem deve estar sempre com um olhar sensível e aberto para reorientar suas práticas diante da pluralidade dos indivíduos e dos contextos. Nesse sentido, a pandemia do coronavírus, surge como uma realidade completamente nova, que somado as medidas de afastamento social, tem gerado diversas reverberações na saúde mental e física da população. Requerendo da Enfermagem a busca por compreender e se apropriar dessa condição sócio sanitária a fim de prestar um cuidado integral.1
Em situações de pandemia pesquisas revelam que o número de pessoas psicologicamente afetadas tende a ser maior que o número de infectados. Estudos sobre a quarentena apontam efeitos psicológicos negativos, e considerando a repercussão global da pandemia, e que ela ainda não foi sanada, as consequências a longo prazo são imensuráveis. Diversas ações estão sendo desenvolvidas, como a circulação de informações por diversos órgãos da saúde sobre cuidado a saúde mental, orientações sobre teleatendimento que já foi regulamentado, dentre outros. Essas estratégias têm caráter preventivo e buscam reforças práticas de autocuidado e estímulo a uma ética comunitária.2
Uma vez compreendendo o impacto do distanciamento social na saúde mental e o papel da Enfermagem para o enfrentamento dessa situação, o Programa de Educação Tutorial da Escola de Enfermagem da Universidade Federal da Bahia (PET Enfermagem - UFBA) buscou prestar um apoio mútuo entre seus integrantes realizando oficinas a distância como um espaço aberto para escuta e acolhimento. De modo a oferecer amparo e suporte durante um momento de medo e incertezas, buscando refletir sobre esses relatos a luz da teoria das Necessidades Básicas da Enfermeira Wanda Horta.
Objetivos:
Relatar a experiência do PET Enfermagem UFBA na escuta das petianas sobre suas necessidades no contexto do distanciamento social.
Metodologia:
O presente estudo trata-se de um relato de experiência realizado mediante a sistematização das falas das petianas durante uma roda de conversa feita de forma virtual, cujo intuito era prestar apoio mútuo nesse momento de distanciamento social. As reuniões ocorriam a cada quinze dias somando um total de sete reuniões. Ao final de cada uma, era realizado um compilado da percepção das experiências e sentimentos apresentados. A pergunta que norteava os encontros era “Como você tem se sentido nessa quarentena?”. As múltiplas respostas e questões levantadas foram são usadas como fonte de análise e discussão do presente trabalho.
Resultados e discussão:
A Teoria de Enfermagem de Wanda Horta determina as Necessidades Humanas Básicas fundamentando-se na Teoria de Maslow para descrever o papel da Enfermagem na busca por assistir o ser humano no alcance das suas necessidades básicas. Necessidades essas, tanto psicossociais quanto biológicas que estão sendo afetadas como a mecânica corporal, locomoção, liberdade, comunicação, lazer e espaço. De acordo com Horta (1979), a privação dessas necessidades causa um “desequilíbrio hemodinâmico dos fenômenos vitais”, o que é visto como danoso à todas as pessoas no contexto da quarentena.3
A primeira problemática que se apresentou desde o início do distanciamento social foi a quebra brusca na rotina. E uma súbita tomada de consciência do papel importante que ela desempenha na organização da vida, e seu poder motivacional para realizar as funções cotidianas. O dia é organizado de acordo com compromissos, responsabilidades, prazos, e como todas as atividades foram suspensas, a organização da vida perdeu parte do sentido, sendo que as pessoas foram forçadas a criar, uma nova organização.
Dessa maneira foram impostas duas mudanças, o rompimento da velha rotina, juntamente com sonhos e projetos que foram adiados por tempo indeterminado. E a criação de uma nova rotina modificada, em uma nova realidade, que ainda não se compreende bem. Todas essas mudanças geraram sentimentos como frustração, medo e angústia. O que se potencializou por uma mudança restritiva, inclusive do direito de ir e vir, e um rompimento das relações presenciais.
Essa problemática gerou outra que foi o sentimento de impotência e paralisação. No sentido de que, diante de uma nova forma de se viver, e da suspensão dos prazos, algumas atividades, principalmente de cunho acadêmico, se mantiveram. Sem, entretanto, a demarcação do tempo preciso, e outras ferramentas que lhe impulsionavam a realizar essas atividades, ocasionando um não cumprimento ou retardamento dessas obrigações. Considerando o contexto capitalista de superprodução que nossa sociedade está inserida, baixar a produção é sinônimo de inadequação e falta de compromisso. Gerando culpa e ansiedade, sentimentos que também foram citados como os mais frequentes.
Outro fator foi a fusão de dois espaços antes destinados a funções distintas que são o espaço da universidade e familiar. Com a chegada de atividades remotas, esses dois espaços se uniram estendendo o tempo de trabalho e diminuindo o tempo de descanso, criando uma falsa sensação de mais tempo para produtividade, sem respeitar tanto os momentos de descanso, como o próprio cenário da pandemia, com mortes e contaminações crescentes. E o medo e insegurança de se contaminar e perder quem amamos sempre presente.
Fatores de proteção que tendem a auxiliar no processo de enfrentamento desse tipo de situação estão fragilizados. O estado de sofrimento mental tem se apresentando de múltiplas formas, e nem sempre se consegue interpretar o que está gerando ou mesmo se sabe gerenciar essas emoções e as necessidades psicossociais.
Outras repercussões também foram levantadas como dor de cabeça constante, insônia, ansiedade, perda do apetite, fadiga extrema, mudanças bruscas no humor e desânimo. Sendo as mesmas compreendidas como alterações que implicam nas necessidades psicobiológicas descritas por Horta (1979). O não sentimento de estar descansado remonta ao que foi discutido anteriormente da falsa ideia de que esse é um momento oportuno, para o aumento da produção acadêmica e busca por aperfeiçoamento, devido a suspensão das demais atividades e ao confinamento.
A última questão e não menos importante, que teve bastante recorrência, foi o sentimento de revolta e indignação com um grupo significativo de pessoas que não está cumprindo o afastamento deliberadamente. O que dificulta o enfrentamento da doença, e prolonga o tempo de afastamento para quem está cumprido. Junto a isso, existem também os grupos que não puderam adotar o distanciamento, e estão tendo que ir trabalhar se expondo ao risco, causando medo nas petianas, tanto delas se contaminarem, quanto dos seus entes queridos.
Essa situação, requer uma postura de controle e equilíbrio frente a estes sentimentos, o que por vezes aparece através das necessidades psicoespirituais representadas pela maneira com que encaram os acontecimentos vivenciados, e recorrem a suas crenças e filosofia de vida.
Considerando todas essas questões, percebemos várias necessidades básicas que não estão sendo atendidas, causando um desequilíbrio que se não forem sanados, geram tensões que culminam em um adoecimento. Sendo importante que a Enfermagem preste ar assistência para auxiliar no retorno desse equilíbrio e ensinar práticas de auto cuidado para que seja possível se manter nesse estado.3
Considerações finais:
A pandemia da COVID-19 e as ações de distanciamento social são situações enfrentadas pela primeira vez por essa geração, trazendo impactos ainda não mensuráveis. Diversas condições que alteram a saúde vêm se mostrando nesse período, como aquelas que repercutem nos aspectos sociais, biológicos, psicológicos e espirituais. Fazendo com que haja um clamor pela atenção aos novos debates que tem surgido. Para que se possa entender melhor esse momento, de modo a lidar com ele, com as necessidades humanas básicas e as novas aprendizagens.
