PERFIL SOCIODEMOGRÁFICO E CLÍNICO DE MULHERES SUBMETIDAS À BRAQUITERAPIA PÉLVICA

Palavras-chave: Enfermagem, Braquiterapia, Câncer do Colo de Útero, Neoplasias dos Genitais femininos

Resumo

Introdução: o câncer ginecológico afeta a qualidade de vida das mulheres em grandes proporções. Em 2020, no estado de Santa Catarina, estima-se que 970 mulheres serão diagnosticadas com o câncer de colo de útero (o câncer ginecológico mais incidente excluindo-se o câncer de mama), 300 com câncer do corpo do útero e 260 com câncer de ovário.1 Neste contexto ainda somam-se o câncer na vulva, vagina e tubas uterinas. Para o tratamento, em geral, é prescrita a associação de várias terapêuticas, como a cirurgia, a quimioterapia e a radioterapia (teleterapia e braquiterapia). Neste estudo investiga-se a braquiterapia pélvica, que  consiste em uma terapia guiada por imagem, com a colocação intrauterina de um feixe de radiação de alta dosagem, o seu planejamento é realizado com o apoio de um médico oncologista e um físico médico, a fim de traçar dosagens que não afetem os órgãos subjacentes, como a bexiga e o reto.2 Os seus efeitos adversos podem ser imediatos, tais como, alterações geniturinárias, intestinais, na pele e mucosa ou tardios como a alterações urinárias, intestinais e a estenose vaginal. O Centro de Pesquisas Oncológicas foi pioneiro no tratamento de mulheres com cânceres ginecológicos com braquiterapia de alta taxa de dose tratamento em Santa Catarina, iniciando a oferta do serviço em 2006, sendo a única instituição a ofertar esta modalidade terapêutica no Estado até o ano de 2016. A braquiterapia de alta taxa de dose, quando comparada com a de baixa taxa de dose, apresenta menores efeitos adversos, não necessita de internação e a administração da dose é realizada em até cinco sessões de cerca de 12 minutos (excluindo-se o tempo de preparo). Já a de baixa taxa de dose há necessidade de internação e o tempo de administração da radiação ionizante é de cerca de três dias consecutivos, exigindo isolamento e trazendo inúmeros desconfortos. O perfil das mulheres submetidas à braquiterapia pélvica no Centro de Pesquisas Oncológicas ainda não foi analisado. Considerando as contribuições deste tipo de investigação, para a gestão em saúde e para o planejamento do cuidado de enfermagem, este estudo foi idealizado. Objetivo: caracterizar o perfil sociodemográfico e clínico de mulheres submetidas à braquiterapia pélvica no Centro de Pesquisas Oncológicas entre 2006 e 2016. Metodologia: estudo transversal realizado no Centro de Pesquisas Oncológicas, tendo como fonte das informações o Livro de Registro das Braquiterapias e o Registro Hospitalar de Câncer. A coleta de dados foi realizada entre agosto e dezembro de 2019. Incluíram-se mulheres com câncer ginecológico, procedentes da Grande Florianópolis, submetidas à braquiterapia entre 2006 e 2016 (população do estudo). As variáveis do estudo foram: idade, cor da pele, escolaridade, topografia e estadiamento da doença, número de sessões de braquiterapia. Os dados foram coletados e registrados em planilhas construídas no Programa Excel da Microssoft, versão 2019. Foram excluídas mulheres com registros incompletos das variáveis desta investigação e mulheres com sarcomas no trato genital. Os dados foram analisados por estatística descritiva simples. O projeto de pesquisa foi submetido à apreciação Ética e sua aprovação encontra-se registrada na proponente e coparticipante do estudo, respectivamente, sob o parecer número 3312594, de 13 de maio de 2019, parecer número 3377315, de 07 de junho de 2019, Certificado de Apresentação e Apreciação Ética número 61720216.1.0000.0121 e  61720216.1.3001.5355. Resultados e Discussão: o Centro de Pesquisas Oncológicas atendeu 677 mulheres em braquiterapia pélvica no recorte de tempo desta investigação, 27 mulheres foram excluídas por incompletude dos dados, 650 mulheres foram elegíveis e assim incluídas na investigação. A maioria branca (605 - 93%), diagnosticada entre 40-60 anos (322 - 49,5%), com grau de instrução fundamental completo e incompleto (215 - 33% e 185 - 28%, respectivamente), com diagnóstico de neoplasia maligna do colo do útero não especificada (486 - 74,8%), seguida da neoplasia maligna do endométrio (145 – 22,3%). Considerando que a topografia colo do útero foi a mais incidente dentre os diversos tipos de câncer ginecológico, evidencia-se a replicação das incidências mundiais relacionadas a países não desenvolvidos. O câncer do colo do útero é mais frequente em países subdesenvolvidos. Em países desenvolvidos o câncer de endométrio é mais incidente.3 Assim, reafirma-se a importância da realização dos exames preventivos para que se possa descobrir a doença precocemente e atuar de forma mais efetiva, tendo em vista que o câncer de colo de útero pode ser prevenido antes mesmo do seu surgimento, na fase quando a neoplasia não é definida como maligna e a cura pode ser alcançada com terapêutica menos invasiva e com menores complicações.4 O estádio II foi o mais frequente (231 - 35,5%) seguido do estádio III (229 - 34,9%). Este achado mostra o comprometimento da doença e a necessidade de tratamentos mais complexos, consequentemente, as mulheres estão sujeitas a maiores riscos e complicações. Com relação à idade, as proporções foram semelhantes e próximas a 24% nas faixas etárias dos 30-40 anos, 40-50 anos e 50-60 anos, totalizando 473 mulheres (72,7%). Quanto ao número de sessões de braquiterapia, 452 mulheres (69,2%) receberam quatro sessões de braquiterapia, o que em geral ocorre em mulheres histerectomizadas e com doenças mais avançadas. Em relação à escolaridade associada ao estadiamento da doença, foi encontrado que nos estadios III e IV, que representam os graus de maior comprometimento, as participantes tinham em sua maioria o ensino fundamental incompleto/completo (145 - 63% e 25 - 56% respectivamente), o que retrata a projeção feita por outros estudos, onde a maioria das mulheres com câncer de colo do útero tem até sete anos de escolaridade, tendo em vista que mulheres com menor grau de escolaridade acabam tendo menor oportunidade de acesso aos exames preventivos e maior chance de desenvolver uma neoplasia maligna com maior grau de comprometimento.4 A braquiterapia é um tratamento eficaz e seguro, assim, reforça-se  a importância da oferta desta terapêutica à população catarinense pelo  Centro de Pesquisas Oncológicas teve nesse período. Atualmente, Santa Catarina oferta a braquiterapia de alta taxa de dose às mulheres com câncer ginecológico em três instituições, localizadas em Florianópolis, Blumenau e Chapecó. Considerações finais: como limite deste estudo aponta-se a investigação exclusiva à macrorregião da Grande Florianópolis e a não aplicação de testes inferenciais. Entretanto, pode-se perceber que os resultados encontrados se assemelham aos estudos epidemiológicos internacionais, destacando-se a topografia mais incidente do câncer ginecológico, a idade e o estadiamento.  Assim, os resultados aqui apresentados podem auxiliar na gestão em saúde que evidencia fortemente a necessidade do rastreamento do câncer do colo do útero, os acompanhamentos em saúde para diagnóstico precoce dos outros tipos de cânceres ginecológicos, a necessidade de educação em saúde e acesso aos serviços de saúde, além do cuidado de enfermagem especializado em braquiterapia, considerando o número de mulheres acometidas, expostas às complicações do tratamento e às mudanças na qualidade de vida e sobrevivência ao câncer.

