A INICIAÇÃO CIENTÍFICA EM ENFERMAGEM NO ÂMBITO ONCOLÓGICO

UM RELATO DE EXPERIÊNCIA

Palavras-chave: Pesquisa em Enfermagem, Braquiterapia, Neoplasia dos Genitais femininos

Resumo

Introdução: o Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica é voltado para alunos de graduação e tem como intuito inseri-lo no mundo da pesquisa, possibilitando  o desenvolvimento de técnicas e métodos científicos, aproximando-o do exercício da profissão e da aquisição de competência para produção científica.1  Como acadêmica de Enfermagem do quinto período, até então, não havia participado de projeto de pesquisa, apontando como cenário desafiador. Por ter interesse na área de Oncologia, me candidatei a bolsa de iniciação científica em projeto que investigava o perfil sociodemográfico e clínico de mulheres com câncer ginecológico submetidas à braquiterapia. O câncer permeia todos os níveis de atenção à saúde, e a elevação das taxas epidemiológicas demonstram a importância das pesquisas e da criação de novas tecnologias para o cuidado dos pacientes. Nesse cenário, evidencia-se na população feminina  a quarta posição na incidência mundial do câncer de colo uterino e  outros tipos de cânceres ginecológicos, corpo do útero, vagina, tubas uterinas e dos ovários.2 Os cânceres ginecológicos aliados ao tratamento da braquiterapia não são temas muito explorados nas graduações da área da saúde e até nas publicações nacionais no âmbito da Enfermagem. Assim, a iniciação científica me possibilitou a aprendizagem do tema no curso do desenvolvimento da pesquisa como bolsista de iniciação científica. Portanto, além da temática câncer ser um tema relevante na formação para uso no contexto da saúde, a experiência fez com que eu pudesse  transcender as aulas da graduação, quando passei a ter um olhar mais científico das contribuições e a complexidade da pesquisa científica à saúde e à formação. Objetivo: relatar a experiência da bolsa de iniciação científica no contexto da braquiterapia para a formação em Enfermagem. Metodologia: relato de experiência, crítico-reflexivo, ocorrida uma instituição oncológica de Santa Catarina; tendo como proponente a Universidade Federal de Santa Catarina. As fontes de informação para este relato configuram as narrativas das experiências vivenciadas na investigação científica e o plano de atividades do bolsista de iniciação científica. A coleta dos dados para este relato foi realizada em julho de 2020.  Os dados foram apresentados na forma narrativa, com análise crítica-reflexiva sustentada por literatura científica. A aprovação ética do estudo aqui relatado encontra-se registrada na proponente e coparticipante do estudo, respectivamente, sob o parecer número 3312594, de 13 de maio de 2019, número 3377315, de 07 de junho de 2019, Certificado de Apresentação e Apreciação Ética 61720216.1.0000.0121 e 61720216.1.3001.5355. Resultados e Discussão: primeiramente ingressei no Laboratório de tecnologia, pesquisa e inovação Cuidando & Confortando e iniciei a participação nas reuniões mensais abrangendo métodos de pesquisa, debates sobre produções científicas e atividades desenvolvidas pelos integrantes do grupo, juntamente com o levantamento de idéias para elaboração de novas investigações. Antes de iniciar a coleta de dados da investigação foi necessário me familiarizar com o estado da arte da temática, objeto da investigação, etapas metodológicas a serem executadas e plano de atividade do bolsista. Braquiterapia pélvica é um tratamento localizado, que administra a radiação ionizante por uma fonte próxima ou dentro do tumor, tendo como finalidade o dano celular levando a morte da célula neoplásica, preservando as células saudáveis dos órgãos adjacentes.3 Dentre os cânceres ginecológicos, em 2018, destacou-se o câncer de colo do útero, por sua incidência mundial, 569.847 casos novos. No Brasil, sua incidência foi de 16.298 casos novos e a mortalidade de 8.079 mulheres.4 Sequencialmente, a coordenadora do projeto e professora orientadora me preparou para a coleta dos dados, incluindo a organização dos materiais, atividades e cronograma a ser executado. Concluída esta etapa houve a aproximação com o cenário da investigação. Como as atividades a serem desenvolvidas incluíam a busca ativa em livros de registros da Física-Médica realizou-se uma reunião com o Físico-Médico responsável. Neste momento tive a oportunidade conhecer do local, a equipe e o processo e preparação da paciente para as sessões de braquiterapia. O cenário do estudo utiliza a alta taxa de dose, administrada pelo radioisótopo Ir-192. Além disto, foi possível acompanhar a atuação da enfermeira na consulta de enfermagem na braquiterapia,  o que despertou  ainda meu interesse pela Oncologia; também acompanhei o planejamento do médio-radioterapeuta e físico-médico, período de testes com uso de exames de imagem e formação de imagem computacional em plano 2D, para determinar as doses e áreas para radiação.3 Concluída esta aproximação iniciei a coleta de dados,  ocorrida entre  agosto a dezembro de 2020, no Livro de Registros das Braquiterapias e no Registro Hospitalar de Câncer institucional. As variáveis investigadas foram os dados sociodemográficos e clínicos de mulheres com câncer ginecológico submetidas à braquiterapia entre 2006-2016, período quando o cenário do estudo foi a única instituição a ofertar a terapêutica às mulheres catarinenses.  Ao término da coleta de dados iniciei a fase de organização dos dados em planilhas construídas no Programa Excel. Para esta organização recebi orientações de profissional estatístico. Concomitantemente eu e a coordenadora do projeto revisamos os cálculos estatísticos a serem aplicados e os cruzamentos desejados entre as variáveis do estudo.  Posteriormente, os dados organizados e as necessidades estatísticas foram encaminhadas e discutidas com o estatístico para aplicação de estatística descritiva e inferencial. Na sequência foi elaborado artigo científico, submetido em periódico QualisCapes A2, sendo o meu primeiro contato com este universo. Nesta perspectiva, foi fundamental aprimorar meus conhecimentos sobre as buscas nas bases de dados e normas para publicação científica. Ainda elaborei o relatório da bolsa de iniciação científica e um vídeo sobre as atividades executadas para apresentação em Seminário da Universidade Federal de Santa Catarina. Outras atividades desenvolvidas incluíram a construção de folderes educativos para evento onde orientamos os transeuntes sobre o rastreamento, prevenção e detecção precoce do câncer do colo do útero e de mama; organização de evento científico que reuniu enfermeiras atuantes na braquiterapia em Santa Catarina e outros interessados, quanto tive a oportunidade de apresentar o tema “significado da Braquiterapia na formação em enfermagem na percepção dos alunos”, além da elaboração de três resumos para apresentação em outros eventos científicos. Neste contexto, a iniciação científica  foi entendida como  um processo que abarcou  programa de treinamento; estudos sobre a metodologia científica; visita técnica programada; desenvolvimento do  projeto de pesquisa elaborado e realizado sob orientação de  docente da universidade e executado por aluno bolsista; as implicações e as perspectivas da pesquisa nas universidades brasileiras; os fatores socioeconômicos e culturais no contexto da saúde; o papel do professor pesquisador,  dos grupos de pesquisa e da pesquisa na graduação.1Considerações finais: a Enfermagem é uma ciência pautado em raciocínio clínico coligados com estudos científicos atualizados, por conta disso se mostra primordial a inserção do aluno, ainda na graduação, em grupos de pesquisa, na iniciação cientifica e em projetos de extensão, a fim de instigar o questionamento e contribuírem para a formação do profissional enfermeiro como ser pensante e questionador de suas condutas. Por mais que a pesquisa pareça um ambiente hostil e cheio de complicações, é extremamente recompensador ver algo que você ajudou a construir tomando forma e gerando frutos, é motivador. Portando, a partir da oportunidade advinda da bolsa de iniciação científica, foi possível desenvolver habilidades que estão fora das salas de aulas, mas essencialmente relevantes à população. Como limite deste relato registro a não apresentação dos resultados encontrados da investigação que incluiu 1930 mulheres.

