SENTIMENTOS E ESTRATÉGIAS DE ENFRENTAMENTO AO DISTANCIAMENTO SOCIAL PELA COVID, DE ACORDO COM ACADÊMICOS DE ENFERMAGEM
Resumen
Introdução: Diante da pandemia atual, os governos municipais e estaduais, como uma forma de conter o avanço do contágio pelo novo coronavírus (COVID-19) investiram em medidas de distanciamento social, limitando atividades públicas e aglomerações, suspendendo temporariamente serviços, como escolas e universidades, comércios e serviços públicos não essenciais, e induzindo a população a permanecer em suas residências(1). Com isso, este cenário acarreta alguns questionamentos e repercussões psicológicas, principalmente no que se refere às emoções que podem estar envolvidas, como o estresse, ansiedade, depressão, negação, insônia, raiva e medo em relação ao que é desconhecido e as implicações que esse problema pode trazer(2). O afastamento das atividades acadêmicas por tempo indeterminado devido essa pandemia é um fator externo que pode colaborar com o aparecimento e/ou a potencialização de sentimentos como ansiedade, depressão e estresse nos estudantes, podendo impactar negativamente na qualidade de vida desses acadêmicos, desestimulando a manter uma rotina equilibrada, mesmo que durante o isolamento social. Objetivo: Identificar os sentimentos dos acadêmicos de enfermagem frente ao distanciamento social pela COVID-19, bem como suas estratégias de enfrentamento. Metodologia: Estudo quantitativo, descritivo, transversal, desenvolvido entre acadêmicos do curso de enfermagem de uma Universidade pública do estado Paraná, Brasil. O estudo envolveu 87 acadêmicos matriculados no curso de Enfermagem, independente do ano, e que fazem parte dos grupos de transmissão eletrônica do curso (e-mail e aplicativo de mensagens), por onde o contato foi estabelecido. Assim, a coleta de dados ocorreu entre os meses de abril e maio de 2020, por meio de formulário eletrônico, encaminhado via e-mail e aplicativo de mensagens aos participantes. Estes realizaram o aceite de participação, assinando ao Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), antes de iniciarem as respostas do formulário. Todas as normativas da Resolução 466/2012, do Conselho Nacional de Saúde (Brasil, 2012) foram atendidas. O presente estudo faz parte de um estudo matricial denominado “Qualidade de vida relacionada à saúde e suas vertentes: investigação do impacto positivo e negativo sobre a vida diária do ser humano”, aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Unioeste, sob o número CAAE 84505918.6.0000.0107, Parecer nº 2.588.565 de 09 de abril de 2018. Foi utilizado um formulário para caracterização sociodemográfica dos participantes, já utilizado em outras investigações entre acadêmicos de enfermagem. Em acréscimo a isso, disponibilizaram-se questões abertas sobre seus sentimentos em relação a si e suas percepções frente a esse momento de pandemia, além dos sentimentos gerados. Os dados coletados foram compilados em planilhas do Microsoft® EXCEL 2010, e posteriormente, processados e analisados no programa Statistical Package for the Social Sciencies (SPSS) versão 23.0. As informações sobre a caracterização dos acadêmicos foram apresentadas de forma descritiva e inferencial. As respostas das questões não estruturadas foram organizadas por categorias, baseadas em suas “falas” (registros). Resultados: Participaram da pesquisa 87 alunos do curso de Enfermagem da Unioeste, campus Cascavel, PR, no ano de 2020, sendo 17 (19,5%) alunos do primeiro ano, 28 (32,2%) alunos do segundo ano, 22 (25,3%) do terceiro ano, 10 (11,5%) alunos do quarto ano e 10 (11,5%) alunos do quinto ano. Quando questionados sobre o que mais tem os incomodado durante o isolamento social, 30% das respostas se referiam a medida de distanciamento social, já que com isso, não poderiam se encontrar com amigos e familiares como antes faziam, o que para 3% dos participantes tem servido para valorizar mais as atitudes afetuosas como, abraços e carinho. Já, para 7% dos alunos a falta da rotina agitada da faculdade e as