PERCEPÇÕES DE PACIENTES EM HEMODIÁLISE SOBRE QUALIDADE DE VIDA

LIMITAÇÕES COTIDIANAS DE PACIENTES EM HEMODIÁLISE

Autores

  • Gabriela Bertochi
  • Vanessa Nicodem
  • Franciele Rasch
  • Gabrieli Cella
  • Camila Amthauer

Resumo

Introdução: A insuficiência renal crônica (IRC) é um sério problema de Saúde Pública e se caracteriza por elevada incidência de morbimortalidade1. Frente ao diagnóstico de IRC, é necessário adotar condutas para o tratamento apropriado, através do uso de terapêuticas que substituem a função renal, dentre elas o tratamento conservador, a diálise peritoneal, a hemodiálise e o transplante renal, tendo como objetivo aliviar os sintomas e sinais da doença, além de preservar e melhorar a qualidade de vida dos pacientes, mas sem caráter curativo2. A terapia mais utilizada é a hemodiálise, sendo os pacientes submetidos a esse procedimento por toda a vida, ou até sujeitarem-se a um transplante renal de sucesso. Desta forma, a hemodiálise requer adaptação e adesão ao tratamento, por ser uma alternativa essencial para a manutenção da vida3. A hemodiálise passa a ser uma dificuldade ao paciente pelo impacto provocado sobre sua qualidade de vida, visto que é um procedimento que o debilita. Além da fragilidade física, traz, da mesma forma, implicações no aspecto psicológico. Objetivo: Identificar os principais fatores que interferem na qualidade de vida dos pacientes em hemodiálise. Metodologia: Trata-se de uma pesquisa de abordagem qualitativa, descritiva-exploratória, realizada com dezessete pacientes diagnosticados com IRC, em tratamento de hemodiálise em uma Clínica Renal do extremo oeste catarinense. A coleta de dados transcorreu em julho de 2018, com o emprego de uma entrevista semiestruturada, de caráter individual. As entrevistas foram gravadas em aparelho digital, com o consentimento do paciente, registrando integralmente a fala, assegurando um material autêntico para análise. Para a análise dos dados, foi utilizada a análise de conteúdo do tipo temática, proposta por Minayo. O estudo respeitou os preceitos éticos de pesquisa, em conformidade com a Resolução nº 466/2012, do Conselho Nacional de Saúde. O projeto de pesquisa foi aprovado por meio do Parecer Consubstanciado emitido pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade do Oeste de Santa Catarina, sob o CAAE número 91175918.3.0000.5367 e Parecer número 2.739.414 Resultados e Discussão: Dos resultados obtidos com a análise emergiram dois temas: percepções e sentimentos de pacientes em hemodiálise e limitações cotidianas de pacientes em hemodiálise. Percebeu-se que a qualidade de vida dos pacientes em hemodiálise é impactada por uma série de fatores interrelacionados que acabam limitando a forma como eles vivem, gerando uma série de modificações em sua rotina em virtude do tratamento que realizam. Percebe-se através das falas que as percepções sobre qualidade de vida, associada à hemodiálise, é fortemente impactada pelos efeitos colaterais ocorridos durante ou após as sessões da terapia dialítica. Os entrevistados retrataram que o tratamento a que são expostos é mais fatigante do que qualquer outro serviço da rotina de um indivíduo normal pois, apesar da máquina fazer o trabalho por eles, é deles que depende o esforço e controle fisiológico para um procedimento de sucesso. Os pacientes renais acreditam que a sua existência depende basicamente de uma máquina, sendo diariamente obrigados a conviver com as limitações da patologia e do tratamento renal, afetando sua autonomia e estilo de vida, principalmente na vivência social e familiar. Também acreditam que sua existência depende da cautela em relação a hemodiálise, em função das complicações que podem ocorrer durante as sessões, possuindo em evidência o contato ininterrupto com o perecimento, ou seja, o usuário dispõe da possibilidade de viver e morrer, mesmo estando em terapia dialítica. Desta forma, é necessário que o paciente adote um regime terapêutico, transformando seu estilo de vida sob a determinação de restrições e conflitos pessoais e sociais. A alteração mais destacada