Biografia do Autor

Luciana Martins da Rosa, Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC

Graduada em Enfermagem (1991). Especialista em Projetos Assistenciais pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) (1996). Especialista em Enfermagem Oncológica pela Sociedade Brasileira de Enfermagem Oncológica (2005). Mestre (2007) e Doutora em Enfermagem (2011) pela UFSC, área de concentração: Saúde, Sociedade e Filosofia. Enfermeira do Centro de Pesquisas Oncológicas entre 1992 e 2012. Docente do Curso de Graduação em Enfermagem da UFSC desde 2012; Docente do Programa de Pós-Graduação em Gestão do Cuidado em Enfermagem - Mestrado Profissional desde 2015, Doutorado Profissional desde 2019. Editora Associada da Revista Texto & Contexto Enfermagem entre 2015 e 2019. Membro do Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos do Centro de Hematologia e Hemoterapia de Santa Catarina desde 2013. Atividades de pesquisa voltadas para: oncologia, hematologia, hemoterapia, processo de viver humano, cuidado de enfermagem, doenças crônicas não transmissíveis. Atividade de extensão voltadas ao ensino em enfermagem, oncologia, doenças crônicas não transmissíveis, ética em pesquisa. Experiência na área de Enfermagem, com ênfase em Enfermagem Oncológica, destacando-se os seguintes temas: cuidado de enfermagem, educação permanente, sistematização da assistência de enfermagem, câncer, prevenção do câncer, mulher com diagnóstico de câncer de mama e do colo do útero. Vice Líder do Laboratório de Tecnologia, Pesquisa e Inovação Cuidando & Confortando - UFSC. 

Publicado
27-04-2024