OS FATORES LIMITANTES PARA A IMPLEMENTAÇÃO DA CONSULTA REMOTA NA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE
Resumo
Introdução: A Atenção Primária à Saúde (APS) tem recebido importante destaque no Brasil, nos últimos anos, sobretudo pelo processo de descentralização e ampliação da cobertura assistencial 1. Para minimizar as desigualdades assistenciais e de acesso à saúde, o Brasil segue o caminho da globalização através da telemedicina com a consulta remota ou telessaúde, no qual podem ser definidas como o uso de tecnologias informacionais para a comunicação em saúde, ampliando a cobertura de atenção à saúde, e viabilizando serviços em saúde 1. Os programas de telessaúde ou consulta remota superam barreiras físicas para fornecer cuidados em saúde, sendo implementado a um custo e escala razoáveis, desempenhando um papel estratégico na consolidação das redes de saúde, assim através da telessaúde pode-se sustentar a continuidade do atendimento à pacientes durante medidas físicas de distanciamento 2. No entanto, a cobertura de consultas remotas não se dá de forma equânime em toda atenção primária em saúde, dessa forma, saber quais são as fragilidades ao uso pleno do serviço de consulta remota é uma etapa essencial para o alcance de melhores resultados na APS, uma vez que tal serviço configura-se como uma eficaz ferramenta, principalmente para regiões carentes e remotas 1. Objetivo: Identificar os fatores limitantes da implementação da consulta remota na APS. Metodologia: Trata-se de uma revisão integrativa da literatura desenvolvida no período de junho a julho de 2020. Os Descritores em Ciências da Saúde (DeCS) utilizados foram: Telemedicina, Atenção Primária à Saúde e Consulta Remota, com o operador booleano AND na base de dados da Biblioteca Virtual em Saúde (BVS). Os critérios de inclusão são: artigos de campo publicados entre 2016 a 2020, nos idiomas inglês, português e espanhol. E como critérios de exclusão: literatura cinzenta, teses, dissertações, artigos de reflexão e revisão da literatura. Sendo pautado pela questão norteadora do estudo “Quais são os fatores limitantes para a implementação da consulta remota na APS?’’. Para a seleção das publicações primeiramente foi realizada a leitura dos títulos e resumos, seguido da leitura do artigo na íntegra, posteriormente foi realizado a seleção das publicações que atendessem aos critérios de inclusão. Os dados extraídos de cada artigo foram sintetizados a fim de identificar os parâmetros de comparação entre os estudos. A análise dos resultados foi na ordem descritiva, pautada na questão norteadora da revisão. Resultados e Discussão: Foram encontrados 19 artigos na base de dados selecionada, sendo excluídos 12 artigos por não atenderem aos critérios de inclusão e/ou não se tratarem do tema em questão, obtendo assim, uma amostra final de 7 artigos. Através da análise dos artigos foram identificados alguns fatores limitantes para a implementação da consulta remota. Cinco (71,4%) dos artigos apontaram problemas de infraestrutura e dificuldade de acesso à internet para a operacionalização da consulta remota na prática clínica 1-5. Conforme os autores, o problema de infraestrutura está amplamente ligado com a não utilização da telemedicina, uma vez que o serviço não dispõe de um local adequado para a realização da mesma e não há uma adesão da equipe para a realização adequada da consulta remota. Três (42,9%) evidências identificaram falta de equipamentos de informática adequados 1-2,4, assim, a carência de equipamentos adequados torna-se um atraso informacional para a unidade de saúde 4. Evidencia-se que em determinados momentos há recursos informáticos, porém há a dificuldade de acesso à internet demonstrando que vários aspectos devem estar operantes para que haja uma melhor assistência à saúde, inclusive em locais de zona rural, onde o alcance informacional é precário, ou até mesmo inexistente. A ausência de manutenção ou ausência de materiais para a operacionalização da consulta remota, infere que os gestores municipais, estaduais ou federais ainda não obtiveram recursos suficientes para ampliar a infraestrutura dos serviços de saúde. Acredita-se que os gestores estão cientes da importância de buscar recursos para a aplicabilidade efetiva da consulta remota, pois legislações da saúde pública almejam uma rápida comunicação entre equipe, rede de saúde e profissionais, obtendo uma APS mais rápida e resolutiva 5. Três (42,9%) artigos identificaram a dificuldade do uso do sistema de consulta remota e falta de treinamento e adesão dos profissionais quanto ao uso adequado da ferramenta de consulta remota pelos profissionais da saúde 1,3-4. Conforme um dos estudos, a falta de familiarização dos profissionais com meios tecnológicos durante a assistência, torna-se um fator dificultador ao uso das mesmas 1. O desconhecimento da utilização desse recurso bem como seus benefícios mostra a carência de treinamento e orientação dos profissionais para a utilização. Mesmo identificando fatores limitantes para a operacionalização da consulta remota na APS, a teleconsulta é considerada como promissora no atual cenário de pandemia, visto ser preconizado o distanciamento social e a continuidade da assistência à saúde. A mesma atende em seu pleito essa demanda e também auxilia na continuidade do monitoramento desses indivíduos, a ferramenta mostra-se como uma alternativa inovadora, segura e rápida, assim, prevê-se que os fatores limitadores sejam reavaliados e colocados em pauta de autoridades governamentais, para assim, obter uma ferramenta assistencial de qualidade. Considerações finais: Os resultados desta revisão não identificaram as limitações referentes a acessibilidade da consulta remota por parte dos usuários. Entretanto, identificou-se limitações referentes a falta de equipamentos de informática, dificuldade do uso do sistema de consulta remota, falta de treinamento dos profissionais, problemas de infraestrutura e dificuldade de acesso à internet os quais também podem ser, parcialmente, relacionados com as limitações dos usuários em aderir a consulta remota. Acredita-se que tais limitações identificadas nos artigos possam ser minimizadas em tempos de pandemia, visto ser necessário adequações do cuidado à saúde na APS e reestruturação da política de telessaúde. Deste modo, acredita-se que tais fatores limitantes não sejam estanques e assim através do investimento para a estruturação, capacitação e promoção da consulta remota, essa modalidade de consulta venha a ganhar força no Brasil, uma vez que o seu uso irá trazer benefícios às consultas para a população.