apresentada foi a delimitação do tempo como a prática das atividades usuais de trabalho e lazer, em razão da maior parte do dia/semana ser destinada aos cuidados hemodialíticos, como o período (horas) de diálise, deslocamento até a clínica, efetuação de exames periódicos, dentre outras causas. A hemodiálise não afeta apenas o estilo de vida e a rotina pessoal, mas também interfere intensamente no convívio social, perturbando e bloqueando o estabelecimento de relações interpessoais, de modo que por vezes, membros da comunidade, família e/ou amigos afastam-se do paciente, excluindo-o mesmo que indiretamente, da participação na sociedade. Evidentemente, o apoio social é imprescindível para o consentimento do tratamento, pois o acolhimento é capaz de transformar a realidade em benefício da saúde, além de permitir que o ser humano seja visualizado integralmente e não somente como portador de uma doença. O relacionamento social concebe o equilíbrio pessoal, sentir-se amado, respeitado e apoiado, reflete ao paciente renal o princípio de normalidade, influenciando no conforto diante das pessoas e emergindo em atitudes positivas de êxito diante de adversidades4. Consideravelmente, a efetivação da terapia dialítica somente transcorre com êxito se houver acessos hemodialíticos funcionantes e apropriados, sendo, basicamente, responsabilidade do paciente em atender e praticar essas premissas. Os participantes relatam a dificuldade em manter prudência na ingestão de alimentos e líquidos e como se sentem perturbados frente a isso, ao mesmo tempo que conotam ao estado nutricional um motivo de preocupação e acaba sendo uma mudança geralmente brusca em sua vida costumeira. A hemodiálise também intervém completamente no lazer dos pacientes, visto que limita a vivência social em virtude do atendimento das exigências, restrições e cuidados necessários para eficácia da terapia, pois precisam ter cuidados essenciais quanto à ingesta hídrica e alimentar, bem como necessitam estar presentes no tratamento várias vezes por semana, interrompendo a relação com a comunidade, família e amigos. Assim, tais demandas contribuem para o afastamento dos indivíduos de suas atividades prazerosas. Além disso, a duração e periodicidade das sessões de hemodiálise provocam alterações físicas ao paciente, determinando a dificuldade de executar práticas laborais e de lazer, outros fatores como a fadiga, a atonia e o mal-estar geral após as sessões de hemodiálise, impedem as atividades de lazer, definidas basicamente por correr, pedalar, nadar, dentre outras, sendo necessário para tanto, primeiramente a recuperação do paciente5. A terapia hemodialítica, na percepção do paciente é visualizada como um elemento inoportuno que interfere de forma abrupta da sua liberdade, tornando-se difícil apropriar o tratamento com as atividades de lazer, ocasionando mudanças de hábitos e perturbações na sua vida. As respostas obtidas dos pacientes revelam que diante dos numerosos sentimentos e experiências ruins vivenciadas na hemodiálise, a esperança de um transplante realça e enriquece o enfrentamento terapêutico para a IRC. A partir do momento que foram incrementados na lista de espera, constata-se que não aguardam somente por um rim, estão ansiosos aguardando essencialmente uma nova fase, não aliada à uma máquina, mas ao prazer de rememorar uma vida normal. Considerações finais: Apesar da hemodiálise tornar a vida dos doentes renais difícil, os mesmos veem a hemodiálise como a única alternativa para continuar vivendo, mesmo que limitadamente. Percebem e consentem que poderia ser pior se equiparado a outras patologias mais destrutivas e, apesar disso, avaliam sua qualidade de vida como boa, mesmo que exteriorizando clara e fortemente que esse tratamento afeta sim sua qualidade de vida, ora positiva, ora negativamente. Para tanto, a Enfermagem é a pedra angular para alcançar uma melhoria na vida desses pacientes, por ser a faceta entre o doente, instituição, família e comunidade, sendo estas, partes fundamentais para a aceitação e adesão à hemodiálise.

Publicado

28-04-2024