Biografia do Autor

Luciana Martins da Rosa, Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC

Graduada em Enfermagem (1991). Especialista em Projetos Assistenciais pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) (1996). Especialista em Enfermagem Oncológica pela Sociedade Brasileira de Enfermagem Oncológica (2005). Mestre (2007) e Doutora em Enfermagem (2011) pela UFSC, área de concentração: Saúde, Sociedade e Filosofia. Enfermeira do Centro de Pesquisas Oncológicas entre 1992 e 2012. Docente do Curso de Graduação em Enfermagem da UFSC desde 2012; Docente do Programa de Pós-Graduação em Gestão do Cuidado em Enfermagem - Mestrado Profissional desde 2015, Doutorado Profissional desde 2019. Editora Associada da Revista Texto & Contexto Enfermagem entre 2015 e 2019. Membro do Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos do Centro de Hematologia e Hemoterapia de Santa Catarina desde 2013. Atividades de pesquisa voltadas para: oncologia, hematologia, hemoterapia, processo de viver humano, cuidado de enfermagem, doenças crônicas não transmissíveis. Atividade de extensão voltadas ao ensino em enfermagem, oncologia, doenças crônicas não transmissíveis, ética em pesquisa. Experiência na área de Enfermagem, com ênfase em Enfermagem Oncológica, destacando-se os seguintes temas: cuidado de enfermagem, educação permanente, sistematização da assistência de enfermagem, câncer, prevenção do câncer, mulher com diagnóstico de câncer de mama e do colo do útero. Vice Líder do Laboratório de Tecnologia, Pesquisa e Inovação Cuidando & Confortando - UFSC. 

Publicado
27-04-2024