APRENDIZAGEM BASEADA EM EQUIPES

PROMOÇÃO DE AÇÃO COLABORATIVA EM SAÚDE MENTAL PELO PET-SAÚDE/INTERPROFISSIONALIDADE

Authors

  • Heloisa Schatz Kwiatkowiski Universidade Federal da Fronteira Sul
  • Angela Makeli Kososki Dalagnol Universidade Federal da Fronteira Sul
  • Marina Klein Heinz Universidade do Estado de Santa Catarina
  • Larissa Gabriella Scnheider Universidade do Estado de Santa Catarina
  • Marta Kolhs Universidade do Estado de Santa Catarina
  • Débora Tavares de Resende e Silva Universidade Federal da Fronteira Sul

Keywords:

Interdisciplinaridade, Saúde mental, Ensino em saúde

Abstract

Introdução: O Projeto de Educação pelo Trabalho para a Saúde/Interprofissionalidade (PET-Saúde/Interprofissionalidade) tem como finalidade atuar como um instrumento para qualificação em serviço dos profissionais de saúde, contemplando a interdisciplinaridade, as práticas colaborativas e a integração entre docentes, discentes e profissionais.¹ Este projeto se caracteriza em uma das estratégias mais promissoras que fazem parte do conjunto das ações do plano de Educação Interprofissional do Brasil, e integra estudantes em diversas formações da área da saúde, em conjunto com equipe interprofissional dos serviços de saúde, o que viabiliza o desenvolvimento de práticas colaborativas e interprofissionais para o efetivo trabalho em equipe.² Atualmente, entende-se que as relações de trabalho dentro de uma equipe com diferentes formações, escolaridades e hierarquias são possíveis geradores de conflitos e sofrimento no trabalho, o que pode afetar diretamente a saúde mental dos profissionais. Nesse sentido, destacam-se os profissionais da área da saúde, em particular os que fazem parte das equipes da Estratégia Saúde da Família (ESF), que preconiza uma composição multiprofissional, de modo que estes trabalhadores são inseridos em ambientes de trabalho com intensa diversificação de pessoas.³ Considerando o ambiente de trabalho como fator diretamente relacionado à condição de saúde mental dos profissionais, entende-se a interprofissionalidade como importante ferramenta para melhoria das relações no trabalho. A interprofissionalidade pode ser definida como o desenvolvimento de uma prática coesa entre profissionais de diferentes disciplinas, envolvendo refletir e executar um trabalho capaz de responder às necessidades da comunidade. Ou seja, quando se opera por meio de competências interprofissionais, as habilidades são sistematizadas por meio das profissões e os fazeres organizados em aptidões. Portanto, quanto melhor se trabalha em equipe, menos se precisa reconhecer de forma isolada os saberes dos outros.4 Sendo assim, o subgrupo do PET-Saúde/Interprofissionalidade objetivou realizar uma atividade que pudesse atender à estes aspectos, tanto influenciando positivamente a saúde mental dos profissionais, que além das influências do ambiente de trabalho também está sofrendo por estar atuando na linha de frente contra a pandemia pelo novo Coronavírus, quanto fomentando o trabalho em equipe e as práticas colaborativas, que além de auxiliar nas questões de saúde mental, também são capazes de qualificar a atenção à saúde, beneficiando, assim, tanto a equipe quanto a comunidade. Objetivo: Relatar a experiência de uma atividade com foco na interprofissionalidade, em um Centro de Saúde da Família da região Oeste de Santa Catarina. Metodologia: Trata-se de um estudo reflexivo de uma atividade lúdica com técnica de pintura de desenhos, a qual foi desenvolvida pelo PET-Saúde/Interprofissionalidade. A atividade foi desenvolvida em um Centro de Saúde da Família (CSF) onde este subgrupo do PET está inserido. Optou-se por utilizar uma metodologia ativa para incitar o trabalho em equipe: como o CSF conta com duas ESFs, foram escolhidos dois desenhos (paisagens) retirados do livro “Jardim Secreto”, ampliados (75cm x 150 cm), impressos e recortados em 24 partes, totalizando 48 partes, o quantitativo correspondente ao número de servidores das duas equipes. A partir disso, as partes de cada desenho foram distribuídas aleatoriamente para os servidores de cada equipe, juntamente com um vídeo contendo as instruções para realização da atividade. Dentre as instruções, os profissionais foram orientados a colorir os desenhos de maneira pessoal e individual, e com um prazo de sete dias para a