aulas, tem sido o que mais as incomoda, além disso, 9% relatou estar preocupado em relação ao seu futuro acadêmico, e 5% expuseram estarem incertos quanto à formatura, tendo questionamentos sobre quando poderão se formar, por exemplo. Preocupações financeiras também foi relatado como motivo de incomodo e preocupação por 3% dos participantes. Quando analisado sobre como tem sido o enfrentamento desse momento de distanciamento social, 19% dos acadêmicos relataram sentimentos de medo (6%), estresse (5%), tristeza (4%), ansiedade (2%) e agonia (2%), o que acarreta também a outros sentimentos referidos pelos participantes como, o tempo muito ocioso (7%), falta de disposição (13%) e dificuldade de concentração (2%). Foi possível notar que não houve referência a sentimentos de impacto positivo ou agradável, à primeira vista, pois, segundo os alunos, o momento pandêmico atual traz muita incerteza em relação a todos os âmbitos da vida, e este pode atuar como o desencadeador dos outros sentimentos relatados. Com isso, 30% responderam que não tem conseguido se manter otimista nesse período, entre os motivos relatados, 5% é por conta da insatisfação perante a atual situação governamental e sua má administração frente à pandemia, e 16% se sentem desmotivados com a ignorância, falta de empatia e o descaso de outras pessoas perante às medidas e cuidados necessário nesse momento. Nessa mesma direção, 25% relataram que às vezes se sentem otimistas, e que isso varia muito, pois apesar de tentarem manter pensamentos positivos e esperançosos, quando leem ou assistem algum noticiário sobre a pandemia, o número de mortes e o descaso da população, acabam por desmotiva-los, mesmo que por apenas um período do tempo. Por tanto, estes sentimentos acabam gerando uma situação desfavorável e desmotivadora para estes participantes conseguirem se manter otimistas e enfrentarem esse momento pandêmico. Apesar disso, 44% respondeu que sim, tem conseguido se manter otimista para o enfrentamento desse momento de isolamento social, embora não seja fácil, mas que por meio de atividades como, ler (20%), ouvir músicas (20%), assistir filmes e séries (25%), brincar com seus animais de estimação (5%), praticar atividades físicas (6%), cozinhar e cuidar da casa (12%), dormir (9%), foi possível se manterem calmos e otimistas para enfrentarem esse período. Além disso, outras estratégias como, a pratica do autocuidado (8%), meditação e oração (15%), ficar e ter conversas com a família e/ou amigos (25%), uso diário de chás (5%) para acalmar e ajudar a dormir e atividades para relaxar como exercícios de respiração (14%), o trabalho também foi referido como algo benéfico por 4% dos participantes, assim como, o ato de chorar, em que 6% relatou que isso os ajuda nos momentos difíceis. Considerações finais: Frente a esse estudo foi possível notar que os sentimentos mais relatados pelos acadêmicos durante o período de isolamento social foram medo, tristeza e estresse, que têm como desencadeador a incerteza em relação ao futuro pessoal e acadêmico dos participantes, em vista que, o momento pandêmico atual não tem precedentes, isso pode potencializar as inseguranças acerca da vida e futuros planos. Dentre as estratégias citadas para o enfrentamento desse período de distanciamento social, conversar e ficar com a família e/ou amigos, meditação e/ou oração, e atividades de distração, como assistir filmes e séries, foram as mais utilizadas. Além disso, esses momentos com a família, melhoraram consideravelmente os relacionamentos entre pais e filhos, principalmente, já que muitos alunos tiveram que retornar para a casa de seus pais durante a pandemia, assim como, as atitudes de afeto, como os abraços, passaram a serem mais valorizadas pelos participantes, que alegam estarem sentindo falta do contato humano. Novos estudos com objetivos que ampliem o entendimento dos sentimentos e medidas de enfrentamentos durante o período de isolamento social já estão sendo providenciados como continuidade dessa investigação ora apresentada.
