ESTIMULAÇÃO COGNITIVA A IDOSOS EM INSTITUIÇÃO DE LONGA PERMANÊNCIA
Palavras-chave:
Doença de Alzheimer; Testes de Estado Mental e Demência; Jogos e Brinquedos.Resumo
Introdução: O envelhecimento é um processo natural e gradual que atinge todas as pessoas de maneira dinâmica, progressiva e irreversível, que pode vir acompanhado por diversos problemas relacionados à saúde física e/ou mental ¹. O Brasil é um país que envelhece a passos largos. A tendência é o aumento da demanda por Instituições de Longa Permanência do Idoso (ILPI) no Brasil, embora as políticas priorizem a família como designados ao cuidado ao idoso3. Estudos apontam para a capacidade de plasticidade cerebral dos indivíduos tendo em vista que o cérebro é capaz de se remodelar diante de novas situações e aprendizados. Este conceito traz aspectos importantes que envolvem aprendizagem e influência do meio externo diante da exposição a novos desafios e conhecimentos5. Dentro desta perspectiva, estudos que abordam esse tema tornam-se essenciais sobretudo voltados ao paciente idoso com vistas a novas possibilidades terapêuticas que transcendam às medicamentosas, oportunizando uma melhora na qualidade de vida e sua funcionalidade. Objetivo: Aplicar e avaliar o impacto do uso de tecnologias de estimulação cognitiva a idosos em instituição de longa permanência para subsidiar a construção e validação de tecnologias educacionais voltadas às famílias cuidadoras. Metodologia: Trata-se de um estudo metodológico, a partir de uma abordagem qualitativa. O estudo foi desenvolvido em uma ILPI em Florianópolis, que fica próximo a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). O mesmo foi realizado com idosos, independentemente da idade, tendo como critério de exclusão a condição de saúde que o impossibilitasse de participar das atividades programadas conforme informação da equipe de saúde da instituição e avalição do mini exame do estado mental. A pesquisa em questão vem sendo desenvolvida desde agosto de 2019 sendo constituída das etapas: Estudo de revisão, aplicação de instrumentos junto aos idosos, intervenção de estimulação cognitiva e observação participante, avaliação após intervenção, construção de tecnologias educativas e validação com Juízes. Anteriormente à pesquisa de campo, foi realizado um estudo de revisão, nos moldes da revisão integrativa. Este tipo de revisão inclui análise de pesquisas relevantes, possibilitando a síntese do conhecimento, identificar lacunas que precisam ser investigadas, permite também sintetizar os estudos publicados e possibilita conclusões a respeito dos estudos. A segunda etapa foi constituída através da pesquisa de campo propriamente dita. A coleta de dados ocorreu inicialmente através de um questionário contendo variáveis relacionadas a aspectos de caracterização do idoso bem como outras informações relacionadas a história de saúde, diagnóstico e tratamento, além da aplicação de escalas de avaliação cognitiva Mini-exame do estado mental e outra escala para mensurar avaliação de bem-estar e qualidade de vida. Em situações onde o resultado do MEEM apontou alteração cognitiva, foi solicitado ao curador responsável a autorização para a pesquisa. Ainda que os responsáveis tiveram consentindo, a participação do idoso ocorreu apenas quando este esteve disposto a participar das intervenções propostas. Dessa forma, foi respeitado suas limitações e tempo, sendo utilizadas estratégias como a substituição do jogo, redução ou aumento da duração das partidas, assim como a inclusão de outros participantes para promover a socialização. A etapa seguinte consistiu em um programa de aplicação de atividades e jogos de estimulação cognitiva. Os jogos utilizados foram aplicados pela própria equipe de pesquisa previamente treinada. A realização dos jogos ocorreu em dias pré-estabelecidos e com tempo de duração definidos, ocorrendo no próprio ambiente da instituição, em espaço reservado livre de barulhos e outros estímulos externos. Paralelamente às atividades, foram registradas as notas de observação acerca das impressões e observações importantes identificadas pelos pesquisadores. Sendo assim, os dados oriundos da revisão da literatura, observação participante e questionários foram tratados de forma descritiva. As junções de informações das etapas anteriores deram subsídios para possibilitar a construção de tecnologias para produção de conteúdo que visam dar suporte, apoiar e instruir o papel do moderador no uso de estimulação cognitiva a idosos, sobretudo junto aqueles com demência, sendo estas as próximas etapas de estudo metodológico. Em atendimento às Resoluções 466/2012 e 510/2016, do Conselho Nacional de Saúde, este estudo foi submetido à análise do comitê de ética em pesquisa com seres Humanos da UFSC, sendo aprovado com Número do Parecer: 4.106.430 e tendo como CAAE 17697919.9.0000.0121. Resultados e discussão: Na escala de bem-estar e mini-mental, foram identificados ao total 12 idosos, sendo 4 sem demência e 8 idosos com demência. Dentre esses, sete eram mulheres, correspondendo à 58,3%, e 5 eram do sexo masculino, o que corresponde a 41,6% do total. Quatro não tinham demência, sendo uma mulher, e oito possuíam demência, sendo dois homens e seis mulheres. Ou seja, 14,3% das mulheres e 60% dos homens não possuíam demência e 85,7% das mulheres e 40% dos homens possuíam demência. A média de idade dos pacientes foi de 86,33 anos, variando entre 77 e 93 anos. No que se refere ao estado civil, 9 eram viúvos e 3 casados, todos possuem filhos sendo estes os que mais visitam, com frequência aproximada de uma vez por semana. A escolaridade 6 possuem o ensino superior completo, 2 possuem o ensino médio completo, 3 o ensino fundamental completo e 1 ensino fundamental incompleto. Outros aspectos foram avaliados, como o local de residência antes da instituição 4 idosos são oriundos da casa de familiares, 7 da casa própria e 1 veio de outra ILP. A ida para o residencial foi de iniciativa própria de 3 participantes e decisões familiares prevalecem em 9 casos. O motivo da institucionalização foram 10 por questões clínicas e 2 por decisão familiar. Além disto, houve o registro especificamente acerca da aplicação dos jogos, onde também pode-se identificar se o idoso possuía demência ou não, o número de intervenções realizadas ou tentativas de jogos e quanto foi a duração de cada jogo com cada idoso, além das observações dos observadores. Após isso, estes dados também puderam ser avaliados, descritos e comparados. Entre os idosos sem demência a média de vezes que cada um participou das atividades de jogos foi 4,75. Já os idosos com demência a média foi de 5,25. Em estudo semelhante, que também fez aplicação de jogos com idosos identificou-se que o aprendizado de uma nova técnica é eficaz para suprimir o declínio cognitivo e fornece evidências para mostrar que esse conceito pode ser aplicado a pessoas idosas cognitivamente saudáveis e com declínio cognitivo 4. Considerações finais: Conhecer o perfil dos idosos, aplicar os jogos e avaliar as respostas é fundamental para embasar a construção de tecnologias cuidativas que auxiliem os cuidadores no uso de tais ferramentas. Espera-se que os resultados do estudo possam contribuir para o desenvolvimento de estratégias e tecnologias que possam auxiliar o moderador frente ao uso de jogos, de forma que essa estimulação possa ter impacto não só no aspecto cognitivo, mas que também possibilite a este idoso uma melhora psicossocial, contribuindo para aspectos mais amplos como a interação e comunicação destes idosos no ambiente em que estão inseridos.
