OS ESTEREÓTIPOS NA VELHICE LGBTQ+: UMA REVISÃO DA LITERATURA
Palavras-chave:
Minorias sexuais e de gênero, Saúde do idoso, Serviço de saúdeResumo
Introdução: o envelhecimento ocorre de forma idiossincrática, mesmo que possua alguns traços significativos em cada fase de seu desenvolvimento, sendo este processo caracterizado pelas mudanças biopsicossociais que ocorrem ao longo do ciclo da vida. No Brasil, a idade cronológica é capaz de definir o indivíduo como pessoa idosa e, assim, possuir 60 anos ou mais garante acesso à saúde baseado em políticas específicas a esta parcela da população.5 Agregado ao processo de envelhecimento muitas crenças acreditavam que a pessoa idosa era “assexuados”, em virtude das impossibilidades impostas pelo envelhecimento. Assim, a falsa ideia da interrupção da atividade sexual foi permeada por preconceito, por conta das limitações físicas que são associadas ao envelhecer. Todavia, estas modificações físicas podem influenciar a pessoa idosa a se redescobrir e praticar a sua sexualidade de forma alternativa e dinâmica através de sensações, ideias, fantasias e desejos.1 Além da redução da mortalidade na infância e vida adulta, o maior acesso aos serviços de saúde nas últimas décadas, vem contribuindo com o aumento da população idosa composta por lésbicas, gays, bissexuais, transgêneros e queer (LGBTQ+).2 Este acesso vem melhorando desde a implementação das políticas públicas no sistema de saúde, como por exemplo, a Política Nacional de Saúde Integral LGBT (2011), visto que esta política visa garantir equidade, respeito e assistência à saúde para as especificidades da comunidade LGBT, fruto do reconhecimento dos efeitos da discriminação, marginalização e exclusão à esta população.3 contextualizar com os elementos centrais que introduzem o objeto de estudo a partir da literatura nacional e/ou internacional.1 Objetivo: analisar as atitudes e estereótipos em relação à velhice LGBTQ+. Metodologia: estudo do tipo revisão da literatura realizado a partir de referenciais teóricos sobre as temáticas: gerontologia, minorias sexuais e de gêneros e serviço de saúde. Buscou-se artigos científicos em diferentes bases de dados e incluiu-se: a Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa; Política Nacional de Saúde Integral LGBT; e artigos científicos publicados nos últimos 5 anos. Excluiu-se literatura cinzenta, como cartilhas e vídeos. A análise deu-se pela leitura aprofundada de evidências científicas sobre a temática. Resultados e Discussão: a população LGBTQ+ é um dos grupos que enfrenta uma sequência de dificuldades físicas e psicossociais ao longo de sua biografia. Entre elas, destacam-se: violências motivadas pelos estereótipos negativos, tabus, discriminação e intolerância, estigmas e dificuldade de aceitação.3,5 Estima-se que a cada 19 horas um LGBTQ+ é morto de forma violenta.5 Tais dados estão relacionados com o preconceito sexual, atitudes negativas e estereótipos baseados em crenças moralistas, tradicionalistas e religiosas irrefletidas.5 Em adição, estudos antropológicos documentam que homens gays vêem a velhice como algo aterrorizante, que se deve ao fato de uma inexorável imagem de solidão.5 O envelhecer LGBTQ+ vêem ocorrendo de forma estereotipada, marcada por imagens negativas e associada a perdas emocionais e físicas.1 O estigma maior ocorre para com o idoso homoafetivo gay, já que a sexualidade está muito mais voltada para a necessidade da ereção masculina, a qual, naturalmente diminui com o avanço da idade. Porém, a sexualidade pode ser exercitada de forma mais ampla. A invisibilidade dos idosos LGBTQ+ possui algumas possíveis justificativas, entre elas: a tendência da sociedade em estereotipar os idosos como “assexuados” e/ou pela concepção de que quase todos idosos são heterossexuais; dificuldade em estudar essa população que, muitas vezes, evita exposição por medo de serem vítimas de preconceito; e por fim, o interesse da Geriatria e da Gerontologia em estudar outros aspectos do envelhecimento, como as doenças crônicas.4 Dessa forma, as necessidades e a existência dos idosos LGBTQ+ foram por muito tempo ignoradas pela maioria das instituições e pela sociedade. É importante ressaltar que os idosos LGBTQ+ possuem necessidades particulares, especialmente no caso de idosos transexuais que têm mais dificuldade de acesso aos dispositivos de atenção à saúde e experimentam mais disparidades de atenção à saúde, com maior sofrimento psíquico e menor saúde física de modo geral.4 Adicionalmente, devido a relação da sexualidade com o preconceito, o idoso homoafetivo não encontra abertura com pessoas ao seu redor ou com profissionais de saúde para expor suas dificuldades no início e durante o ato sexual. Consequentemente, eles não obtêm orientações sobre a redescoberta de novos pontos de prazer em seus corpos.1 Por outro lado, os profissionais que atendem às pessoas idosas também possuem suas próprias crenças e questões que influenciam no exercício e visão da sexualidade ou assexualidade dos idosos. Devido ao aumento significativo no número de idosos com infecções sexualmente transmissíveis, essas crenças fazem com que a sexualidade seja discutida sob este viés, das doenças que podem ocorrer. Não existem razões fisiológicas que impeçam um idoso saudável de exercer uma vida sexual ativa, seja na forma convencional ou de forma alternativa. Em contrapartida, a discussão escassa a respeito do idoso homoafetivo e a falsa visibilidade de sua realidade, se faz presente desde meados dos anos 60.1 Cabe ressaltar que, mesmo com uma política nacional de saúde LGBTQ+, os serviços de saúde na atualidade reforçam o sentimento de desamparo e preconceito sentido por idosos homoafetivos, onde as atitudes dos profissionais devem ser adequadas em sua prática profissional.5 Iniciativas como o preparo dos profissionais que vão atender essa população podem proporcionar à promoção de educação em saúde sexual, acesso aos serviços de saúde mental e a sensibilização em ver esta, como uma população com maior necessidade social. Em suma, é fundamental lançar um olhar diferenciado sobre a população idosa LGBTQ+ no que diz respeito às necessidades específicas desse grupo, para que, dessa forma, possa ser oferecida, de fato, uma velhice bem-sucedida.4 Considerações finais: espera-se que este trabalho oriente aos profissionais da saúde a dissolverem os seus tabus e estereótipos negativos voltados à população idosa LGBTQ+ bem como ampliar o acesso dessa população aos serviços de saúde. Além disso, torna-se necessário a criação e/ou aprimoramento de políticas públicas voltadas para a diversidade com intuito de orientar profissionais a lidar com as questões de identidade de gênero a fim de que haja uma assistência integral com vistas à minimização das desigualdades sofridas por essa população, proporcionando assim uma melhor qualidade de vida ao idoso LGBTQ+. Outro fato é que esperamos que este trabalho sensibilize na criação de uma política pública que contemple em sua integridade a população idosa LGBTQ+. Sugere-se também a readequação em ambas as políticas: Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa e Política Nacional de Saúde Integral LGBT, pois mesmo que inclua em seu objetivo específico a oferta de atenção e cuidado à saúde da população idosa LGBTQ+, observa-se uma lacuna na implementação de ações práticas a este objetivo.
