A força da espiritualidade no tratamento de Dependentes químicos
Palavras-chave:
Enfermagem. Biblioterapia. Saúde mental.Resumo
Introdução: O Ministério da saúde classifica um dependente químico como sendo aquele que perde o controle quanto á quantidade do uso de substâncias, que progressivamente incapacita o usuário a exercer atividades diárias, ainda, a definição mais básica deve ser colocada como a vontade, quase que incontrolável de se utilizar as substâncias.1 O uso de álcool e drogas tem se destacado como importante problema de saúde pública no Brasil e no Mundo. Pensando nessa necessidade que foram criados vários serviços de controle e tratamento, dentre eles, as comunidades terapêuticas (CTs). Estas em sua maioria são instituições sem fins lucrativos, não governamentais, e de longa permanência, os internos ficam nestes locais por períodos de seis á nove meses. O principal objetivo dessas instituições está em auxiliar na reinserção do usuário de álcool e drogas a sua via cotidiana.1 As CTs, utilizam de várias formas terapêuticas, porem a mais utilizada é a laborterapia juntamente com outras técnicas de tratamento como a biblioterapia. Essa consiste no uso da leitura de uma temática pertinentes ao grupo de internos. O uso da biblioterapia, como uma ferramenta no tratamento dos internos, trabalha a introspecção auxiliando o crescimento emocional; o melhor entendimento das emoções; a verbalização e exteriorização de problemas de modo a enxergá-los objetivamente, afastando a sensação de isolamento; a verificação de falhas alheias semelhantes às suas; a aferição de valores morais e pessoais; a realização de movimentos criativos e estimulação de novos interesses.2 Nesse contexto, durante a realização das sessões de biblioterapia com grupo de internos, identificou-se a necessidade de abordar-se a espiritualidade para tal .Objetivo: Relatar sobre a análise da sessão de biblioterapia com internos de uma CTs tendo a espiritualidade como tema transversal. Metodologia: Esse resumo é oriundo da análise realizada das quatro sessões de bibliotecária com seguintes temas, família e amor, frustração e superação, sociedade e trabalho e recuperação. Estas foram desenvolvidas com 13 internos do sexo masculino, maiores de 18 anos de idades. A técnica utilizada para coleta de dados foi por grupo focal e a análise seguiu-se as etapas de análise de conteúdo de Bardin (2011). A biblioterapia foi proposto para o desenvolvimento do trabalho de conclusão do curso (TCC) intitulada “Atuação do enfermeiro na prática da biblioterapia com internos de uma comunidade terapêutica”, aprovado em Comitê de Ética em Pesquisa – CEP/UDESC número 3.952.581, e número do CAAE 26481819.0.0000.0118. Resultados e Discussão: No mês de maio de 2020, iniciou-se as sessões de biblioterapia que ocorriam semanalmente nas quartas feiras á tarde e tinham duração de entorno de uma hora e meia, sendo que todos internos optaram em participar das sessões,. Após as cinco as sessões de biblioterapia foram identificados, em análise parcial das falas, que a espiritualidade estava presente como tema transversal em todas as sessões. Na sessão 02, tema “frustração e superação” o interno 13 (I13) em uma de suas falas mencionou: “Deus muitas vezes é a força de vontade, é algo bom acreditarmos em algumas coisas [...]” e na sessão 04, tema “reconstrução” o interno 3 (I3) citou “[...}a primeira coisa é pensar em nós, e confiar que Deus irá nos salvar [...}”.Muitas pessoas atribuem a uma crença o aparecimento ou a resolutividade de algum problema, e que recorrem á ela seus recursos cognitivos emocional ou comportamental para enfrentá-los.3 Há vários estudos que relacionam a religião/ crença no auxílio para a recuperação ou manutenção das condições de saúde. A espiritualidade traz aos pacientes pontos positivos, que estão associados a estratégias de enfrentamentos ativos, que são esforços cognitivos e comportamentais para lidar com situações de dano, de ameaça ou de desafio quando não está disponível uma rotina ou uma resposta automática, o enfrentamento religioso configura-se em estratégias cognitivas ou comportamentais que utilizam da fé, da religiosidade/espiritualidade para enfrentar eventos estressores como, planejamento, reinterpretação positiva e suporte social, instrumental e emocional, ou seja, a religiosidade constitui uma estratégia muito importantes em situações difíceis 4, como demonstrado na sessão com tema “família e amor ”, o interno 3 (I3) fala “[...}eu ainda me acho fraco, e só Deus pode me dar base [...}”. Vale destacar que acreditar em uma religião apresenta elementos que vão contribuir no tratamento desses usuários, no enfrentamento, na redução do estresse e na ansiedade3. Porem algumas vezes a religiosidade traz pontos negativos, no sentido da não adesão ao tratamento médico, lembrando que a prática religiosa não deve ser substituída pela prática médica.4 E ainda a prática da crença pode, algumas vezes, causar um sentimento de frustração quando não alcançado aquilo que o usuário espera, confirmado na sessão 03 “sociedade e trabalho” com o interno 13 (I13) “[...}estou na solidão né. Deus não me deu essa oportunidade. [...}”. A prática terapêutica através da literatura pode auxiliar no desenvolvimento e recuperação da saúde mental dos indivíduos, pois permite que o paciente faça uma reflexão de seus atos, em comparação com a dos outros, modificando sua forma de pensar e agir diante a certas situações, auxiliando no tratamento e reabilitação.5 Considerações finais: a proximidades com a religião pelo usuário de álcool e drogas permearam todas as sessões, por isso os aspectos religiosos/espirituais devem ser considerados, para que seja respeitado as crenças e valores. Respeitar a crença do indivíduo, e considerá-la, contribui também para uma melhor relação equipe profissional-paciente. Este resumo contribuiu para o compreendimento entre os usuários de álcool e drogas com a espiritualidade/religiosidade, e partir disso tem a possibilidade de apontar a necessidade de capacitação de profissionais preparados para lidar com temas como a religiosidade/espiritualidade.