finalização da atividade. Resultados e Discussão: Como início da atividade, foram entregues a todos os desenhos e os de lápis de colorir. Durante a entrega, observou-se um ar de desafio e alegria por parte dos profissionais em estar fazendo algo diferente, dado o momento de angústia, pressão e incertezas frente à pandemia da Covid-19. Passado o prazo para a pintura dos desenhos, foi colocado na sala de reuniões da unidade um papel com identificações de onde deveriam ser fixadas cada uma das partes do grande desenho, que havia sido entregue a cada um. Assim, passados dez dias do início da atividade, retornamos ao CSF para discussão e finalização da atividade. Já no início da discussão foi possível perceber que alguns servidores não quiseram participar da atividade e não colaram sua parte do desenho, de forma que ficaram lacunas na grande paisagem. Ao indagar os participantes sobre o que eles viam nisso, os mesmos relataram perceber “lacunas” também dentro da equipe, o que se evidencia por dificultosas relações no trabalho, por hierarquias e pela organização do serviço. Inclusive, alguns dos participantes afirmaram que é possível observar, através da atividade, “como não somos uma equipe e sim cada um por si”, ou que, assim como no desenho, “às vezes me sinto bem assim, perdida aí no meio, sozinha”. Estas reflexões também os levaram a perceber que precisam respeitar as diferenças de cada um, observadas por eles na forma de pintar, nas cores: alguns disseram que as cores da pintura se relacionam diretamente com seu humor, que “se fosse pintar hoje, meu desenho teria outras cores”. Diante disso, percebe-se que isso os estimula a respeitar e acolher as diferenças e as angústias que o colega possa estar enfrentando. Outrossim, o momento fez emergir emoções, agradecimentos e lágrimas, quando alguns deles disseram estar sendo este um momento difícil de sua vida. Assim, percebe-se que a equipe precisa de momentos que possam parar e denotar, “ser olhada e cuidada”, na sua individualidade, para que possa refletir no grupo de trabalho, de forma a  perceber que o trabalho não se constitui somente como fonte de sofrimento, e sim que percebam a possibilidade de ressignificar algumas situações, as tornando momentos de prazer. Segundo estudos, os profissionais que atuam na Atenção Primária à Saúde atendem a pacientes com complexidade de problemáticas médico-sociais, o que pode os levar a sofrer psicologicamente. Ainda, os problemas mais observados foram referentes à formação profissional, sobrecarga de trabalho e condições desfavoráveis para atuação profissional, que acarretam em sentimentos de impotência e frustração. Quanto ao enfrentamento de dificuldades, os membros das equipes utilizaram recursos individuais, coletivos e institucionais. Em relação aos recursos coletivos, uma estratégia avaliada positivamente são os grupos de apoio ou de promoção de saúde organizados por profissionais da equipe. O apoio matricial é importante para abordar a complexidade do trabalho em saúde, nelas ocorre troca de experiências, conhecimentos e apoio compartilhado.5 Ao associar esta pesquisa com a atividade realizada pelo PET-Saúde/Interprofissionalidade, percebe-se que são necessárias estratégias de enfrentamento com a equipe, como um método de apoio/suporte emocional, pois quando essas estratégias de enfrentamento são feitas em grupo/equipe tem grande potencial de serem ressignificadas, tornando-se protetoras à saúde mental dos profissionais, além de fortalecer as relações interpessoais e as práticas colaborativas. Considerações finais: Baseando-se nas práticas colaborativas, a atividade buscou abordar de forma lúdica a temática do trabalho em equipe, proporcionando dentro do ambiente de trabalho uma forma de “reflexão” frente aos impactos que os profissionais estão enfrentando durante esse período histórico mundial. Todavia, a atividade buscou uma abordagem focada na saúde mental, uma vez que técnicas de pintura são caracterizadas como uma fonte de descarga energética, e adveio a partir desejo de estar presente neste momento. Ainda que com todas as limitações provenientes do atual cenário, a atividade buscou sensibilizar a equipe sobre como o trabalho em equipe é capaz de criar um ambiente de prazer  e não somente de cobranças e sofrimento quando enfrentado em equipe.

Published

23-04-2024